Tudo o que Pérola Soares deseja é ser uma bailarina reconhecida, dançar no municipal deixou de ser o seu maior sonho e ela agora quer ganhar o mundo em busca de ser feliz fazendo o que ama. Só que Pérola não tem ideia de como vai conseguir bancar is...
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Eu comecei a dançar ballet antes mesmo de começar a dar os primeiros passos. Isso não é uma crítica ou uma reclamação, muito pelo contrário. Eu hoje respiro e vivo ballet.. Não foi fácil conseguir sair do Brasil e vir para o Canadá, mas aos socos e pontapés eu consegui.. Só que eu desejava ir mais longe, eu queria o mundo. O mundo através do ballet e eu iria conseguir.
Minha família foi a principal apoiadora dos meus sonhos e eles sabiam que eu iria ser capaz de conseguir o que eu quisesse nem que fosse uma única vez, mas ninguém tinha dúvida que o meu talento não seria passageiro. Desde que cheguei a Toronto no Canadá eu falo com a minha família todos os dias. Meus pais e o meu irmãozinho Arthur fazem muita falta e eu imagino que faça falta a eles também.
Eu sentia falta do clima, dos meus amigos e de tudo o que eu deixei pra trás ao vir atrás dos meus sonhos.. Bem não digo exatamente por Lucas, eu nunca quis ir aos finalmente com ele pois eu sabia que não era pra ser com ele. Eu também não queria e não achava justo ficar o enrolando enquanto eu vivo a minha vida, por isso nós terminamos três semanas antes da minha viagem e já faziam oito meses que eu estava aqui.
Toronto é um lugar incrível.. Mas não é o Brasil, não tem as mesmas praias que tem no meu Rio de Janeiro. Eu me sinto feliz e triste ao mesmo tempo e isso só vem piorando com a notícia de que eu posso integrar o ballet russo, mas isso não vai ser possível pois os custos são exorbitantes e nem se eu vendesse os dois rins acho que daria conta de bancar tudo. Entre viagens, hospedagem e uma nova roupa e sapatilha tudo fica além do que eu posso fazer e muito além do que os meus pais conseguem bancar.
Nós nunca fomos ricos, tinha mês que a loja dos meus pais dava uma renda bem legal e tinha mês que tínhamos que dividir um pão em quatro. Morávamos em um lugar bacana no Lins, mas não era nenhum mansão a casa era simples e foi uma herança da minha falecida vozinha. O meu pai sempre dizia que eu era uma verdadeira cópia dela, quando ela era mais jovem. Ele fazia questão de mostrar as fotos dela, e eu tinha que concordar os traços eram idênticos, os cabelos e olhei escuros e até o corpo franzino e com curvas no lugar certo.
As fotos de vovó que eu mais gostava era as que estava nos salões de dança de gafieira. O lugar onde ela conheceu o meu avô e eu queria ter uma história assim.. Conhecer o amor da minha vida em apresentação de ballet, nos meus sonhos ele sentaria lá e me admiraria, me aplaudiria e vibrava a cada giro do meu corpo e depois nos sairíamos para jantar e falar dos planos para o futuro dos filhos que teríamos.. Ah como eu queria que aquilo se concretizasse.
—O que está acontecendo Pérola? – escuto a voz de Nora, ela é uma das garotas que também foi escolhida pelo ballet russo. Só que ela não precisa se preocupar com dinheiro o que não é o meu caso.
—Como assim? – devolvi a pergunta.
—Eu estou falando com você a um tempão e você está fora da órbita.
