Você quebrou meu coração³

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18 de fevereiro de 2016.
Seul, Coréia do Sul.
Estação de Outono.

Namjoon serviu soju nas duas taças sobre a mesa, não passava das cinco e meia da tarde quando convocou seu amigo, Jae Hyun, para desabafar; o jaleco do serviço ainda vestia seu corpo cansado.
Estavam em um bar à céu aberto, em frente à uma pracinha que poucas pessoas frequentavam por ser muito longe dos prédios.

— Não beba dessa forma, Nam — O rapaz mais velho alertou, retirando a taça das mãos do amigo — Isso não resolverá seu problema.

O Kim piscou freneticamente os olhos, a visão se tornando turva a cada minuto.

— Diminuirá minha dor.

— Só te fará ficar bêbado e tapado. O que acha que está fazendo da sua vida? Esqueça Seokjin e comece a pensar em você!

— Não... não estou pensando nele — Namjoon levantou o dedo na altura dos olhos do amigo, soluçando antes de dizer — Seokjin não existe… não mais, acabou.

— Suas ações provam o contrário.

Jae Hyun balançou a cabeça em negação, desacreditando das palavras mal pensadas do Kim, nem mesmo o próprio acreditaria nelas. Desde seu último encontro com o modelo, no corredor do apartamento, suas noites de sono se tornaram conturbadas. Se após o término, Seokjin sumisse junto com sua carreira de modelo para bem longe, superaria fácil. Entretanto, o olhar intenso do ex-namorado ainda era capaz de transmitir a mesma sensação de lar, um lar errado, cheio de espinhos, mas que, mesmo assim, era onde Namjoon desejava estar.

— Ele sequer considerou o amor de vocês, Nam. Seokjin não enxergou nada além da sua carreira de modelo e o sucesso que ele estava conseguindo — Jae tentou amenizar a situação, mas recebeu um soluço choroso do amigo — Não quero te deixar triste, apenas abra seus olhos.

O mais velho repousou as mãos no ombro do biólogo, massageando a região densa. Namjoon virou mais uma taça de soju na garganta, sua dignidade e seu modo reservado foram por água abaixo.

— Não fale assim — Tentou defender o ex, o peito doendo pela saudade — Jin não é uma pessoa ruim... só deixa ele. É, deixa pra lá.

A voz insegura do moreno não demonstrou firmeza diante das suas palavras. Seu cerne doía por inteiro ao imaginar que a carreira sempre foi mais importante que tudo na vida de Seokjin. O mais velho coletou todos os momentos felizes que passou ao lado de Namjoon e trancou a sete chaves; não importava se, com o mais novo, ele se sentia real, sem máscaras fingidas.

— Ainda o ama, não é? — O amigo atirou a pergunta, os olhos presos no do outro. Não haveria escapatória a não ser mentir.

A resposta para aquela pergunta se tornaria extremamente dolorosa se não fosse pelo momento exato em que seus olhos preguiçosos pousaram na imagem esbelta do seu ex-namorado sentando-se em um banco ao redor do laguinho, a pouco metros de onde estava. O cachorro corria ao redor dos pés de Seokjin, animado.

— Espere um minuto, volto já. — Avisou, tirou o jaleco e o colocou nos braços da cadeira de metal.

Sem dar tempo para questionários de Jae Hyun, Namjoon avançou em direção aos dois. É claro que daria a desculpa de que estava ali para ver Mon, já que havia três dias que não o via.

O esquimó inalou o aroma amadeirado do pai, o rabinho peludo abanou no ar e ele correu ferozmente em direção a um dos seus humanos favoritos.

— Mon! — Seokjin gritou, assustando-se com a rapidez do cachorro em se soltou da coleira.
O modelo se levantou e se direcionou ao caminho que o bichano seguiu, mas travou os pés no chão assim que viu a imagem grande de Namjoon agachado, recebendo o cachorro nos braços.

— Como meu rapaz está, huh? — Namjoon afagou os pelos macios, realmente sentia saudades do cachorro. Mon latia alegre, passando a cabeça por todo o rosto do seu segundo pai. — Papai sentiu saudades, é! Até comprei sua ração preferida.

O bichano deu pulinhos no mesmo lugar, se fosse possível cachorros expressarem felicidade por palavras, Mon diria centenas de “eu te amo”.

Seokjin apenas observava a interação em silêncio, as mãos inquietas esfregavam a sua nuca e se escondiam nos bolsos traseiros da calça jeans. Desconfortável, a palavra certa para descrever a sensação que o modelo sentia naquele momento, desejou pegar o cachorro e ir embora sem precisar trocar palavras e olhares quebrados com o ex-namorado.

Namjoon se pôs de pé, cambaleando por uma fração de segundo, e logo o mais velho detectou alcoolismo no outro.

— Oi.

— Por que está bêbado uma hora dessas? — Seokjin não queria demonstrar preocupação e se amaldiçoou por falhar — Deveria estar no laboratório. 

— Saí mais cedo, sabe — Namjoon disse, os lábios sendo maltratados por seus dentes pequenos — Então vim beber… não muito, só um... — fez sinal com o dedão e o indicador — ... pouquinho.

Seokjin bufou e olhou ao seu redor, a brisa fria indicava o início do anoitecer, deveria voltar para casa o mais rápido possível. Seu coração palpitando por conta do olhar fixo de Namjoon em si lhe causava raiva, não queria sentir nada além de pena pelo outro estar naquele estado. Ficar cara a cara com alguém que lhe causava borboletas salientes no estômago era mais desconfortável do que falar sobre sexo com os pais.

Encaixou a coleira de Mon entre as mãos, o cachorro se ocupava em brincar com um besouro que chamou sua atenção.

— Eu te levo pra casa, não está em condições de dirigir — Proferiu, o arrependimento soando mais forte que a boa vontade.
Namjoon sacudiu as mãos em frente ao rosto, negando rapidamente.

— Oh, não, não é preciso. Estou com Jae.
Seokjin olhou por cima dos ombros do maior, na direção que lhe foi apontada, enxergando apenas a bolsa do outro.

— Não há ninguém.

O Kim também olhou, soluçou em seguida, desacreditando que seu melhor amigo o havia deixado sozinho e sem carona. Não queria voltar para casa sendo carregado por Seokjin, não quando estava tão vulnerável naquela situação. Ficar preso no mesmo carro que o ex-namorado lhe causava um desconforto grande, e o mais velho não se sentia diferente.

— Mesmo assim, eu chamo um táxi.

Tentou soar educado.

— Não aguenta caminhar daqui até o ponto — Apontou certeiro, as luzes dos postes já se acendiam ao redor do parque. — Pode cair na estrada e quebrar a cara.

— Você já quebrou meu coração, então não é problema.

Namjoon paralisou o corpo por inteiro e fechou os olhos. Por aquele motivo. odiava bebidas alcoólicas, elas o deixavam tão funeral e imprestável. Como foi capaz de deixar aquelas palavras saírem por sua boca na frente do causador da sua dor?
Seokjin suspirou fundo e pesado, as íris tremeram assim como seu coração acelerou em batidas frenéticas, machucando a caixa torácica.

Havia machucado a fundo os sentimentos de Namjoon e não se orgulhava por tal feito; se pudesse voltar atrás e mudar suas ações, mudaria, e tornaria isso tudo menos doloroso para ambos os lados.
Engoliu o bolo que formou no topo da garganta e começou a andar em direção ao seu carro.

— Vamos.

Durante o trajeto até o prédio que moravam, nenhuma palavra fora trocada entre os dois; era melhor daquela forma, porque qualquer diálogo trocado poderia afetar ainda mais a relação.

Mon, sentado no colo de Namjoon, curtia a brisa que balançava seus fios, alheio a toda a situação que estava acontecendo ao redor dos seus laços fraternais.
Sentados um do lado do outro, a única razão que ainda os mantinha conectados seria o cachorro, qual seria a outra? Nenhuma das índoles magoadas confessaria que a saudade gritava todas as noites na hora de dormir, que o arrependimento das decisões que os levaram até o presente momento martelava em suas mentes, que lutavam para se ocuparem do trabalho ao invés das memórias dos dias que passaram juntos.

Eles sentiam muito, muito mesmo. Por mais que quisessem confessar, o orgulho vencia, porque nenhum dos dois desejava magoar um ao outro.

[...] Continua

Entrelaçados / Namjin Onde histórias criam vida. Descubra agora