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Bianca se remexeu esticando o seu braço direito e encontrou o lugar vazio. Rolou na cama apenas para confirmar que estava sozinha, apesar do cheiro da sua companhia da noite passada ainda estar presente. Virou-se de barriga pra cima e abriu os olhos suspirando. Pegou seu celular na mesinha ao lado da cama e conferiu as horas. 7:05. Fazia aproximadamente duas horas que tinha se deitado para dormir e já estava acordada.

Maldita Rafaella e sua mania de levantar cedo para correr na praia após deixá-la mal acostumada com seu contato na cama.

Decidiu se levantar logo e preparar um café para quando a mineira chegasse. Quem sabe conseguiriam comer juntas? Pegou sua calça moletom jogada na cadeira, a vestiu e caminhou para o banheiro pra realizar sua higiene matinal antes de sair do quarto.

Passando pela sala percebeu sua colega de apartamento sentada no sofá vestida com uma calça legging e um top, segurando uma xícara de café na mão e a mente distante, observando o horizonte.

— Caiu da cama hoje? — Bianca sussurrou próxima ao ouvido de Rafaella que saiu do transe que se encontrava.

— Cê sabe que eu gosto de correr cedo.

— Já foi e já voltou? — a loira afirmou com a cabeça — Acordou que horas?

— Pouco antes das seis. — responde dando espaço para a morena sentar ao seu lado.

— O que tá passando nessa cabecinha, hein? — cutuca a têmpora da outra com seu indicador. — Você só acorda cedo assim quando tem algo te incomodando.

— Só to tentando organizar alguns pensamentos.

Bianca ficou em silêncio observando sua amiga alguns segundos. Conhecia bem Rafaella, sabia exatamente no que ela estava pensando.

— Tu ainda não tirou da cabeça aquela ideia de "aumentar os negócios", não é? — suspirou.

— Cê também não tem vontade? — encara os olhos castanhos.

— Olha onde nós estamos, Rafa. Temos um ap maneiro na zona sul, não ostentamos mas conseguimos comprar tudo que precisamos. Quando você nos imaginou conseguindo tudo isso? 

— Sempre?! Isso é o mínimo, Bia! — aumenta um pouco o tom indignada — A realidade é que eu nunca sonhei com isso aqui. Morar de aluguel em um apartamento classe média, numa área classe média e viver uma vidinha classe média? — indaga gesticulando com as mãos — Além do que não da pra viver a vida toda de golpezinho, uma hora o caldo entorna para nosso lado e aí?! Que reserva nós temos de garantia?

Viu dúvidas se formarem no olhar de Bianca, que fazia uma expressão contrariada. Sabia que a carioca não era tão ambiciosa quanto ela mesma e até achava fofo esse jeito da mais nova, mas não poderia ser ingênua. Quando tocava nesse assunto não falava só sobre subir na vida por subir, também pensava no melhor para si e principalmente para a amiga.

— Eu nasci para coisas grandes, Bia. Eu quero viajar o mundo; conhecer lugares; culturas; comprar o que me der vontade; sem nunca mais me preocupar se vou ter o que comer no dia seguinte. Eu quero viver! De verdade! — diz segurando a mão tatuada ao seu lado — E nunca mais na vida aceitar ser distratada por conta da nossa classe social ou pela forma que estamos vestidas.

— As vezes você fala igual a ele. — responde vacilante — Me assusta.

— Eu não sou o Josué, Bianca! Eu nunca faria uma loucura e meteria os pés pelas mãos. E principalmente, eu nunca te deixaria. — faz carinho com o polegar no dorso da mão que segurava vendo a carioca soltar o ar pela boca.

CRIMINAL - RABIAOnde histórias criam vida. Descubra agora