IV - Pastorale

33 7 26
                                    

Como sempre, o baile havia começado às 22 e terminara às 3 horas da manhã. E o dia seguinte se tratava de um domingo.

Aos domingos, Mitya, eu e meus filhos iámos todos a igreja na carruagem aberta. Já tinhamos o nosso próprio automóvel na época, mas há algum toque diferente de ir para a missa todos os domingos em carruagem aberta, especialmente no inverno, quando iámos todos na troika, cobertos de grandes casacos de pele. Meu pai fazia extamente a mesma coisa comigo quando eu era pequeno e com meus irmãos, a qual o pai do meu também a fazia.

Sempre fui um homem bastante religioso, deve falar aqui, desde de bem pequeno mesmo. Era calado, daqueles que não conseguem falar uma palavra e que fica vermelho quando alguém novo aparece. Acordava, comia, lia, desenhava e orava; era essa minha rotina. Meus irmãos brincavam comigo dizendo que seria um monge, e por um certo período eu até pensei tal hipótese.

Bem, em 1903 ainda morávamos no Mármore e por isso sempre íamos para uma igrejinha que ficava perto do Fontanka, e de uma padaria que cheirava muito bem. aliás. Petersburgo era a cidade de capelas e catedrais, com os sons trovejantes dos grandes sinos já podendo serem ouvidos logo ao raiar do Sol, avisando-nos da missa ortodoxa. Por sorte meus filhos não desemvolveram nenhum tipo de trauma e se afeiçoaram com bastante ardor a fé, pois sempre incentivei as crianças para serem bastante religiosas e lerem os Evangelhos da bíblia, fazendo com elas cantassem e lessem nos serviços religiosos e rezassem antes de qualquer refeição. Para mim, os domingos sempre tiveram para a mesma sensação que a de ouvir o primeiro movimento da Sinfonia no. 6 de Beethoven: alegre e inocente, doce e feliz.

Todos estávamos lá, sem antes ter tomado o desejum, em nossa melhores roupas, mas que ainda deveríam ser simples, dentre os ícones dourados. Todos deveriam estar em pé, parados como estátuas, esperando o velho padre de longa barba branca entrar, vestindo suas religiosas roupas litúrgicas, e começar a falar com sua voz grave e vibrante. Entre homens e mulheres, crianças e idosos, eram rostos de feições sérias e atentas, com olhares fixos ao altar e ouvidos presos aos antigos ensinamentos ortodoxos. Não adiantava ir visitar algum nobre ou membro da realeza naquele horário de domingo, pois assim se ouviria: "Perdoe-me, senhor, mas ele está orando". Os ensinamentos religiosos formavam a Rússia, e assim toda a sociedade.

Confesso que algumas vezes durante a missa, eu ficava um pouco absorto e me perdia em pensamentos, e lembrei-me então de Ivan Aleksandrovich, porque digo que ele causara uma forte impressão na noite passada.

Após a apresentação, nós dois conversamos; mas pouco fora o tempo que tivemos que somente algumas palavras foram trocadas. Porém não se engane de que aquilo não fora o suficiente para conseguir averiguar a natureza do príncipe, muito pelo contrário. Em suas frases e seus gestos, Yatskov mostrou-se um rapaz extremamente educado, doce, inteligente e de agradável simpatia. Ficava surpreso ao lembrar que ele era aquele mesmo menino que vi há anos atrás, e que agora já era um homem grande e um rapaz muito bonito.

Despertei-me novamente quando acabaram de cantar o Te Deum e retornei o olhar novamente para o altar. A missa acabou algum tempo depois. Saímos da igreja andando.

 Saímos da igreja andando

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
As Confissões de Konstantin KonstantinovichOnde histórias criam vida. Descubra agora