Idiota apaixonado

64 6 0
                                    

    O corredor continuava um breu. Aquelas luzes led já estavam me irritando. No meu rumo tinha uma silhueta esquisita que se quisesse daria para brincar de "Quem é esse Pokémon?". Aposto que as crianças iriam ficar chocadas quando revelasse que eram duas pessoas se pegando. E elas eram bem gostosas por sinal. Uma delas eu peguei de jeito a alguns minutos atrás e agora se ela me pedisse ajuda a deixaria na mão — sou desses. Ou está comigo, ou contra mim e Morena claramente se aproveitou do meu êxtase para subtrair minha carteira. Aliás, olhando-a contra a parede, prensada por um homem bem mais alto que ela, percebo que não existe mais uma aura magenta ao seu redor. Em contraposição, a aura do cara explodia na minha cara como se dissesse "Seu estúpido! Não percebeu que sou eu sua verdadeira alma gêmea?".
    — Me solta seu mauricinho de merda! — a voz doce de Morena deformou-se num monte de ofensas num instante. Como eu pude transar com Morena sem antes saber quem caralhos era ela realmente? Isso é o que chamam de pensar com a cabeça debaixo.
    — Não a solto antes de devolver o que não te pertence — disse o cara alto.
    Morena mostrou uma carranca. A contragosto, enfiou a mão no meio dos seios e tirou de lá minha carteira. — Que lugarzinho para esconder um item furtado, hein? — O homem segurou firme em seu pulso, tomando dela e jogando um olhar cinematográfico de desprezo. Espantou-a ao rosnar como um cão bravo e dizer:
    — Vaza daqui.
    Logicamente Morena deu no pé. Eu não sei porque, mas senti um pingo de remorso de nunca mais poder vê-la. Ser homem às vezes é uma merda. A gente se vicia na transa e é difícil de simplesmente esquecer.
    — Acho que isso aqui é seu.
    Jin, isso mesmo, o barman, desfila até mim — porque andar é para os meros mortais — e eu só soube ficar paradinho até ele chegar até mim. Ele sorriu ladino, o tipo de sorriso que se apaixona. E estou afirmando que me apaixonei por aquele herói sem capa e de cabelos escuros escovados para trás como os Corleone. Que belo gangster ele daria. Jin usando suspensórios? Sinônimo de tudo de bom. Sou um vadio de pensar que tudo o que mais queria ver era a arma que ele tinha nas calças? Porque é verdade. Eu quero ver tudo que suas roupas escondem de mim — assumi, gente. Se você é homofóbico e estiver lendo, eu, respeitosamente, convido-lhe a se retirar.
    Antes que eu dissesse algo, Jin se aproximou mais do que devia. Pegou minha carteira e enfiou no bolso da minha jaqueta. Não sei o que me fez querer desmaiar. O fato em si, ou o olhar fixo matador que ele me deu enquanto fez isso.
    — Como você sabia? — questionei juntando as sobrancelhas.
    — Gostaria que você fosse o primeiro, mas ela já enganou outros caras antes. Os atrai para a área V.I.P e leva seus pertences enquanto estão exaustos na cama. — Deu pra ver que Jin segurou uma risadinha. — Estamos tentando identificar quem ela é a semanas. Aquela garota descobriu como ser destacada em meio a qualquer homem que usasse a balinha do amor.
    — Morena sabe como burlar o efeito da bala?
    Talvez eu tenha parecido muito estupefato. E eu estava. Era minha primeira vez com a bala e Morena já sabia até como desconjurar a mágica trazida por ela e direcionar para si como um farol. O efeito da aura dela passou — só não a tempo de me dar conta que era uma furada. — Essa é a diferença que notei. Jin, por outro lado, continua brilhando pra mim.
    O barman bonitão afirmou com a cabeça.
    — Sim. Já tomamos as providências para que aquela mulher fosse presa. Se sairmos agora, haverá dois carros de polícia e a tal... Como é o nome dela mesmo?
    — Morena. — Quando respondi Jin não mostrou muito entusiasmo.
    — A tal Morena estará sendo algemada contra o capô da viatura.
    Quis sorrir, mas achei que seria muito coisa de gente malvada e eu sou bonzinho.
    — Acho que sua noite não saiu bem como você queria, loiro.
    Loiro é melhor que senhor, pensei.
    — Por incrível que pareça, não foi tão ruim.
    Jin riu. Fazer ele rir me fez sentir especial. Ele não tem perfil de quem costuma gargalhar com frequência e eu achei contagiante.
    — Está de saída? Quer carona? — Jin ofereceu.
    Dei uma olhada para trás no corredor escuro. Tinha apenas nós dois e nossas peles magentas radioativas.
    — Sim, eu aceito.

❝𝐍𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐂𝐥𝐮𝐛⚥❞Onde histórias criam vida. Descubra agora