023 - Kiss it, kiss it better, baby

542 17 3
                                    

Cheguei do trabalho sozinho no carro, já na correria para colocar as coisas no táxi que nos levaria ao aeroporto. Eu tinha trabalhado meio período naquele dia, já Meester não tinha ido, por conta do pequeno recesso anual que o Sr. Williams dava da lanchonete para poder passar a virada de ano em outra cidade com a família. Fui à empresa somente para colocar as coisas em ordem e deixei o prédio já praticamente vazio, com apenas a segurança operando normalmente.

Já tínhamos nos despedido de Elisabeta, que não conseguiu nos acompanhar naquela viagem, era compreensível ela querer passar aquela data do ano com a família e longe do trabalho. E, também, aqueles três dias de descanso também eram intencionais para que pudéssemos aproveitar Olívia e cuidarmos dela sem precisar dos serviços da babá.

Bufei fechando o porta-malas do Siena amarelo enquanto ouvia as vozes detestáveis tagarelarem sem parar. Tom estava parado no meio fio, sorrindo leve sem tirar os olhos da boca de Meester, que falava mais que papagaio com Salém nos braços. Por conta da fuga do bichano, Ella decidiu que Dormian seria uma boa escolha para deixar o gato enquanto estivéssemos fora, visto que da primeira vez o médico cuidou bem dele.

Discutimos aquilo, porque era óbvio que Ella poderia tê-lo deixado com Tiffany ou Anne, mas Ella insistiu que Fanny não tinha responsabilidade e que o gato de Annelise não se daria bem com Salém. Teria que ser o babaca do Tom então, mais um favor que Ella iria dever a ele e que não me deixava nem um pouco tranquilo.

Eu era homem e nos conhecia o bastante para ter certeza de que uma hora Tom arranjaria um jeito de cobrar Meester por tudo o que ele lhe fez. Nenhum de nós é altruísta de verdade com uma mulher que estamos a fim de pegar, sempre há segundas ou terceiras intenções. E eu sabia que ele tinha milhões delas com Ella, apenas confirmei minhas suspeitas depois de ver o jeito como ele tocou o corpo dela na noite de Natal.

Tom iria vir em busca de mais, eu tinha certeza daquilo.

— Vamos, Ella, não podemos chegar atrasados! — Berrei após terminar de afivelar a cadeirinha de Olívia.

— Eu já vou! — Abanou o ar, voltando a se virar para Tom, deixando-me estressado.

Ella enfim deu o gato para o loiro, não antes de beijar e apertar o coitado com força. Eu tinha certeza que se Salém falasse ele mesmo já teria enxotado Meester dali, só para ter a paz de se livrar dela novamente.

Rumamos para o aeroporto em silêncio, com apenas o rádio do carro tocando baixinho e embalando o sono de Olívia, que estava prestes a fazer sua primeira viagem internacional e de avião. Esperava que ela se comportasse, as pessoas não costumam ter a noção de que não controlamos o choro dos bebês e fazem reclamações quando eles choram, como se nunca tivessem sido daquele tamanho e já tivessem nascido adultos.

Eu realmente não estava a fim de arranjar briga no voo, então torci para que tudo desse certo.

Esperamos uns minutinhos já no aeroporto e logo pudemos embarcar. O pessoal já tinha ido no dia anterior, por conta das passagens compradas com um intervalo de tempo, só conseguimos para aquela data, então iríamos sozinhos para o meu mais profundo alívio. A viagem duraria dez horas, com apenas uma conexão, mesmo assim seria muito estressante ficar preso num avião e ainda por cima me preocupar em alimentar aquela mentira.

— Não vai me dizer que tem medo? — Observei quando Ella respirou fundo ansiosa, praticamente se fundindo ao assento quando os avisos das comissárias acabaram e fomos instruídos a colocar o cinto de segurança.

— Não é medo, eu só não me sinto confortável. — Era medo sim, a conhecia bem o bastante para saber mesmo que Ella negasse.

Neguei com a cabeça segurando o riso ao ver sua expressão genuína de pavor quando o avião começou a se mover na pista do aeroporto. Suas mãos apertaram os dois lados do banco enquanto a loira fechou os olhos com força, respirando irregularmente.

Ruin my life - H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora