034 - For Olívia

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Como o café escolhido ficava afastado da grande avenida, foi fácil pegar um atalho pelas ruas paralelas até chegar ao nosso destino. O caminho foi silencioso até aquele ponto, minha cabeça matutava os assuntos que eu queria desabafar com Dafne, sobre meu pai, a empresa e a tensão da audiência, que estava cada dia mais próxima.

O que me deixava mais tenso era ter que expor aspectos da minha vida que, no início do nosso envolvimento, eu prometi a mim mesmo que não revelaria a ela. Mas não daria para desabafar e deixá-los de fora. Era a hora de me apresentar inteiramente para Dafne e deixá-la saber muito mais do que apenas meu primeiro nome. Claro, ainda escondendo a parte da farsa ao lado de Meester.

— Você é um pai muito babão, Harry. — Me dispersei ao vê-la se inclinar até onde minhas chaves estavam na ignição e pegar o chaveiro que tinha uma foto de Olívia. Soltei um riso tímido. — Meu pai é igualzinho, tem foto minha em tudo quanto é lugar.

Me mantive calado enquanto manobrava o carro para estacioná-lo numa das vagas em frente ao estabelecimento, que estava até vazio para o horário que já era. Ao ter aquele pensamento, lembrei-me de me atentar as horas, já que logo teria que ir pegar Ella no trabalho.

Escolhemos a costumeira mesa dos fundos, o mais longe possível da fachada e das outras paredes de vidro do local. Dafne continuava paranoica com aquela coisa de sair com um homem casado, apesar de não estarmos num clima para pegação no momento. Ela tinha entrado no carro sem me beijar, provavelmente percebendo que o assunto era sério.

— O que houve? Não me diga que são problemas no casamento. — Seu olhar preocupado focou-se em mim assim que terminamos de fazer os pedidos e o atendente deixou nossa mesa, levando consigo os livretos dos cardápios.

— Na verdade não, — Sorri contido, vendo seu rosto se iluminar imediatamente. Era bizarro ver uma amante comemorando o sucesso do casal do qual fazia parte, mesmo que sendo uma intrusa. — as coisas estão ótimas entre a gente.

Não me prolonguei, tinha um trato com Meester, e assim como todos os outros que fizemos desde que nos casamos, eu iria honrá-lo. Até porque eu não queria deixar brecha nenhuma para Meester poder falar sobre nós com Tom, e para isso eu teria que ter moral para falar algo, caso acontecesse.

— Que susto, por um momento achei que as coisas tinham piorado entre vocês. — Levou a mão ao peito, aliviada.

Neguei com a cabeça, foi bem o contrário. Aliás, pra piorar as coisas entre nós do jeito que éramos antes da trégua, só se saíssemos nos tapas como fazíamos quando crianças.

— Estou feliz por vocês, por mais estranho que possa parecer. — Encolheu os ombros soltando uma risadinha, fazendo-me imitá-la. — Vocês dois são muito novos, ficam lindos juntos e ainda por cima tem uma filha. Seria muito cedo para desistir.

Por incrível que poderia parecer, mesmo que as coisas não tivessem sido fáceis para nós no início, com a convivência difícil, adaptação e Miguel nos infernizando, nunca nos passou pela cabeça a ideia de desistir. Ella já deu seus chiliques vez ou outra, porém duvido muito que não tenha sido tudo da boca pra fora.

Depois de tudo o que passamos até ali, desistir parecia ser uma ideia estúpida desde o princípio. Antes, pensar na possibilidade de estar casado do dia pra noite e ser pai sem os nove meses de preparação psicológica parecia a coisa mais difícil que eu faria na vida, lembrava-me de ter quase tido uma crise asmática minutos antes do casamento pensando em tudo o que viria pela frente. Mas, estranhamente, mesmo com as dificuldades, estava sendo mais fácil do que imaginei.

— As fotos que me mandou na viagem já deixavam claro que as coisas estavam se ajeitando. — Apoiou o rosto na mão. — Você estava todo felizinho nelas. — Quase franzi o cenho, porém não o fiz para não dar bandeira.

Ruin my life - H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora