IX - Almoço no Palkin

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Seguindo o conselho de Dmitriy, esperei para o perguntar até o nosso próximo encontro, o qual eu esperava ser na apresentação da ópera de "Aida", que aconteceria no Mariinsky. Porém, a Providência parecia estar apressada e logo a adiantara, fazendo-me encontrar com Yatskov apenas alguns dias daquele que tive com Mitya.

Fora em um dos prédios da infantaria, - que visitava em função de deveres do trabalho. - quando achei Ivan Aleksandrovich aos pés da escada. Ele estava lá para resolver algo com seu comandante superior, que também estava no prédio, por razão de algum erro no relatório ou coisa parecida. Cumprimentamo-nos e fiz-lhe um convite para almoçarmos juntos. 

- Onde almoça geralmente? - perguntei.

- No Donon, na maioria das vezes.

- Oh, não, não! Venha, almoçaremos no Palkin. A comida do Donon é boa, mas muito cara. Acabará falindo se for mais vezes! Tenho um amigo que gastara mais de mil rublos em um só almoço! Por isso eu recomendo o Palkin, sempre vou lá. Além de que a comida é melhor e mais barata. - e de fato era.

Saíamos juntos e às 3 horas da tarde já estávamos no Palkin, como era o habitual. Naquela vez, almoçamos sozinhos, então já pode imaginar sem a companhia desagradável dos generais e coronéis.

O restaurante ficava perto do Fontanka, - a apenas alguns metros do antigo palácio de Sergey e Ella. - e por isso, sua localização estava situada no epicentro social de São Petersburgo. A clientela era variada, entre os mais diversos postos: músicos, comerciantes, príncipes, escritores, cientistas, atores, aristocratas e entre outros demais indivíduos. O ponto de maior favor do Palkin era, definitivamente, a sua luxuosidade. O faustoso restaurante competia violentamente com o Donon e o Kyuba, pois possuía a sua clássica sala de bilhar, vidraças refinadas, plantas exóticas e uma decoração requintada e refinada. Mas a verdade é que se tornara o meu favorito por sua comida saborosa e de baixo preço.

Quando entramos no Palkin, o restaurante estava cheio. Haviam as senhoras que acompanhavam seus devidos maridos no almoço, os homens que tratavam de negócios uns com os outros, os senhores idosos que ainda tinham os velhos hábitos e os solitários que escreviam enquanto seu pedido era preparado. Não demorara para logo vir o garçom de fraque, guardanapo em punho e luvas brancas.

- Vossa Alteza, por favor, acompanhe-me. - disse ele. - Pedirei que coloquem mais uma cadeira para Vossa Excelência - disse o garçom para Yatskov, juntamente com uma reverência. - Deseja a mesma mesa de sempre, senhor?

- Oh, sim. Por gentileza. - falei, referindo-me à mesa em que sempre almoçava, que ficava perto de uma das janelas e um pouco mais afastada do barulho central do restaurante.

Passando pelas mesas redondas de toalhas limpas e brancas, onde as pessoas cumprimentavam com a cabeça os conhecidos, o garçom puxara a cadeira de veludo clara para sentarmos à mesa, vendo pela janela a vista do passar das carruagens e das pessoas pela avenida à frente do restaurante.

Logo em seguida, ordenamos os pratos, e de que eu fazia questão em não pedi-los em francês, como era o costume. Haviam muitos "franceses" em São Petersburgo, sempre colocando um quê de francês na língua russa e forçando o sotaque parisiense sobre o petersburguense. Isso para mim sempre soou inaceitável, e eu sempre falava russo e com palavras russas, pois não estava na França! Mesmo assim, o garçom implicava em repetir o pedido em francês, além do cardápio seguir a tradicional regra de ser escrito na língua de Napoleão. A França era o núcleo mundial da elegância, tendo a Rússia a obrigação de ser sua irmã gêmea, mas eu nunca suportei tal ideia.

O garçom de fraque e luvas brancas anotara o pedido com seu cartão nas mãos. Eu pedira o comum, e Yatskov, como se estivesse com vergonha, pedira, a princípio, uma simples sopa de legumes, mas logo depois um contra filé ao molho e batatas e também uma fatia de torta de framboesa, seguidos por uma taça de champanhe. Com isso, o garçom se retirara e eu começara a falar:

- Eu espero que não tenha o atrapalhado em relação a Regulsky. Você conseguiu ajeitar os assuntos com ele? - falei, referindo-me a ele já por "você". Ele ainda insistia em me chamar de "senhor", mesmo depois de nossos laços de amizade já estarem bem atados e de precisarem mais de tal cortesia.

- Ah, sim. Eu consegui ajeitar os assuntos e o senhor não atrapalhou em nada. Era apenas um pequeno engano em relação ao meu relatório, mas que já fora resolvido.

- Assim é bem melhor de ouvir. Esse tipo de coisa é bastante comum, mas a sua sorte é que conseguira o consertar rápido.

- Sim, fora um milagre! Acho que devo agradecer ao senhor por isso. Pensava que passaria dias para corrigir o erro do relatório.

- Agradecer a mim? Ora, por quê? Eu não fiz nada! Mas se fizesse seria com muito agrado. Aviso-lhe logo que não precisa se preocupar em me pedir ajuda se algo de grave acontecer, e Deus tomará que não aconteça. Mas se caso acontecer, prometo aqui que o ajudarei com toda a minha lealdade. E esforço. - disse, tomando um gole do champanhe.

- Fico feliz por saber disso. - falou o Príncipe Yatskov, com o primeiro prato chegando logo em seguida.

- Mas não falemos aqui de trabalho. Há muitas horas do dia para se falar sobre ele e não gostaria de gastar mais uma aqui. Tenho outro assunto em mente, mas que parece-me tão abrupto de logo o falar que temo que esteja sendo mal-educado.

- O senhor não é mal-educado e certamente não parecerá abrupto de o falar. Por favor, conte-me, pois eu mesmo não tenho nenhum assunto em mente. - falou o príncipe em tom de brincadeira.

- Você já foi à Grécia, Ivan Aleksandrovich? - disse, finalmente.

- À Grécia? Bom, de que eu me lembro, acho que só fora uma vez, mas quando era muito pequeno. Creio que nem passava dos 7.

- Já é conhecimento suficiente para saber quem é minha irmã mais velha. Conhece-a?

- Como não conheceria Sua Majestade!? - disse ele, sorrindo. - Sim, eu a conheço. Além disso, era amiga de mamãe.

- Sim, sim. Alguns dias atrás ela me convidara para passar o restante da primavera e o verão em Mon Repos, juntamente com alguns membros de minha família. Entretanto, houve-se também a ideia de convidar você, pois todos lá o estimam. Olga então pedira-me para lhe fazer o convite e o pergunto aqui se o aceita.

Ele parou e empaleceu-se. Yatskov dera seus olhos de surpresa e incredulidade, e abrira a boca para falar algo, mas a voz não saiu.

- Perdoe-me, mas eu não posso. - disse rapidamente. - Por certeza, não posso. Fico lisonjeado pela oferta tão tentadora que o senhor me faz, mas fico inclinado a recusar. Tenho muitos afazeres aqui em São Petersburgo e eu mesmo não sei quando os terminarei. Desculpe-me por não aceitar. Peço que perdoe-me.

Entendia um "não" quando era dito e não tinha o costume de repetir a pergunta quando esta já fora respondida. Eu colocara a taça de champanhe de volta na mesa e encostara as costas na cadeira, pousando os olhos no prato e dando um rápido e singelo sorriso para disfarçar a surpresa.

- Eu entendo perfeitamente. - respondi então, com um tom que parecia amenizar o fato para mim mesmo. - Afinal, estamos em uma época que se requer muito trabalho da infantaria. Como seria possível?

Fizemo-nos calados. O convite fora recusado de tal forma que causou indiferença à mesa. Creio que em outros essa rejeição seria passada com naturalidade e eles continuariam a falar sobre outro tema, mas nós... A mudança dos humores fora súbita e repentina. Entenda-me, pois em minha mente, eu estava certo que ele aceitaria o convite. Almejara tanto que já conseguia o imaginar na Grécia com todos nós.

Não conseguia mais ver motivos para continuar no restaurante depois de nossa dualidade. Logo, não demorou muito para pedir a conta e sair do Palkin.

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⏰ Última atualização: Jun 03 ⏰

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As Confissões de Konstantin KonstantinovichOnde histórias criam vida. Descubra agora