038 - That's marriage, baby

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Assim que chegamos, Ella foi dar banho em Olívia e eu pude tomar o meu tranquilo, sabendo que depois trocaríamos para que ela tivesse sua vez. Era engraçado como nos dávamos tão bem sendo pais mesmo sem quase nenhuma ajuda além dos poucos dias que Theresa esteve em casa ou das dicas de Elizabeta e Victória.

Não tive meus pais fazendo metade das coisas que Ella e eu fazíamos com Olívia, minha mãe sempre contratou babás e meu pai provavelmente me pegou no colo pouquíssimas vezes enquanto eu era bebê, me perguntava como devia ser falar aos quatro ventos que era um pai ou uma mãe sem ter vivido a experiência completa.

Lembro que quase cheguei a entrar no centro cirúrgico para o parto de Grace quando ela deu a luz, hoje em dia sinto que foi melhor eu não ter ido mesmo, não iria suportar vê-la partir. Não conseguia imaginar minha reação ao ver tudo dando errado após ter minha primeira visão da minha sobrinha vindo ao mundo.

Mas, no futuro, era algo que eu gostaria de presenciar.

Na minha conversa com Ella não falamos de mim, acho que ela presumia que eu não iria querer ter outros filhos depois de tudo o que passamos com Olívia, ou vai ver minha vida de antes a influenciou naquele achismo sobre mim. Nunca tinha pensado em ser pai, era muito jovem para me preocupar com esse detalhe. Acho que, no fundo, eu acreditava no que minha mãe sempre me dizia, algo sobre algum dia eu encontrar uma esposa e aí sim formar uma família. A ordem dos fatores se bagunçou em meio a perda de Grace, mas não alterou o resultado final de qualquer forma. Acho que depois de ser pai pela primeira vez, eu me via sim com vontade de ter outros filhos, me descobri apaixonado pela paternidade e todo o amor que um simples bebê me fazia sentir ao apenas existir.

É claro que encontrar uma parceira para aquilo não seria uma tarefa fácil, eu me conhecia, e minha mãe também, por isso ela sempre previa meu casamento para quando estivesse bem mais velho por conta do meu problema em permanecer com alguém por dois anos, no máximo. Talvez a falta de maturidade tivesse influenciado naquilo. Não conseguia prolongar sentimentos, em alguns relacionamentos que tive, nem sei dizer até hoje se eles existiram. Eu gostava muito do início, quando existiam descobertas, os defeitos eram mascarados, era tudo envolto de muito sexo e desejo...mas depois as coisas esfriavam, alguns defeitos eram incompatíveis, o tesão acabava, não sei...acho que nunca cheguei a amar alguém, na verdade.

Aos meus vinte e quatro anos, ainda encarava o amor como uma lenda urbana, daquelas sobre sereias e seres mitológicos, aqueles que são tão absurdos que só se víssemos com nossos próprios olhos acreditaríamos na existência, sabe? Meus pais sempre foram tão frios, e os casais apaixonados dos filmes sempre me passaram uma imagem falsa, justamente por nunca ter sentido tal coisa ou presenciado todo aquele afeto dentro de casa.

Apesar da minha descrença, me via curioso sobre, saber se o amor entre um casal realmente existia e se era tão forte como diziam ser, se suportava mesmo a tudo e fazia com que o os anos de vida se parecessem poucos para viver ao lado de alguém. Se existisse mesmo, eu queria senti-lo. Sabia que tinha uma parcela de culpa por nenhum dos meus relacionamentos terem sido duradouros, porém tinha esperança de descobrir o tal do amor, achava que talvez ele fosse a solução de todos os meus problemas e, por que não, o motivo para que eu um dia me casasse e formasse uma família junto de Olívia?

E de Ella, é claro, afinal ela seria...minha ex mulher.

Estranho pensar naquela nomenclatura, visto que até um tempo atrás nem amigos nós éramos. O fato era que jamais iríamos esquecer o que estávamos vivendo e o que ainda iríamos viver até que aquele casamento se findasse. Nós três éramos uma família. Não existia ex-família, mesmo que eu me casasse algum dia e Ella também fizesse o mesmo, ainda continuaríamos sendo uma família.

Ruin my life - H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora