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John viu o forasteiro caminhar pela rua enquanto as pessoas fugiam. Seu sangue gelou, não de medo, mas de ódio. Tinha quase certeza do que aquele homem viera fazer na cidade… até que ele simplesmente passou ao lado do jovem sem esboçar qualquer reação. Foi como se John estivesse invisível.

Com uma respiração funda, ele ajeitou as sacolas no colo e atravessou a rua. John apenas corrigia quando era chamado de Jane. Não era muito educado para isso, mas nunca falava nada além de seu nome.

Enquanto aproximava-se de sua pequena carroça, perguntava-se sobre quem era e o que queria esse homem. Se o ignorou, talvez não fosse pago pelo prefeito…

Ao menos, ainda não. John largou as sacolas de mal jeito na carroça e antes de acomodá-las, viu os homens do prefeito cercarem o forasteiro. Eram caras pálidas altos e fortes, com cara de poucos amigos.

A coisa nunca era bonita quando os capangas do prefeito chegavam durante o dia. Geralmente um homem sangrava. Quando vinham a noite, era a vez das mulheres sofrerem.

John disfarçou para ouvir a conversa, mas todos falaram muito baixo. Todavia, o círculo em torno do forasteiro demorou muito mais que o esperado para um convite de conversa, com eles ou com o prefeito. De costa oara John, o jovem apenas via as curtas negativas do chapéu de vaqueiro.

A conversa foi longa. Mas concluiu-se com o forasteiro acompanhando os caras pálidas… sozinho, com as próprias pernas e os braços livres.

*

A casa do prefeito era quase tão grande quanto o hotel. Feita de alvenaria de qualidade, muito diferente das casas simples que se avizinhavam. Toda mobiliada e decorada de forma suntuosa. Mas, apesar disso tudo, era uma casa vazia.

Fotografias em excesso demonstravam as condições financeiras da família, enquanto o forasteiro mal lembrava-se da única foto que tirara na vida: em um circo de horrores, quando criança. Esses retratos eram a única coisa que revelava moradores da casa.

Cada móvel e cada alegoria estava impecavelmente no lugar, sem pó ou marcas de uso. Nem os empregados eram vistos, mas o forasteiro podia ouvi-los esgueirando-se, silenciosos como ratos, em seus afazeres. Mesmo os bastante expostos homens do prefeito pareciam desconfortáveis em suas posições, como que pisando em ovos.

Todos ali eram caras pálidas, exceto os empregados da casa e do campo. Estes eram diversos, certamente ex-escravizados que não encontraram melhor oportunidade de substância. Cada uma destas pessoas sentia medo de seu patrão. O forasteiro pode perceber que nem seus homens de confiança o respeitavam.

O grupo atravessou a casa em silêncio até a porta do escritório. De madeira de lei, era mais ornamentada que qualquer outra da casa, mesmo a de entrada. Quando se abriu, concedida a permissão, o forasteiro pode ver a face do homem que lhe convocara: primeiro, em um imenso quadro pintado a óleo de seu rosto e tórax; e só depois da pessoa real.

O prefeito era mediano para um cara pálida. Barrigudo, mas nada sedentário. Usava roupas de vaqueira em cores escandalosas e tecidos caros, e o forasteiro pode ver pelos desgastes próximo às axilas que aquele casaco de veludo bordô era o favorito daquele homem.

- Ouvi falar muito de você, forasteiro - disse, estendendo a mão ao leprechaun.

- É um prazer - a formalidade soou intencionalmente falsa.

O prefeito apontou uma cadeira baixa à frente da escrivaninha. Deu a volta no móvel e sentou-se em uma cadeira com encosto largo e alto, ornamentada em dourado.

- Soube que está hospedado no saloon. Espero que o velho Brown não tenha sido muito desagradável.

- Não houve problemas.

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