2.

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-Eu vou matar o Bokuto - resmunguei para mim mesma pela décima vez, enquanto segurava um saco de gelo na testa.

No final das contas não desmaiei, só fiquei um pouco tonta e depois de muita insistência do Kenma peguei um saco de gelo para minha cabeça.

-Já estamos quase chegando, aí você mata ele pessoalmente - Kenma resmungou enquanto dirigia pela avenida - E eu me livro de você.

-A presença também é torturante para minha pessoa, acredite! - resmunguei de volta, fazendo careta para ele.

Meu celular vibrou e eu apenas olhei a mensagem já imaginando de quem era, bloquei o telefone assim que confirmei. Respirei fundo e guardei o aparelho de volta na bolsa, não iria ficar mal pelos meus problemas, não hoje. Eu precisava esvaziar a cabeça, eu merecia paz. Depois de tudo, eu precisava de um pouco de paz.

O resto do trajeto foi supreendentemente bom, já que Kenma colocou Chase Atlantic para tocar e o silêncio entre nós se tornou estranhamente agradável. Claro que as vezes ele fazia alguma piada idiota, apenas para me irritar, e é claro que eu retribuía, arrancando alguns sorrisos do garoto.

Ele tinha um sorriso triste, mas era o sorriso triste mais bonito que eu já vi.

Eu só conhecia ele de nome, já que o garoto era bem conhecido, mas eu nunca tinha o visto de fato. Pelo que soube, ele é melhor amigo do Kuroo e estuda no Nekoma. É levantador do time de vôlei de sua escola, o que justificava uma parte da sua fama, afinal todas as garotas tanto do meu colégio quanto dos outros, eram apaixonadas pelos jogadores de vôlei da região. Eles já tinham ido pro nacional e ganhado vários prêmios, mas a realidade por trás de tanta admiração, era que a quantidade excessiva de treinos os deixava com um corpo super sarado. As garotas choviam em cima deles, já perdi a conta de quantos foras o Bokuto deu esse ano.

Podrezinhas, mal sabiam elas que nunca teriam chance.

Retornei meus pensamentos para a realidade quando vi que estávamos chegando, observei de canto mais uma vez o garoto ao meu lado, e só conseguia pensar em como alguém podia ficar tão bonito dirigindo?

Paramos em frente a casa de Kuroo, e Kenma colocou a mão no encosto do meu banco, se inclinando para trás, para ter uma visão melhor enquanto dava ré no carro. Mas esse movimento fez seu rosto ficar próximo demais do meu, e que maldito rosto ele tinha.
Ele cheirava muito bem, seu perfume estava em tudo, seu cabelo parecia mais bem hidratado que o meu, e seus olhos eram mais lindos ainda de perto.

Senti um arrepio percorrer todo meu corpo enquanto analisava seus traços, senti seus olhos de encontro aos meus e antes que eu pudesse disfarçar, fiquei vermelha.

E é claro que ele notou, e é claro que ele não ia ignorar isso, já que aparentemente esse garoto me odiava.

-Fica bem mais bonita assim, gatinha. Acho você bem irritante quando não cala boca. - Kenma disse baixo ainda me encarando, mas com um sorriso ladino no rosto.

Antes que eu pudesse responder, o garoto se afastou rindo, terminando de estacionar o carro com calma e precisão. Revirei os olhos como resposta e antes que conseguisse abrir a porta do carro para sair, senti uma mão na minha. Senti um leve choque pelo seu contato, parecia que eu nunca tinha tocado a mão de ninguém antes. Fiquei encarando o loiro esperando ele falar alguma coisa, mas pude ver que ele estava em transe também.

-Tá doendo?- Kenma perguntou finalmente, quebrado nosso silêncio, e olhando para minha testa.

Ele parecia preocupado.

-Não, já parou de doer - disse desviando o olhar e tentando não ficar vermelha de novo.

O que estava acontecendo comigo? Eu? Ficando vermelha pela segunda vez? Com a mesma pessoa?

-Isso é bom, mas é melhor ficar de olho. - ele prosseguiu, ainda com o tom de preocupação.

-Eu to bem, Kenma- disse finalmente olhando em seus olhos, tentando parecer mais relaxada. - Vamos logo que eu ainda preciso matar uma coruja hoje.

Ele sorriu de canto e concordou com a cabeça, descemos do carro e caminhamos lado a lado até a entrada.

Do lado de fora já podia se ouvir a música alta e a gritaria da festa, e eu me perguntei pela décima vez o que estava fazendo ali, junto daqueles jogadores irritantes.

-Hinaaaaa- Ouvi uma voz familiar me chamar assim que pisamos na casa.

-Oi, Hinata- disse sorrindo, vendo que a voz era do meu ruivo favorito.

Hinata era uma bolinha de energia, e eu adorava isso nele. Já estava pronta para um abraço, quando Hinata mudou a direção do seu pulo para o garoto do meu lado.

-Kenma? Você também veio? Não sabia se você viria! Quem te convenceu a sair de casa? - Hinata disparou em perguntas enquanto pulou no garoto - Você não me responde há dias, eu baixei aquele jogo que você falou e eu tô preso em uma fase muitoooo difícil!

POV KENMA
Enquanto Hinata me enchia de perguntas, notei a garota do meu lado ficar cada vez mais irritada. Ela parecia com ciúmes já que Hinata estava indo na direção dela, e mudou completamente quando me viu.

Ela ficava fofa assim.

Hina era interessante, gritava e brigava por qualquer coisa como uma completa maluca, mas aquilo me deixava intrigado. Afinal, parecia ter muito mais que uma pessoa barulhenta atrás daqueles olhos.

Os olhos dela

Como descrever aqueles olhos? Confesso que eles quase passaram despercebidos por mim, parecem alegres e cheios de energia de longe, mas se você olhar com cuidado vai ver a escuridão escondida neles.

Os olhos tristes mais lindos que já vi.

Fiquei preocupado quando vi que tinha machucado ela com a porta, e também senti interesse quando observei sua respiração ficar pesada quando seu celular apitou.

Isso era novo, eu raramente me preocupo com alguém.

-Ei, Hinata- eu disse puxando o garoto- Tem uma bola de vôlei no porta malas do Bokuto, quer?

Falei estendendo a chave do carro pro menor, e seus olhos brilharam. O ruivo pegou as chaves da minha mão e correu em direção ao carro. Me aproximei com calma da garota que parecia querer me matar com o olhar.

-Não fica brava, gatinha. - disse irritando ela - Nos dois sabemos que eu sou muito mais legal que você.

-Me erra, Kenma- ela disse revirando os olhos e entrando na festa.

Ri baixo da sua resposta, e observei ela se afastar e ir atrás do Bokuto. Ela logo o encontrou e confesso que assistir a cena foi muito divertido. Os dois gritavam um com o outro até que ela apontou para testa e depois para mim, provavelmente contando sobre o incidente com a porta. Bokuto começou a chorar como uma criança, ele se ajoelhou nos pés dela, como quem implorava por desculpas.

Ri baixo mais uma vez, sem conseguir desviar a atenção dela, mas Hinata logo apareceu com a bola e a chave do carro do Bokuto, me obrigando a olhá-lo.

-Você vai jogar, Kenma?- os olhos do ruivo brilhavam em expectativa.

-Agora não Hinata, mas aposto que seu namoradinho não vai recusar uma partida - disse entrando na festa com ele.

Para ser sincero, eu raramente recusava jogar com o Hinata, sempre foi interessante jogar com ele, mas eu estava concentrado demais em outra pessoa no momento.

-Kenma, fala baixo! - Hinata me repreendeu.

-Desculpe, mas mesmo não sendo seu namorado porque você é medrosos demais - disse baixo só para ele ouvir- Tenho certeza que ele não vai recusar jogar com você.

Hinata sorriu de canto, feliz com o que eu havia dito.

Ele estava completamente apaixonado pelo Kageyama, desde que perdeu para ele no juvenil o ruivo não conseguia pensar em outra coisa. Seu mundo era o levantador, e eu invejava isso.

Não que eu gostasse do Hinata, mas eu invejava essa conexão. Ter uma pessoa, ser de uma pessoa, ter algo tão forte que você não consegue evitar nem esconder. É bonito, bem bonito.

Deve ser bom sentir isso

Nobody like u | Kenma Kozume Onde histórias criam vida. Descubra agora