Entrelaçados / Namjin

Moral da História⁹

14 de março de 2016
Seul, Coréia do Sul

Dez dias haviam se passado após o ocorrido no veterinário, Moon possuía uma aura radiante, estava mais sapeca, animado. Estava feliz, na linguagem dos cachorros.
Namjoon e Seokjin decidiram tirar aqueles dias de recesso no trabalho apenas para focar em Moon, o biólogo não negaria estar surpreso por Seokjin escolher o cachorro ao invés da sua tão suada vida de modelo. Sentiu tristeza. Na sua vez, Seokjin sequer pensou duas vezes, apenas arrumou as malas e foi embora.

Mas estava feliz pelo bichano, ele estava recebendo toda a atenção que merecia, todo o amor e carinho dos pais.
O ex-casal dormia em quartos separados por decidirem dividir o apartamento durante aqueles dias. Não trocaram muitas palavras, apenas o básico e o necessário. Estavam satisfeitos daquela forma, assim não teriam recaídas e discussões.

Estavam sentados no sofá assistindo televisão, Moon se ocupava em destruir uma almofada que alcançou da cama de Namjoon. Seokjin admitia se sentir liberto, podia sentar-se da maneira que quisesse, comer e descansar sem precisar estar sorrindo o tempo todo.

— Esses dias te fizeram muito bem pelo visto — Namjoon se arriscou a dizer, quebrando o silêncio.

— Era o que precisava, um pouco de paz.

— Entendo.

O silêncio voltou, Namjoon beliscando a pele da coxa, meio sem jeito. Seokjin se forçava a engolir as pipocas. Sempre era daquela forma quando tentavam iniciar uma conversa.

— E você, vejo que descansou bem — Foi a vez de Seokjin se manifestar, fingindo se distrair com um besouro no teto.

— Não o bastante, ainda penso em virar frentista.

Seokjin forçou a pipoca para fora da garganta ao se engasgar, a gargalhada explosiva atrapalhava sua execução. O mais novo deu batidas fracas nas costas do mais velho, que gargalhou mais ainda. Ambos se entregaram a uma diversão de gaitadas, o modelo deixando escapar pipocas da sua boca. As risadas eram acompanhadas de vergonha, mas foram cessando aos poucos, os rostos vermelhos pela crise risos.

Em minutos, voltaram ao silêncio torturante novamente. Aquela seria a hora de tirar suas dúvidas e, talvez, suas esperanças. Assim como Namjoon, Seokjin também se arriscaria.

— Por quê? — Então perguntou, com os olhos baixos, tendo a atenção do mais novo — Por que me fez escolher?

Namjoon sabia do que o mais velho se referia, e se viu em uma enorme corda bamba. Não ousaria esconder a verdade, não mais. Ela doía.

— Você, mais que ninguém, sabe a resposta dessa pergunta, sua decisão sempre seria essa.

Seokjin, dessa vez, não escondeu o desgosto em seu olhar. Era egoísta o bastante por não assumir que sim, a decisão sempre seria a que tinha tomado; porém, se tivesse a chance de mudar, mudaria.

— Eu sofri muito até chegar àquela conclusão, Seokjin. Não estávamos mais nos conectando. Estávamos nos perdendo. Não havia mais volta, a solução era cada um pro seu lado.

— Eu fui um tolo em não perceber que estávamos nos desgastando.

Namjoon desviou o olhar, o nariz ardendo pela imensa vontade de chorar. Não seria tão vulnerável assim.

— Eu o machuquei muitas e muitas vezes. E você sempre estava ali tapando os hematomas com esparadrapos, sozinho.

Seokjin deixou um sorriso melancólico escapar, as próprias palavras martelando seu peito.

— Já passou, Seokjin. Não temos que ficar remoendo isso — Namjoon disse, enxugando os olhos e forçando um sorriso superado — É passado.

Seokjin se aproximou até manter seu rosto rente ao de Namjoon. Avaliou os traços do rosto alheio, tudo estava como antes, apenas o olhar nas íris castanhas havia mudado, não existia mais brilho, e sim mágoas.