Jack

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Ao entrar na caverna, senti o frio penetrar minha têmpora. O ambiente interno era uma enorme cúpula, repleta de estalagmites e estalactites, totalmente feitas de gelo, somado a um rio congelado no centro da caverna, que contribuía para a atmosfera fantasmagórica do ambiente.

As histórias de meu pai mencionaram que o frio da caverna era tão intenso que mesmo os fantasmas que lá viviam precisavam sair de tempos em tempos, tornando a caverna um lugar inóspito e mortal. Estando lá agora, pude comprovar o quão intimidador era a temperatura, e entenderia se os fantasmas abandonassem a caverna de tempos em tempos.

Olhando ao redor, consegui encontrar mais vestígios de sangue, que agora se encontrava congelado pelo pouco tempo exposto ao ar gélido. O rastro seguia o rio congelado, e ia para algum lugar escondido, pois de onde estava, não via sequer um único indício de passagem que fosse. Pisando no lago, dei mais uma olhada ao redor, e foi olhando para cima que me deparei com uma cena que me deixou levemente perturbado: Tinham vários desenhos no teto. Não era fácil distinguir a forma por onde eu via, mas pareciam se assemelhar a vitrais, como os de uma igreja, retratando uma figura alada, em tons de vermelho e preto.

Aquela cena me causou calafrios. Deixei aquilo de lado no momento, e voltei a seguir as manchas, dessa vez com mais pressa. Por fim, passei ao redor de uma enorme estalagmite, o último local que continha as gotas de sangue, e notei nela dois pequenos cortes horizontais, de mesmo tamanho e formato, que parecia ter sido feito por um par de lâminas pequenas.

Pondo a mão no sangue, notei que ele ainda permanecia líquido, mostrando que ali ocorreu um confronto bem recente, provavelmente causando os cortes na formação de gelo.

Olhando um pouco mais a frente, notei uma fenda na parede. Não muito grande, mas grande o suficiente para que pudesse ser atravessada com certo espaço de folga.

Me apressei, passando pelo buraco e adentrando ainda mais na caverna. Passada a fenda, me deparei em uma espécie de corredor, com as paredes cobertas de gelo, mas por camadas bem menores que as que cobriam o vitral da câmara passada. Através dessas paredes de gelo, haviam mais imagens, semelhantes à que eu havia visto, e que vendo bem de perto, pude observar melhor.

Comecei a saber do que as gravuras se tratavam enquanto passava por elas.

Provavelmente eram muito antigas, mas eram inconfundíveis: retratavam as antigas religiões, cujos nomes se perderam na história a séculos.

O primeiro de três vitrais retratava um homem com asas prateadas e uma auréola, descendo dos céus em frente a uma multidão. Apelidamos essa antiga religião de Cobalto, dos que acreditavam no salvador alado.

O segundo, continha a imagem de pessoas rodeando uma cratera, e no centro dela, se encontrava alguém desmaiado, dono ou dona de um par de chifres vermelhos. Esse culto era chamado de Jaspe, que cultuava o ser misterioso que já havia vivido ao lado dos homens.

Por fim, o terceiro vitral mostrava uma enorme ave de penas pretas, cobrindo o Sol, enquanto um senhor alto de cabelos grisalhos parecia chamá-la. A ave representava os adeptos de Calcita, que viam o pássaro e o senhor como um ciclo de renascimento.

Essas três religiões acabaram por se tornarem apenas lendas e histórias de livros infantis, contados por minha mãe quando eu e Liza tínhamos pouco mais de cinco anos, antes de ela sumir sem deixar rastros. Como toda essa cultura passou a não ser nada além de histórias, ainda é um mistério.

Continuei em frente, e comecei a ouvir sons preocupantes que eu conhecia muito bem: ferro batendo em ferro.

Correndo cada vez mais rápido, escutei os sons aumentando, juntamente à minha pressa, até que avistei a saída do corredor. Saindo, me vi em uma cúpula enorme, com o piso congelado. Era exatamente como o interior de uma igreja, com vitrais em todos os lados, aos quais não prestei atenção, pois estava focado na cena que ocorria à minha frente.

O coração de açoOnde histórias criam vida. Descubra agora