A luz na escuridão

Cap 4

Rosamaria

Estava sentada no carro com uma música baixinha, estava mergulhada em pensamentos. Será que algum dia teria coragem de contar para alguém além da psicóloga os motivos de ter mudado? A minha amizade com Carol um dia seria a mesma de antes? As meninas da seleção me aceitariam de volta, depois de um ano ignorando elas? Algum dia vou encontrar minha alma gêmea com tanto falam? O que eu fiz pra merecer passar por tanta dor e sofrimento?

Quando percebi já estava chorando, sentindo novamente aquela mesma dor rasgar meu peito, como já havia acontecido algumas vezes antes, não desejava nunca essa dor pra ninguém. Tomei um susto com batidas no vidro, mamãe me encarava com carinho.
Agradeci mentalmente pelos vidros serem escuros e limpei as lágrimas, saí do carro já abraçando minha mãe e meu pai, guardei as malas no carro e partimos para minha casa, comentava sobre alguns lugares que passávamos, eles ficaram encantados com cada detalhe, ficaram ainda mais chocados com a minha casa, pareciam duas crianças na Disney e eu claro só sabia rir. Como estavam cansados fomos em um restaurante de massas e depois fomos dormir.

Acordei na manhã seguinte já com dor de cabeça e angustiada por não poder acompanhar meus pais, na parte da manhã, em seus passeios, mas eles entendiam que eu tinha treino a semana toda. Decidi então compensá-los e preparei o café da manhã para quando acordassem, juntamente deixei um bilhete avisando que não sabia que horas chegaria. Peguei um lanche, coloquei na bolsa de treino e fui para o carro dirigindo até o CT, tudo isso no automático, não estava no clima para sair da cama naquele dia. Desanimei ainda mais quando avisaram ser treino físico, seguido de treino muscular e avaliação física.

Quando cheguei do treino estava morta, não me aguentei e fui direto relaxar com um banho, depois de muitos minutos reflexivos no chuveiro saí, me troquei colocando uma calça jeans clara, um blusa da Nike e um tênis, tudo simples para a tarde de aventura por Perúgia. Como o treino durou mais que o esperado falei para me encontrarem na "the Fontana maggiore", uma fonte bem antiga e bonita. Depois dali fomos em várias igrejas e castelos, terminado o dia no "Museu do vinho lungarotti". Estávamos jantado em um restaurante perto de casa quando meu celular começou a tocar insistentemente, olhei para ver se valia a pena e atendi.
— Alô? Zé?
— Rosamaria! Como você está? — perguntou Zé animadamente.
— Estou bem, Zé, a que devo a honra de você me ligar? — perguntei já curiosa.
-Estou ligando para te convocar pra VNL (Liga das nações de vôlei), se você aceitar claro — ele disse seriamente, a esse ponto meus pais já me encaravam curiosos.
— Posso pensar e te falar amanhã? — perguntei, sabendo a resposta que daria a ele no outro dia.
— Esperarei ansioso por sua ligação — falou com sinceridade.
— Obrigada, Zé, até amanhã.
— Até amanhã, Rosa.

Assim que ele desligou, percebi estar sorrindo igual a uma boba, olhei para os meus pais, que estavam se corroendo de curiosidade, e soltei a bomba como se não fosse nada de mais:

— Zé me convocou para jogar pela seleção na VNL...
— O QUÊ? — falaram muito alto em coro no meio do restaurante, abaixei a cabeça, rindo leve de vergonha pelo alvoroço.
— Sem alvoroços, por favor — disse ainda rindo de leve. — Não sei se mereço esse lugar, fiquei 2019 todo sem jogar — disse um pouco apreensiva.
— Como não, meu amor, nós vimos o tanto que tu batalhou por esse lugar, você merece muito e sempre vai ter nosso apoio, no seus melhores e piores momentos — mamãe falou com carinho e papai concordou.
— Acho que vou aceitar, então, só pra dar orgulho a vocês — eu disse mudando de ideia, vi o quanto eles ficaram felizes.

O resto da noite se resumiu em meus pais fazendo planos para me ver jogar onde quer que fosse a VNL. E eu? Estava borbulhando de sentimentos por dentro, medo, ansiedade, felicidade, apreensão e o sentimento da vitória. Sabia que teria muita luta com minhas emoções até a competição acabar, com as pessoas que voltaria a conviver e principalmente com a pressão que eu sempre recebia do público que acompanhava esses eventos.