(Narradora)
As máquinas sempre foram simples para Hatsume Mei. Cada peça tem apenas um significado, função específica e clara em um todo que pode ser compreendido pelo olhar certo. Pessoas nunca foram seu forte. Algumas são boas, outras ruins, outras numa linha cinza indefinível e pior, podem ser voláteis, sem propósito, mudar de ideia ou mudar de lado durante um mero pensamento. Confiar em pessoas tem uma probabilidade muito maior de terminar em decepção do que algo que você mesmo constrói, isso é, se você se assegurar de que nada em sua máquina tenha sentimentos ou capacidade de quebrar regras.
Click click
A peça se encaixou no lugar certo e Hatsume parou seu trabalho para observar o layout do equipamento final, satisfeita com o resultado que conseguiu até o momento. O copo de café foi virado em um movimento treinado, e ela parou para pensar em como, pela primeira vez, saiu de sua zona de conforto para tentar avançar em uma paixonite - alguém que atraiu o lado irracional do seu cérebro e que busca por parceiros de acasalamento, ela quase queria rir. A primeira vez que criou coragem para fazer algo (por menor que fosse) e como o esperado, deu errado. Sabia que era só uma atração boba e que passaria em questão de semanas. Não mentia para si mesma; estava plenamente consciente de que iria doer. O que não daria pelo coração programável das máquinas! De corpo suado pelo carregamento de partes pesadas para lá e para cá, mal ouviu algo até alguém interromper sua ilha de pensamentos.
- Mei-chan! - ele cumprimentou animadamente.
A de cabelo rosa registrou a presença de maneira incerta. Quando ele estava em missão, ia direto ao ponto em frases apressadas e com o rosto corado.
- Oi! Quer fazer alguma alteração nos seus equipamentos ou veio aqui para falar alguma merda? - ela ajeitou as costas e o observou com cautela.
Mineta sentiu sua reputação sendo jogada nos holofotes e visivelmente se encolheu.
- O quê? Relaxa! Eu... só queria conversar.
- Você só fala com as garotas par- ela elaborou, pensando que talvez ele não tivesse entendido.
- EU SEEEEI! Caaalma! - Mineta interrompeu, já frustrado, mas usando um sorriso divertido.
Ela continuou a esclarecer:
- ...E não vai conseguir sexo casual comigo. Estou ocupada. - não esperou ele explicar.
- Nooossa! Já aonde a minha fama me levou! - o sorriso dele se esvaiu no meio da frase, tomando um tom sério e deprimido. - Estou um pouco solitário. Não me dou bem com as garotas... - se jogou no chão de maneira dramática, sem conseguir nem mesmo um olhar de relance da outra.
- Entra pro time. - murmurou de volta.
Minoru Mineta disparou um olhar curioso em sua direção.
- Você é bi? - o sorriso malicioso dele abriu-se instantaneamente.
- Não foi isso que eu quis dizer. Mas... eu nunca testei... - a rosada deu de ombros.
Mineta observou-a puxar uma bolsa debaixo da mesa, abrir o zíper e procurar por alguma coisa, só para puxar dois sacos de sanduíche vazios e amassados.
Ela encarou os sacos de modo incrédulo como que desejando que sanduiches novos aparecessem por mágica. O rugido da barriga da rosada praticamente fez Mineta se engasgar com saliva enquanto ria, mas ao dar um passo em falso pisou na bolsinha de parafusos caída encontrou-se com o chão, espatifando a cara com a parte cheia de graxa.
Mineta levantou-se com os cotovelos na superfície gélida e escorregadia, dizendo atrocidades para a divindidade dos hentais, que sempre o desfavorecia, em pensamentos.
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As pistas
Teen FictionDois anos depois, ainda na U.A., Uravity se aproxima muito de Midoriya, e eles viram melhores amigos por algum tempo. O problema é que ela não conseguiu manter seus sentimentos suprimidos. Havia escondido por tantos anos... E, no último ano, se afas...