Noite 1

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E sejam bem-vindos na noite do Vampiro Solitário! 

Nossa história começa na floresta, numa bela noite branqueada pela luz da lua.
Um rapaz, que corria pela floresta fechada com tudo que podia para alcançar seu objetivo.
Ele, corria dando tudo de si, mesmo com a escuridão ao redor não o deixando ver nada, tinha a luz da grande lua o mostrando a frente, inquieto, pedia por tudo e qualquer um que o iluminasse também, pois precisava correr. Ignorou os galhos o puxando para que parasse, rasgando a fantasia que usaria para se divertir mais ao anoitecer, ao menos era o plano.

Ele ignorava tudo ao redor, até mesmo seu corpo que pedia para parar, seus pulmões que não aguentavam mais, a cabeça que girava em torno da Terra, ele não pararia. Pois seu objetivo era tudo que tinha. E sentia que seria sua culpa se algo acontecesse a ele. Numa onda de raiva e culpa que fizeram seu coração bater mais forte dentro de seu peito, acelerou a corrida, seus olhos brilhavam ao ver que estava chegando e seu coração poderia se acalmar dentro de si. O ar não era mais o suficiente, sentia o peito subir e descer descompensado a boca seca e as pernas tremendo os olhos lacrimejando com tudo.

Porque fizeram algo assim? Se questionava. Se ele nunca fez mal a ninguém?

O pequeno garoto nunca esqueceria a cena que sempre atormentava seus sonhos a sua frente.
O brilho da lua deu espaço há um brilho maior ainda. Ao fundo, na vasta floresta, a lua deixava uma grande fogueira passar a iluminar seus passos, uma fogueira que era os restos ainda em combustão de uma casa. A casa deles. Ele. Ao haviam pessoas com galões de gasolina outras com o fogo e outras apenas observavam tudo, contemplando o calor e a purificação que haviam feito em sua cidade.

Izuku os achava doentes. Seu corpo parou atrás do grupo, tomado pelo choque e horrorizado com a visão das belas flores que tanto cuidava esmagadas ao chão a terra destruída pela brutalidade dos outros, a fumaça da casa tampava a lua criando falsas nuvens. Pela primeira vez desde que começou a correr sua mente e seu corpo concordaram em andar juntos, juntos em direção a casa, precisava o tirar de lá. O garoto desesperado esbarrou em todos os tirando do caminho, o que chamou a atenção e antes que chegasse perto o suficiente das chamas foi segurado fortemente por um dos homens o parando.

- Onde pensa que vai?

- Ele vai tentar salvar o demônio! - Gritou alguém ao fundo, raivoso.

- Deveríamos ter deixado ele junto que o outro! - Disse mais um causando murmúrios concordando dos demais.

- Ele não tem culpa de estar assim - Interrompeu uma mulher a voz doce comparada aos brutos ao redor.
Izuku tentava controlar sua respiração, dando mais atenção ao seu peito do que aos murmúrios pedindo sua morte, mordeu seu lábio quando sentia os olhos se enchendo a casa respirar, se recusando a se deixar chorar.

- Izu - Uma mulher de longos cabelos brancos se aproximou delicadamente o encarando profundamente -Eles querem você lá dentro, entende isso? pense em sua mãe, pense em Inko, não faça nada que vá se arrepender, não por isso. Estamos tentando o ajudar, querido.

Quando Izuku encarou os olhos escuros da mulher, sentiu apenas vazio e seu estomago revirando. Nojo.
Assentiu com a cabeça, calado, a doce moça fez um sinal para o homem o soltar, em desgosto, o bruto o jogou no chão quando soltou o menor, o deixando ajoelhado na terra, sentindo o calor o tomar. O calor da raiva, da casa, da tristeza, culpa.

- Está tudo bem agora querido. - Sorria a mulher docemente o ajudando a se levantar. - Você está a salvo agora.

Então, respirou fundo, acumulou ar nos pulmões e assim que se levantou, empurrou a mulher a jogando em cima do homem que o segurava, fechou os olhos e o mais rápido que todo seu corpo mandou adentrou a casa em chamas, lá dentro subiu a gola da fantasia tentando inutilmente tampar a fumaça, olhando ao redor, mesmo que o fogo tivesse acabado com tudo e a fumaça ardesse seus olhos, sabia o caminho. Sabia onde estava.

- Shouto!? - Chamava sem gritar. Sabia que ele escutaria.

Tentou chegar no outro lado da sala. O fogo devorava tudo rapidamente, os móveis, quadros, pinturas, piso e cortinas. Partes do telhado estavam no chão, parte do chão não existia mais, Izuku voltou a correr através da sala tampando a boca com o braço, no meio do cômodo quase ao seu lado uma parte do andar superior caiu aumentando as chamas e a fumaça, Izuku se jogou no chão tampando sua cabeça, começando a se rastejar para alcançar a porta.

- Shouto! - Chamou em meio as tosses. Desceu as escadas para o porão tentando respirar, engolindo em seco tentando molhar a garganta seca.

- I...zuku? - A voz fraca ecoou pelo lugar. Shouto estava jogado no chão com as mãos presas ao chão com estacas de madeira - O que?

- Desgraçados! - Xingou Izuku o interrompendo irritado se abaixando ao lado de Shouto falhando ao tentar tirar as estacas que o prendiam, seu corpo estava cansado demais para tirar as estacas presas. - Porque fizeram isso?!

- Para! - Pediu gritando o que não afetou o menor - O que está fazendo aqui?! está louco? - Shouto questionou irritado apenas o observando se esforçar ainda mais para o soltar.

- Para todos, sim, talvez tenham razão - Respondeu rindo e tossindo seco sentia a fumaça queimando seu interior, mas finalmente tirou uma das duas estacas. Respirando descompensado e pesado voltou a tirar a outra. Shouto o encarou sem reação, tocou em seu braço o manchando de vermelho chamando sua atenção - Tem um buraco na sua mão. - Notou Izuku olhando para o rosto do amado que parecia ainda mais pálido que o habitual.

Ambos se encararam, Izuku viu o mais fundo olhos azuis e cinza do outro, como se olhasse sua alma. Tristeza era o que via, um pedido para que saísse e o deixasse. Shouto, se perdeu nos verdes brilhantes pelas lágrimas que segurava admirando da mesma maneira como sempre fazia, mas como se fosse a última vez, Shouto via a tristeza nos verdes do outro, via também a determinação que sempre o seguia, e que amava. Sabendo que nunca ganharia uma discussão quando via aquele brilho no olhar alheio, assim, também passou a ajudar a se soltar e a sair juntos
.
Izuku se esforçava para continuar mantendo a respiração intacta, sentia sua pele queimando pela fumaça e todo o calor que ali se acumular no seu interior pelo fogo no andar acima descendo para se encontrar com ambos no porão, sua cabeça girava e seu corpo pesava.
Shouto segurou o amado antes que caísse em cima de si. Não o deixaria morrer, não por si, o ajudou a se levantar ignorando as mãos latejando, a pele sensível ao calor queimando como nunca em toda sua vida, e o suor descendo na pele, mas se curaria uma hora e Izuku não tinha o mesmo dom.

- Combinamos que ainda não está na hora, não vamos mudar seu plano - Disse Izuku rouco e tossindo pela fumaça inalada apoiado em Shouto, ainda sorria apesar do mundo pegando fogo.

- Vamos sair daqui então.

Juntos, os dois amados saíram do porão.
O vento quente fez todo o rosto de Izuku queimar igual seus pulmões.
Shouto passou a guiar o caminho. A sala estava completamente em chamas, os resquícios de qualquer móvel que ali já tiveram foram apagados, pedaços do segundo andar e do telhado caiam alimentando o voraz das chamas.

Os dois amantes passaram a correr como podiam. Izuku com as pernas tremendo e com os olhos fechados pela fumaça e Shouto o guiando entre as chamas, a procura de qualquer saída. No fundo da sala, na parede caída havia se criado um buraco. Sua saída. Correndo como podiam, passando pelas menores partes entre as chamas, se salvariam.

- Vamos sair daqui! - Avisou Shouto mais alto que o som das madeiras chorando entre o fogo.

Porém, sem ao menos esperar a esperança lhes foi queimada junto a casa que moravam, uma parte do telhado cedeu acima dos dois rapazes. Izuku podia não ter uma super audição, ou reflexos maiores, mas, ao sentir sedimentos da madeira cair em seus cabelos abriu os olhos momentaneamente apenas para ver como estavam, sentiu o calor aumentando acima, e em reflexo soltou suas mãos das de Shouto, assim que a casa caiu em cima de ambos. Separados novamente por um muro. O rapaz de olhos coloridos se jogou no chão assim que as chamas lhe acertaram o olho esquerdo, o choro da madeira foi maior que seu grito, arfando de dor ignorou, se levantando podendo encarar Izuku do outro lado do fogo. Sem saída.

- Não! - Gritou sem poder se aproximar em meio as chamas. - Não não não!

- Vai! saí! - Mandou o esverdeado entre fortes tossidas. Ainda sorrindo, agora lágrimas caiam de seus olhos, mas não duravam muito pelo calor infernal do lugar - O fogo só vai aumentar!

Shouto, em todos seus anos de vida, sentiu lágrimas caindo em seu rosto, que não duravam pelo calor da casa.

- Não.

- Eu vou voltar! - Jurou o menor para o amado - Eu juro! eu...eu vou! sabe que vou! Juro pela lua que nós guia! certo? - Tossia secamente, já não conseguiria mais respirar, mas a morte não o abalaria - Então, vai e me espera, você tem tempo. Não vamos deixar eles ganharem, por...eu te amo! E ela sabe disso!

Shouto não conseguiu dizer nada, mais pedaços se cederiam em breve e cairiam, estava num dos maiores conflitos que já teve, lutava para acreditar nas palavras do menor, e como sempre dizia a si mesmo, acreditava no que dizia. Assim, naquela noite brilhante, mas não tanto quanto o fogo da casa queimada, Shouto deixou Izuku morrer, e Izuku morreu para se encontrar com Shouto.


Mas essa história não acaba assim, na verdade, você não deve estar entendendo nada. Perdão, sou muito acelerado em contar minhas histórias, ainda mais esta, acho que comecei no final do início. Vou explicar melhor, do início do início desta vez.
Izuku Midoriya, um mero rapaz aos seus 17 anos de vida. Uma bela idade, certo? para os humanos sim. Izuku sempre foi, e ainda é, um doce e belo rapaz, encantando a todos com seus cachos esverdeados, seus olhos esmeralda que combinavam com as sardas espalhadas por seu rosto. Sempre conhecido como um menino imprudente, mas extremamente inteligente, sobretudo, esquisito por seus gostos de leitura e sua inteligência avançada.

Izuku sempre ajudou a comunidade, sem pai desde que nasceu, apenas teve sua mãe, Inko Midoriya, outra doce mulher e amada por todos do vilarejo como exemplo. Inko sempre o ensinou a amar, amar como se houvesse outro dia, para assim amar mais ainda, e não se importar com que os outros dirão, afinal, o amor será apenas dele, mas também ensinou a amar a pessoa certa. E foi o que Izuku fez quando assim se encontrou com Shouto Todoroki.

Já, Shouto Todoroki, outro mero rapaz aos seus 118 anos de idade. Uma boa idade para um ser sobrenatural, um vampiro, Shouto sempre foi conhecido por todos os vilarejos que viveu como um maravilhoso rapaz, fechado e reservado, e de uma beleza única, com seus olhos azuis e cinza e seus cabelos vermelho e branco. Conhecido como muitas coisas em todas as vidas, tendo dos mais variados títulos e conquistas, mas nunca parou para realmente aproveita-las.

Shouto passou por várias comunidades e reinos e cidades, de várias épocas diferentes, vendo o ao redor evoluir e vivendo junto aos outros, ás vezes sendo expulso por descobrirem o que era. Sua família, mãe, pai e quatro irmãos são todos sobrenaturais, menos sua querida e falecida mãe, a pessoa mais gentil que já teria pisado em Terra. Shouto foi ensinado que se quisesse algo, era apenas ter, mas acima de tudo, ser cuidadoso com a forma que o consegue para não se revelar atoa. Shouto sempre se fechou aos humanos com o passar dos anos vivendo e se entediando com os que iam e vinham. Mas, por alguma razão, Izuku era diferente e chamou sua atenção.

A história na verdade começa com um fantasma. Uma alma que já se foi, mas continua aqui.
Um mero rapaz que acordou no nada, não tinha nada a não ser a roupa no corpo, uma fantasia, surpreendentemente, de fantasma rasgada e queimada e uma lamparina que segurava, nem memórias tinha para saber o que fazia ali, no meio da estrada.
Estava zonzo, e por mais que não estivesse tecnicamente vivo, sua cabeça doía assim como o resto de seu corpo. O rapaz se levantou assustado quando começou a pensar e reparar aonde estava, veículos passavam ao seu redor e por dentro de si. Primeiramente, tentou andar para sair da estrada para assim pensar melhor, e com dificuldade e assustado, começou a listar as coisas que notava:
1) Estava flutuando e não andando;
2) Estava transparente e invisível para os outros;
3) Não fazia ideia de aonde estava e porque estava ali;
4) Estava morto.
Pontos negativos. Agora os positivos:
1) Sabia seu nome: Izuku Midoriya.
(de acordo com a lamparina)

É, era apenas isso. Mas, era algo!
Respirou fundo tentando se acalmar e acalmar a dor na cabeça. Como podia estar morto e ainda sentir dores? okay, uma coisa de cada vez.

- Se acalme Izuku - Disse a si mesmo. Notando que as pessoas andavam de cabeça para baixo. O que estranhou, até reparar que si mesmo flutuava de cabeça para baixo.

Tinha que começar a se controlar primeiro.
Se concentrando nisso, conseguiu rodar e voltar a ficar em pé.
Primeiro passo, feito.

Depois, passou a analisar aonde estava.
As casas eram estranhas, mas simples, feitas de tijolos, quase do mesmo tamanho cada uma, as que eram pintadas tinhas cores claras, portões de metal ou muros baixos e portas abertas, poucas haviam sacadas as enfeitando. Pessoas estavam paradas nas portas e degraus das casas conversando. A rua que estava a pouco tinha mais crianças do que veículos.

Confirmou a teoria de que era invisível as pessoas quando algumas crianças correndo passaram diretamente por dentro de si, o que lhe deu um calafrio.

Segunda observação: Podia ainda sentir coisas.
Ficou ali parado, com o grupinho caçoando as duas crianças menores por estarem com medo de alguma lenda local no Halloween. Izuku prestava atenção, com um pouco de dó dos dois menores, quando sentiu algo passando si, não soube o que era, apenas uma rápida e intensa sensação estranha que fez seu coração bater mais forte, como se flutuar em cima de crianças fosse normal, como uma ventania o levando a desviar o olhar dos pequenos. Izuku olhou para todos os lados tentando encontrar o motivo de tal sensação, observou melhor as pessoas andando e conversando na calçada, um rapaz e uma menina andando juntos, namorados, um rapaz de cabelos coloridos em duas partes mexendo num aparelho estranho e de moletom no calor, outro grupo de adolescentes conversando e se zoando alto demais, vizinhas fofocando e as crianças ainda se desafiando.

Além de morto e sem memória estava paranoico. Ótimo.
A sensação ainda estava consigo o incomodando, como se faltasse algo, sentia o peito comprimido dentro de si. O que foi estranho, era como estar vivo de novo, mesmo que não se lembrasse como era. Voltou a olhar ao redor, o menino de cabelos coloridos já havia virado a esquina rápido demais, como se houvesse sumido. Então, como não havia mais nada a fazer, Izuku passou ao seguir, poderia entender no que o menino tinha em mãos.

Conseguindo flutuar melhor virou a esquina, encontrando o mesmo parado junto demais outros adolescentes que o cumprimentaram, o rapaz de duas cores parecia desinteressado aos questionamentos deboches por finalmente ter saído com os amigos de dia e não a noite como preferia. Izuku os seguiu quase o dia todo, e eles eram bem divertidos, ficou levemente triste por, em um segundo, imaginar como seria estar no meio de tanta gente que ria sem parar, as vezes por nada, sério. Parou de pensar nisso e começou a passar novas informações.

- O que o rapaz tinha em mãos era um celular;
(ainda não sabia o que era e para que servia)
- Que ele não fazia nada nele, apenas fingia para não falar com os amigos;
(não ficou flutuando ao seu lado para saber disso);
- E que seu nome é Shouto Todoroki;
- Possivelmente o conhecia.

A última era uma especulação de sua cabeça.
Pensou que estivesse louco ou desesperado de início, ou se havia hospitais para fantasmas ou centros de ajuda para fantasmas loucos e desesperados depois.

Quando descobriu o nome do garoto era como se já o soubesse, um de seus amigos apenas o tinha chamado de "Todo", e antes que percebesse estava completando o sobrenome do estranho e depois, sabia do primeiro nome do mesmo. A sensação de o conhecer apenas aumentou quando, enquanto o seguia sem descrição alguma, Shouto parou e pareceu procurar por algo, e, por um minuto, encarou Izuku sem saber (ao menos era o que achava) e quando não viu nada e um de seus amigos gritava por si, Shouto voltou a andar.

Izuku não sabia se foi pelo fato de supor que o conhecia, ou se foi o mais perto de um contato que realmente teve com alguém desde que havia acordado, mas os olhos também diferentes de Shouto o hipnotizaram, junto de uma cicatriz de queimadura que envolvia todo seu olho esquerdo, que parecia não estar no lugar certo, que não deveria estar ali, e não pelo fato de o deixar feio ou estragar seu rosto, era o oposto, mas parecia errada.

Foi então, por essa sensação vivida que sentiu, que o seguiu o dia inteiro. Até sua casa.
E nessa caminhada toda (flutuada) houve mais e mais momentos que Shouto parava e olhava ao redor e voltava a andar novamente. Questionado sobre isso, apenas dizia que nada era e entrava no assunto dos amigos.

Shouto morava fora dos limites da cidade, com uma pequena caminhada pela trilha na floresta ela se abria numa clareira e lá era sua casa, uma casa de madeira de apenas um andar mais simples que as da cidade, mas mais arrumada também, Izuku a achou adorável e aconchegante, se é que pudesse achar algo aconchegante quando morto, o que mais lhe encantava era o jardim que possivelmente Shouto criará, haviam vários diferentes tipos de flores em todo espaço vazio, de amarelo as brancas as vermelhas e roxas, Izuku ficou encantado.
Shouto passava pelas flores normalmente, entrando em sua casa como fazia todos os dias.

A noite já havia caído e estava extremamente cansado. Havia se arrependido de ter saído naquele horário com o calor infernal, por estar desacostumado deve ter enlouquecido, esperava.

A casa de Shouto era completamente escura. Izuku mal enxergava nada a sua frente, o que seria um problema se não pudesse simplesmente atravessar o sofá assim como fez com as paredes, mas Shouto andava pelo lugar sem se bater em nada. Tirou o celular do bolso o colocando na mesinha a frente depois o moletom o jogando em cima do sofá e logo se jogando depois.

- Estou ficando louco não é possível. - Falou Shouto tampando os olhos com o braço aproveitando o silencio que muitas vezes parecia o matar, mas agora o aliviava. Suspirou cansado. Estava exausto demais para se levantar e pegar algo para beber.
Izuku o observava de frente, flutuando acima do sofá.

- Eu pego insolação? - Questionou-se Shouto, sua cabeça doía como se o telhado tivesse caído em cima de si. Não era de dormir a noite, sempre viveu melhor naquele horário, mas quando saia de dia daquela maneira, apenas conseguia se sentir melhor na noite seguinte.

Gostava dos amigos que havia feito, serviam para passar o seu tempo quando o silencio iria realmente o matar, mas as vezes eles eram exaustastes demais, ainda mais na época do Halloween onde não tinha cabeça para nada.
Falando em seus amigos, seu celular vibrou com as mensagens dos mesmos questionando se havia chegado "no canto do mundo" como chamavam onde morava. Izuku diminuiu a altura chegando perto para ver as mensagens, e aí a confusão começou.

Enquanto Shouto lia e respondia as mensagens de preocupação dos amigos, Izuku lia flutuando acima da sua cabeça, por um instante, Shouto sentiu um frio estranho arrepiando seu corpo, o que o deixou em alerta, parando de responder as mensagens. Ficou quase um minuto olhando o nada a sua frente, os sons de mais mensagens o despertaram. Não ficou nem um minuto focado, Izuku lia tudo atentamente e outro arrepio deu em Shouto, irritado, se despediu dos amigos e desligou o celular se levantando do sofá e, novamente, sem reparar, ficou cara a cara com Izuku. O verdinho o encarava atentamente, não conseguindo desviar os olhos da cicatriz do rosto alheio, ainda mais quando Shouto também o encarava. Parecia assustado e incrédulo. O que só deixou o fantasma mais curioso.

Shouto respirava com dificuldade com as sobrancelhas franzidas, não estava dormindo para ter um sonho tão vívido. Fechou os olhos com força se forçando a respirar normal, odiava o Halloween e o jeito que mexia com sua cabeça depois...apenas não gostava, resolveu ignorar a loucura e ir pegar algo para beber. Passando por dentro de Izuku e indo à cozinha.

- Ele... - Se questionou alto o seguindo. Ficou extremamente confuso, mas não assustado, com o fato de Shouto ter pilhas de bolsas de sangue em sua geladeira, em toda ela. Shouto parou na frente da mesma aproveitando o ar gelado lhe arrepiando, pegou um pacote de qualquer tipo de sangue sem nem colocar num copo. Tinha que parar de enlouquecer por todo Halloween, tinha que parar de pensar e se machucar tanto, de lembrar dos antigos momentos, suspirou cansado novamente. Se virou e deixou o saco cair no piso de madeira quando se deu de cara com Izuku. O vendo, de verdade.

Shouto não acreditava, não podia, fechou os olhos novamente e quando abriu ele ainda estava lá, vestido como um fantasminha o encarando confuso e atento do outro lado da mesa. A lua podia estar brincando consigo. Logo, Izuku também arregalou os olhos quando se deu de conta do que acontecia.

- Você me vê?! - Questionou alegre não podendo conter o largo sorriso.

Shouto assentiu forçando o corpo a continuar parado e não ir correndo ao sorriso que via novamente.
Izuku começou a flutuar por cima da mesa de tanta animação, o que assustou Shouto.

- Me vê mesmo? - Perguntou apenas por precaução.

- Sim... - Apesar de vaga, sua resposta animou mais ainda o fantasminha que flutuava para mais perto. Shouto recuou dois passos e Izuku reparou parando também. - Você está morto? - Questionou Shouto por precaução. Não fazia sentido estar assustado, tecnicamente também estava morto.

- Sim? - Respondeu Izuku quase incerto.

Shouto respirou fundo focando o celebro a se concentrar no presente, unindo todas as ações do menor e o pouco que conhecia sobre fantasmas.

- E... sabe como?

Izuku parou de sorrir. Shouto se sentiu culpado por isso. Izuku negou sem jeito, pousando no chão há poucos centímetros de distância do outro.

- Sabe o que sou?

Perguntaram ao mesmo tempo.

- Sabe quem sou?

- Não, deveria? - Respondeu Izuku confuso pensando em todo sangue na geladeira.

- Não...- Respondeu Shouto não conseguindo olhar nos olhos verdes.

Izuku entristeceu. Havia esperança e uma sensação estranha perante ao outro.
Shouto, não sabia ao certo, mas sentia que era o certo a se fazer. Por Izuku. Por um futuro.

- Mas, sei como te ajudar. - Interrompeu Shouto o silencio, analisando a figura transparente do menor.
Izuku se animou novamente, confuso, mas animado.

- Conheço um...amigo? acho que posso o chamar assim, ele conhece tudo sobre qualquer coisa sobrenatural, principalmente mortos. Ele deve estar perto daqui, sempre está perto de mim mesmo...- Contou Shouto a última parte sussurrando, encarou o menor forçando um sorriso mínimo - Vou te levar pra ele, ele vai saber o que fazer.

Izuku sorriu voltando a flutuar.

Nota número 1: Controlar as emoções para não flutuar até a Lua e não saber como voltar.

Shouto virou as costas voltando à sala para ir ao seu quarto. Precisava, urgentemente mais do que nunca de um tempo para processar tudo o que acreditava e ligar para Yagi Toshinori e avisar de sua ida e deu seu...problema.
Izuku o seguia acima. E agora Shouto entendia a sensação que havia tido durante todo o dia.

- Então. O que você é? - Perguntou o fantasma poucos centímetros atrás do dono da casa.

- Um vampiro.

- Então tecnicamente também está morto.

- Essa é sua primeira reação? - Perguntou curioso ao menor.

- Acho que nada me surpreende depois...disso - Respondeu apontando para todo seu corpo. Shouto o encarou de cima a baixo, parando de andar perto da porta de seu quarto. - O vampiro tem nome? - Tudo bem, já sabia seu nome afinal o seguiu o dia todo e leu o que seu celular falava, mas precisava de algo para conhecer o dono da casa que o guiaria a alguém que o entendesse.

Achou melhor começar pelo nome do que pelo "Você é o Drácula?"
"Você conhece o Drácula?" (Caso resposta seja não.) "Drácula é real?" (deveria começar por essa)

- Shouto Todoroki.

- Izuku Midoriya. - Contou sorrindo simpático para o outro.

- Provavelmente eu vou dormir, muito - Avisou mentindo pela segunda vez, sabendo que ficaria acordado por ter perdido completamente o sono e o cansaço. Evitando novamente ao olhar - Podemos sair amanhã à noite.

- Claro! tudo bem. Er...Boa noite?

"Vampiros dormem a noite?" também se questionou em pensamento.

Shouto nada respondeu apenas adentrou seu quarto e deixou Izuku na sala. Sozinho. Sabendo que o veria na noite seguinte.

Halloween ✔ (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora