O amor não acabou⁸

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4 de março de 2016
Seul, Coréia do Sul

— O que acha dessa aqui? — Hoseok perguntou, erguendo um conjunto de calça cintura alta e cropped, o blazer cor vinho caindo pelos ombros — Ficará Divino em você

— Deslumbrante, mas não condiz com o evento.

Os dois amigos estavam em uma avaliação de peças de primavera buscando por algo que caísse bem na ocasião para a qual Seokjin fora chamado, o aniversário do presidente de Seul. Metade de Seul marcaria presença na festa, e o modelo queria comparecer da forma mais extravagante possível.
É claro que desejava chamar a atenção, ter as câmeras em sua direção o deixava excitado.

— Urgh, tá difícil! Nada aqui é bom o suficiente! — O ruivo bradou cansado, estava a tarde toda naquela provação de roupas, já sentia fome — Não é melhor ordenar que façam algo inédito? Não é difícil conseguir isso.

Referiu-se ao poder que Seokjin possuía sob a marca para a qual ele mesmo atraia dinheiro, o diretor jamais negaria um desejo do modelo ciente de que, com um estalo de dedos, acabaria em uma maré de falência.

Seokjin deu de ombros, exibido, não notando seu celular vibrar repetidamente dentro da bolsa.

— Então resolvido, vamos comer! — Hoseok bateu palmas ao dizer que a comida era sua bateria de carregamento.
Seokjin gargalhou.

— Claro, claro. Daqui a pouco estará me comendo no carro.

O ruivo revirou os olhos, sem se irritar de verdade, e alcançou sua bolsa.

— Palhaço!

Seokjin apanhou sua própria bolsa, resmungou ao perceber as notificações do seu celular, a tela repleta de ligações e mensagens. Estranhou, todas eram de Namjoon. O que havia acontecido?

— Qual o problema? — Hoseok perguntou, notando o rosto do amigo esbranquiçado como papel, as mãos trêmulas.

O Kim não saberia responder. Após o término, Namjoon não o ligava, nem trocavam mensagens, apenas se falavam frente a frente quando se esbarravam no corredor do prédio. Ele estaria arrependido? Estaria disposto a reatar com Seokjin? Ou estaria se enganando e não era nada a respeito dos dois?

— N-namjoon.. Namjoon, Hose. Ele me ligou várias vezes.

— O que esse cara quer? Me dê esse celular, nada de distrações. Não o quero chorando pelos cantos.

— Não, pode ser algo importante!

Hoseok revirou os olhos e bufou. Seokjin discou o número do ex-namorado novamente, seu peito acelerando em batidas desesperadas, prevendo algo ruim.

Alô, Seokjin?

— Nam… Joon, oi! O que houve? Me ligou e-

Moon! Estou no veterinário, ele não está nada bem. Venha para cá por favor!

Namjoon disparou tudo sem pausas. O modelo sentiu uma repentina tontura que quase o fez ir de encontro ao chão, se não fosse pelos braços do amigo o segurando.

— Estou indo, me passe o endereço por mensagem.

Seokjin não se via a tempo de explicar nada para o melhor amigo, que o bombardeava com perguntas. Pegou suas coisas e correu para o carro, dirigindo em seguida para o endereço que lhe foi passado.

[...]

O mais velho sequer notou o rosto encharcado pelas lágrimas quando pousou os pés no gramado da clínica veterinária. Tudo que vinha à sua mente era o seu filho, Moon, e seu peito doía por imaginar o pior. Seokjin costumava ser pessimista em relação a aos que amava, o que lhe causava falsas situações.

— Cadê ele? Onde meu bebê está? O que aconteceu?

Como um tiro, o modelo disparou as perguntas. Namjoon se assustou por um breve momento, porém reconheceu o rapaz e quebrou os passos que os separavam. Talvez sem pensar, circulou a cintura do menor e o abraçou, abafando a cabeça do outro em seu pescoço.

Seokjin se assustou com o ato, paralisando sem reação alguma. Sentiu o soluço dolorido do mais novo vibrar em seu peito.

— Eu deveria ter te avisado mais cedo — Namjoon pairou o rosto na altura da faceta avermelhada do outro — Moon não comia direito nesses últimos dias, chorava muito a noite e hoje eu o encontrei desacordado na sala.

— Não é culpa sua — Seokjin se afastou do abraço, não estava totalmente desconfortável com a aproximação. O toque quente de Namjoon o fazia se sentir em paz — Preciso vê-lo.

Antes que o biólogo pudesse dizer algo, a veterinária adentrou o local, chamando a atenção dos dois.

— Prazer, sou a Andressa — Estendeu a mão educadamente em cumprimento, os rapazes retribuíram o ato — Os dois são os responsáveis pelo cachorro?

Namjoon confirmou com um balançar agitado de cabeça.

— Como ele está? Posso vê-lo? — Seokjin perguntou, as mãos tremendo em preocupação.

— Claro! Mas antes quero conversar com vocês — A mulher de fios cacheados convidou os rapazes a se sentarem nos bancos, pegou sua palheta e a avaliou minuciosamente. — São separados, certos.

Eles se entreolharam.

— Sim — Responderam em uníssono.

— Então essa é a resposta! O cachorro é como uma criança, sofre com a separação dos pais. Passam a ter problemas com a alimentação, com o sono, e podem até mesmo desenvolver depressão. A pequena menção fez com que o ex-casal temesse. — É o caso de Moon, ele está sofrendo com a separação dos donos.

— Com licença, Andressa — Namjoon interveio, o modelo ao seu lado continuava calado, apenas pensando — Damos toda a atenção máxima a Moon, os dois. Isso–

— Não é o suficiente — Foi a vez de Seokjin analisar a situação. Não desejava ter Moon sofrendo, doía em seu peito como um pecado no inferno. Se pôs de pé — Resolvemos isso de alguma forma mais tarde, agradeço a conversa. Agora eu posso ver meu filho?

A mulher concordou e os levou até a sala em que Moon estava repousando, o bichano não pòde ver quando os pais entraram na sala. No entanto, sentiu o toque de ambos em seus pelos, queria avisar que estava bem e feliz por tê-los juntos ali consigo.

Estava sonolento demais para latir em felicidade, então apenas abandonou o rabo, fraco, arrancando suspiros aliviados dos rapazes.

— Cuidarei de você, meu garotão! — Namjoon decretou, os dedos entrelaçados aos fios alvos do cachorro — Eu prometo.

— Nós cuidaremos, juntos! — Seokjin disse por fim, entrelaçando seus dedos com o do ex-namorado, que estremeceu com o toque gélido. — Eu prometo.

Então se entreolharam, não havia desconforto ou dores dessa vez. Os olhos mergulhando na imensidão castanha um do outro, firmando aquelas afirmações. Estavam ali pelo bem de Moon, e, pela primeira vez, firmaram uma linha de calmaria aos sentimentos agitados que gritavam nos cernes.

[...] Continua

Entrelaçados / Namjin Onde histórias criam vida. Descubra agora