.a única coisa mais cruel que uma gaiola tão pequena que um pássaro não consiga voar é uma gaiola tão grande que um pássaro pense que pode voar. apenas um monstro trancaria um pássaro lá dentro e diria ser amante dos animais
"jt+al"
1A maior surpresa que tive ao chegar em casa ao fim da tarde foi o humor ácido de Evangeline — o que, apesar de tudo, era totalmente compreensível. Nós havíamos perdido seu aniversário de seis anos, e todos sabem que crianças se importam mais com a presença daqueles que são amados do que com presentes. Ela chorou, bateu os pés birrenta, disse que não voltaria a falar comigo porque estava extremamente decepcionada e bateu a porta do quarto completamente roxo na minha cara antes mesmo que eu pudesse terminar de saudá-la. Foi tão de repente que me fez dar risada e ignorar seu surto.
Não demorou muito para que ela se esquecesse de tudo aquilo; antes do jantar, ela havia aparecido na entrada do meu quarto, enquanto eu e Joseph fofocávamos, e perguntado à mim como era a França, se haviam muitos concertos de ballet e se havíamos trago presentes para ela. Contei sobre o halloween, sobre os fatos esquisitos de Oliver e sobre a culinária maravilhosa de lá.
— Ames, ano que vem nós podemos comemorar o halloween? — ela perguntou em certo momento, se deitando em sua própria cama. Havia se interessado pelo feriado, e quase não lembrava das vezes que pedimos doces quando ainda morávamos na Inglaterra. — Gostaria de poder visitar uma casa assombrada.
— Qual o problema com a nossa casa? — questionei com a voz séria, vendo seus olhinhos escuros se arregalarem.
— O QUE?
— Boa noite, Evangeline — fechei a porta.
Foi a primeira vez em que tive uma conversa longa com a minha irmã sem que tivesse vontade de chamá-la de pirralha ou lhe puxar os cabelos.
Anne fez dezesseis anos no dia seguinte. Diana inventou de fazer uma festa-de-chá-de-aniversário para a melhor amiga — que entrou correndo dentro da casa por achar que Minnie May estava doente de novo ou por alguma baboseira que o menino que trabalhava para os Cuthbert, Jerry, havia dito — durante aquela mesma manhã. Nós comemos bolo, falamos de garotos, sobre a faculdade e rimos como nunca antes.
Na sexta, voltei a escola.
A mesma sensação de invalidez me apossou e por um segundo achei que não seria capaz de abrir a porta. Joseph segurou minha mão, beijou minhas duas bochechas ("você deve estar acostumada com esses negócios de franceses", ele alfinetou) e me arrastou até a casinha.
Não havia praticamente nada de diferente, não fosse o "romance" de Billy Andrews e Josie Pye e o quadro de avisos — ou melhor, mural de interesses. Alguns colavam recados sobre seus paqueras e comentários engraçadinhas sobre coisas que haviam notado durante o dia.
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blue boy, gilbert blythe
FanficMe perdi em meio as suas palavras, reparando na forma em que seus olhos se comprimiam quando dizia algo. Adorava passar aquele tempo com ele, porque eu o enxergava de verdade - através dos seus olhos, como mamãe diria -; via alguém além do garoto tr...