Capítulo 1

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No meio da escuridão do espaço, uma nave meio destruída jazia inerte.

Ao seu redor, nada havia de companhia, além das milhões de estrelas a anos-luz de distância.

A nave estava quebrada, com algumas partes faltando, outras pairando ao seu redor; sua tinta prateada, desbotada e meio queimada; os motores, incapazes de move-la para algum lugar.

Sua aparência interior era ainda menos convidativa. Passando pelos corredores vazios e desprovidos de qualquer luz, além das estrelas, as salas com uma porção de pessoas caídas ao chão, manchas de sangue secas onde quer que se via, quartos meio destruídos com corpos inertes de pessoas uniformizadas e armadas nos cantos, mais um corredor cujas luzes piscando de maneira irregular poderia facilmente ser confundida com o cenário de um filme de terror, encontrava-se uma pequena sala, numa extremidade da nave, uma forte luz surgindo e sumindo, o som de um maçarico ecoando através da escuridão.

Porém, não totalmente desprovida de vida.

— Se você... Não está sozinho. Você ainda pode aguentar um pouco mais — disse uma voz infantil, fraca e ofegante.

A única luz naquela sala, além da luz provida por aquele maçarico meio manchado de sangue e enferrujado por alguns instantes, advinha de uma pequena janela, a luminosidade fraca das estrelas distantes dava somente uma visão de um palmo de distância. E era somente aquilo que o garoto precisava.

Com o olhar pesado e mãos fracas, o garoto seguiu usando suas ferramentas no monte de metal a sua frente, cada palavra saindo mais e mais desprovida de energia, com intervalos ainda maiores entre as falas.

— Se tem.... alguém com você.... quer dizer que não é o fim.....

O jovem estendeu a mão para o lado, afim de pegar uma ferramenta próxima a ele, porém acabou perdendo o equilíbrio e a falta de energia o fez cair no chão.
Após alguns segundos gemendo de dor, apoiou ambas as mãos no chão e fez todo o possível para tentar se erguer, sem sucesso. A força já o deixara há dias. Agora, somente a mente realmente trabalhava naquele corpo.

Tentou agarrar o objeto que trabalhava e o usou como apoio, pondo lentamente as mãos trêmulas sobre ele, erguendo-se gradativamente, soltando gemidos de dor e baforadas de exaustão a cada mínima ação. Até manter os olhos abertos demostrava-se uma tarefa quase impossível.

Não posso.... dormir ainda..... Não antes.... de termina-lo.

Tudo para ele era difícil, tal como pensar. Qualquer ação que fazia já exigia o máximo de sua capacidade. Mas o garoto ainda não parava. Mesmo que seu corpo parecesse pesar mais de 1 tonelada, ele seguia firme em seu objetivo.

Uma vez conseguindo ficar ajoelhado, moveu uma mecha de cabelo preto para longe de seus olhos e, com a mesma mão, aproveitou que agora estava perto e pegou uma chave inglesa, despejada no chão junto de um amontoado de latas vazias de comida.

Começou a apertar um parafuso meio solto. Uma ação que levaria alguns poucos segundos para ser finalizada, até para uma criança de 8 anos como ele, levou quase 10 minutos.

— Pronto — sua voz saiu rouca. Deu um fraco sorriso, as estrelas do lado de fora tremeluzindo nos seus olhos vermelhos. — Vamos terminar.... Com você. Certo? Porque. Eu não sei quem. Mas — começou a usar o maçarico, os intervalos com a luz revelando no que o garoto trabalhava. Um robô vermelho. Sentado e desligado, parecia ter pouco menos de 1 metro (um pouco menor que o garoto). Observou seu reflexo no visor do robô, não como se estivesse querendo ver sua própria aparência, mas como quisesse olhar um amigo nos olhos. — Me disseram uma vez, não sei quem foi. Não me lembro de muita coisa. Mas eu me lembro de duas... coisas. Uma delas é: Se você não está sozinho... Se está com um amigo... Não preciso ter medo de nada..... — esboçou um sorriso que acreditava ser o último que daria. Fraco e tremido, mas exibia toda a esperança e desejos do garoto. — Não... é?

O Caçador Vermelho (One-shot)Onde histórias criam vida. Descubra agora