Capítulo 4

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Antes

Um sorriso brotou no rosto dela ao ver a nota que tirou na prova, com toda certeza Adolfo daria outro livro a ela, colocou o papel dentro da pasta e a enfiou na mochila antes de sair da sala de aula. Era uma das últimas a sair, assim evitava a multidão desenfreada de alunos desesperados para irem embora.
Verificou a hora no relógio de pulso ao sair na rua, com sorte chegaria uns minutos adiantada no trabalho e poderia comer algo antes do seu turno começar, mas antes que virasse a esquina para sair da comunidade alguém a cercou. Cecilia parou e engoliu em seco.

-O que quer Marcos?

O homem riu, exibindo os dentes amarelos, destacando o rosto magro e fino. Internamente ela tremeu, quando ele aparecia não era por coisa boa, sabia bem disso. Era por conta do seu pai.

- O velho está me devendo novamente e você sabe o que acontece...

-Quanto? Quanto ele deve?

Marcos sorriu mais ao falar o valor, o coração de Cecilia apertou, era mais do que recebia no restaurante.

- Quero a grana até o final do dia.
Ela arregalou os olhos, sem acreditar no que ouviu.

- Não tenho tudo isso assim, num piscar de olho!

- Existe outro meio - Sem permissão os dedos frios dele encostou no rosto dela, descendo pela bochecha, num pulo ela se afastou. -Poderia me fazer alguns favores, assim eu consideraria a dívida do seu pai.

- Favores?

As mãos dela começaram a suar, um nó se formou no estômago.

- Adoraria ter você em minha cama.

O cinismo a fez querer vomitar, nunca se venderia e destruiria uma das poucas dignidades que a restava com o cara que estava a sua frente.

- Nunca!
O sorriso cínico do homem foi substituído por uma expressão dura, ele a olhou sem qualquer traço de piedade.

- Bom, é uma pena se seu pai for encontrado jogado em qualquer beco por ai e, será uma pena também que se isso acontecer não anulará a dívida dele comigo.

Sem esperar resposta ele saiu andando. Cecília obrigou as pernas a se moverem, toda a animação que existia em seu ser se dissipou. Não era a primeira vez que Marcos a cobrava por dividas de seu pai e provavelmente não seria a ultima. No fundo ela não sentia muito pela vida do pai e sim pela sua.

A porta do fundo do restaurante estava trancada, Cecilia bateu algumas vezes no metal, geralmente os funcionários eram orientados a entrar pelos fundos, mas não teve escolha, sem resposta se arriscou a entrar pela porta da frente.

Cruzou os braços sobre o peito escondendo o nome da escola do uniforme, o lugar estava cheio, o cheiro de comida se misturava as conversas e a brisa do mar que entrava pelas janelas, abaixou a cabeça e tentou ser discreta, se o gerente a pegasse ali de uniforme escolar levaria uma advertência.

-Cecília?

Ela paralisou ao ouvir a voz. Lentamente se virou em direção a mesa á sua esquerda, ele estava lá com receio entre se levantar ou permanecer sentado, ela perdeu o ar por alguns segundos.
Tanto ela quanto Alex pareciam surpresos com a presença um do outro.

- Oi, Alex.

Respondeu timidamente olhando ao redor.

- Oi, Cecília. - Ele se levantou e se aproximou, Cecília deu um passo discreto para trás. -Veio almoçar?
Não duvidava que o gerente a estava observando de algum canto, ele tinha a habilidade de aparecer do nada.

Antes, agora e depois.Onde histórias criam vida. Descubra agora