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POV KENMA

-Você precisa se decidir, Kozume. - meu irmão disse enquanto almoçamos.

-Eu já me decidi, eu não quero nada disso. Essa merdas não são minhas, Yuri. - respondi seco.

-Eu preciso de você, não pode passar o resto da vida brincando de jogar vôlei com aqueles moleques. - Yuri disse enquanto dava um gole no seu uísque.

Meu irmão mais velho tinha tudo que eu odiava em mim, todas as partes escuras dentro de mim vieram dele. Ele me ensinou a analisar os olhares de cada pessoa, descobrir suas intenções sem ao menos conhecê-las.
Me fez crescer acreditando que eu não podia confiar em ninguém, que todos sempre se aproximavam porque queriam algo de mim.

-A minha vida ainda é minha, Yuri. - respondi me levantando da mesa.

-Você tem deveres, Kozume. - ele respondeu ríspido - Seja homen e assuma suas responsabilidades.

-Minha reposta continua a mesma, Yuri. Se você não aceitar minha decisão, vou falar com o advogado da família e pegar a minha parte.

-Amanhã vou te levar na empresa mais uma vez, os sócios querem sua presença. - ele continuou, ignorando minha fala.

-Que seja. - dei as costas para ele e caminhei até meu antigo quarto.

Quando nossos pais morreram, se tornou insuportável nossa convivência. Peguei minhas coisas depois de alguns meses e fui morar sozinho, tínhamos inúmeros imóveis pela cidade. Escolhi o mais simples e perto do colégio, e comecei a viver sozinho.

Yuri era 4 anos mais velho, e teve que assumir todas as empresas de nossos pais quando eles morreram. Os sócios relutaram por muito tempo de tê-lo no comando, todos conheciam meu irmão desde pequeno e sabiam de sua personalidade. Yuri Kozume sempre foi problemático, agia de forma impulsiva e tinha mania de querer controlar tudo a sua volta.

Nosso pai sempre foi rígido com ele, o forçando desde sempre a seguir seus passos. Nunca o dando escolha de algo diferente, fazendo meu irmão se tornar mais amargurado do que já era.

Agora ele tinha me obrigado a passar alguns dias na empresa, todos estavam cobrando ele da minha presença. Como a minha formatura estava próxima, eles queriam saber quando eu me juntaria a eles.

Mas eu nunca quis isso, nunca quis nada disso. Não queria isso nem pro meu irmão, já que quando éramos pequenos ele sempre dizia que queria ser piloto de corrida. Mas ele teve seu sonho tirado de si pelo nosso pai, e agora ele queria tirar a minha vida de mim.

Bufei irritado, me jogando na cama.

Eu odiava aquela casa, odiava meu passado e tudo que me lembrava dele.
Odiava que por um tempo admirei Yuri, e quis ser como ele.

————- FLASH BACK ON —————

-Fique aqui e observe, Kenma! - Meu irmão disse.

Estávamos no estacionamento da empresa do papai, Yuri disse que queria me ensinar uma coisa e eu logo o segui, como sempre fiz.

-Cuidado, Yuri. Não quero que o papai fique bravo com você de novo! - falei baixo, sentindo um arrepio percorrer todo meu corpo.

-É só não ser pego, Kenma. Pare de ser medroso e aprenda comigo! - ele disse confiante.

Yuri esperou os seguranças darem a volta e correu até a cabine do estacionamento, pegando as chaves do carro de Hiroshi, sócio fiel do nosso pai. Observei ele andar tranquilo até o carro, como se não estivesse agindo errado.

-Entra, Kenma! - ele disse abrindo a porta e sorrindo orgulhoso.

-Tem certeza, Yuri? Papai vai ficar bravo com você! - disse receoso.

-Ele nem vai descobrir, só vamos dar uma volta! - meu irmão entrou no carro, ligando o painel.

Engoli seco antes de entrar junto com ele, colocando o cinto de segurança e rezando para ninguém nos ver.

-O que vocês estão fazendo?! - o segurança apareceu correndo na nossa direção.

Yuri sorriu animado, dando partida no carro e passando por ele. Meu irmão acelerou saindo do estacionamento, nos levando para a avenida.

-Vamos lá, Kenma! - ele disse me balançando - Isso é uma máquina! Papai nunca me deixa pegar os carros dele, temos que aproveitar.

Sorri empolgado, me deixando levar pela emoção dele. Meus olhos brilhavam enquanto olhava para ele, Yuri era corajoso e não tinha medo de nada, eu queria tanto ser como ele.

-Vem, me dá seu pé! É sua vez. - Yuri disse se esticando e puxando meu pé.

-Eu só tenho 11 anos, Yuri! Eu não sei dirigir como você! - gritei nervoso.

-Pare de ser medroso, Kenma! - meu irmão colocou meu pé no acelerador e trocou de lugar comigo, segurando o volante enquanto eu sentava no banco.

Engoli seco e segurei o volante com medo. Eu já tinha dirigido algumas vezes, mas nunca tão rápido assim.

Meu irmão gritava orgulhoso, enquanto eu tentava manter o controle.

-Muito bem, Kenma. - ele disse pegando um cigarro do bolso.

-Fumar não é errado, Yuri? - perguntei olhando rápido para ele.

-Nada é errado, Kenma. - ele disse acendendo o cigarro e tragando - É a minha vida e eu faço o que quiser com ela.

Yuri esticou o cigarro na minha direção, me fazendo experimentar. Hesitei por um momento, mas queria ser como ele então puxei a fumaça sentindo minha garganta arder no mesmo instante.

Comecei a tossir como louco, vendo meu irmão rir de mim. Meu pulmão queimava com a fumaça, tirando minha atenção da rua.

-Kenma, o caminhão! - meu irmão gritou e só então olhei para frente, vendo um caminhão entrando na nossa direção.

Pisei no freio com toda força que tinha, sentindo o impacto da batida logo em seguida. Apaguei no mesmo instante, sentindo minha cabeça doer e latejar.

[...]

Acordei algumas horas depois no hospital, vendo minha mãe sentada no pé da cama com o computador no colo.

-Filho? Meu bebê? Aí meu deus! Ele acordou! - ela gritou assim que me viu abrindo os olhos.

-Mamãe? Cade o Yuri? - disse devagar, ainda sentindo muita dor.

Antes que ela pudesse reponder, ouvi os gritos do meu pai na sala do lado, ele berrava de um jeito que só fazia com Yuri.

-Você podia ter matado seu irmão! - ele gritava tão alto que todos naquele andar podiam ouvir.

-Você é um inconsequente de merda, Yuri! Por que não pode ser normal? Roubar o carro do meu sócio? Fazer seu irmão de 11 anos dirigir na avenida? Você é uma vergonha para o nome da sua família, para o meu nome!

————- FLASH BACK OFF —————

Entrei no banho para tirar minha mente daquelas lembranças, tirar toda aquela merda de mim.

Meus pensamentos se voltaram para Mahina, fazia alguns dias que eu não falava com ela. E por mais que eu tivesse vontade, não conseguia.

Uma parte de mim queria manter uma das únicas coisas boas da minha vida intactas, não queria juntar meu presente com meu passado.

Eu estava sentindo falta do cheiro doce dela, das suas piadas atrevidas e seu jeitinho irônico. Sentia falta de seus beijos demorados, e como ela me puxava para perto sempre que estávamos juntos.

Ouvi meu celular apitar assim que sai do banho, me enrolei na toalha e caminhei devagar até a cama.
Me estiquei para olhar o aparelho e senti meu coração parar no mesmo instante.

"Não sei onde caralhos você está, mas Mahina desmaiou na escola. Estou levando ela para o hospital com Akaashi, não sabemos o que ela tem."

Nobody like u | Kenma Kozume Onde histórias criam vida. Descubra agora