Um Vegetal

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Nas semanas que se sucederam, comecei a perceber que os dias estavam passando mais rápido. Não. Eu que estava pensando mais devagar. Não só mais devagar como mais abstratamente. Parecia que eu não conseguia me focar em nenhum pensamento mais concreto e viajava demais nas histórias que passava ao Erick.

Eu também estava sonhando menos e com coisas mais vagas do que antes. Esses sonhos já não eram mais uma escapatória. E eu nem sentia vontade de escapar. O tédio não estava mais lá. Eu me contentava em ficar relaxando e viajando em pensamentos vagos o dia inteiro.

Essa tendência continuou, e logo eu não falava quase nada para o Erick e não pensava em nada específico. Só deixava minha mente seguindo um curso pacífico de pensamentos vazios. Quando tentava formular algo, saía mais ou menos assim:

— Eu estava... Estava é uma palavra engraçada, me lembra que estou falando no passado... Eu sou o Yonos do passado somado à algumas experiências... Do que estava falando? Não sei. Não saber é muito louco. Mas o que eu não sei? Muita coisa. Talvez tudo...

O tempo foi passando sem eu perceber, pois estava em paz. Em algum momento parei totalmente de sonhar, de falar e até de pensar. Eu era praticamente um vegetal. E, em algum momento daquele marasmo, morri.

Cego, Surdo e TetraplégicoOnde histórias criam vida. Descubra agora