Capítulo 6

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Antes

Parte I

As ondas do mar iam e voltavam em uma dança hipnotizante. Cecília amava ir á praia, apesar de trabalhar perto, mal tinha tempo de ter esse prazer. Estava aproveitando o dia de folga, não tinha muitos planos, talvez mais tarde fosse à hamburgaria artesanal que tanto queria. Suas economias eram poucas e, estava esperando Marcos ir pegar o dinheiro da dívida que tanto a pressionou.  Suspirou, precisava deixar os problemas de lado, pelo menos uma vez na vida. Embaixo da sombrinha de praia observou um grupo se aproximando com uma bola de vôlei em mãos, ali perto tinha uma rede e um campo delimitado na areia.

Cecília voltou a ignorar tudo ao seu redor e focou no livro em seu colo, mais um prêmio pela última nota da prova. Se tudo desse certo em poucos meses ela estaria longe dali. Seus pensamentos foram atrapalhados quando uma bola bateu com tudo em cima do livro, o fazendo cair no chão e encher de areia.
Cecília agarrou a bola e levantou-se, chateada. Uma garota vinha correndo em sua direção.

—Me desculpe putz, não foi por querer.

A garota apoiou as mãos no joelho, cansada, o rosto vermelho pelo esforço. O cabelo ondulado estava amarrado em um rabo de cavalo, uma viseira ajudava a proteger os olhos do sol.

— Não foi nada. Aqui.

Ela estendeu a bola e a garota pegou, abrindo um sorriso gentil.

— A propósito, meu nome é Zoe. Vi que você está sozinha, não quer jogar com a gente? – Zoe espiou por cima do ombro de Cecília, confirmando o que havia dito. —Precisamos de mais um.

— Ah, eu não sei se é uma boa ideia — Cecília recusou, lembrando-se de que as suas últimas tentativas de praticar atividades esportivas terminaram em hematomas ou fraturas —, não me dou bem com esportes.

— Pois não irei aceitar a sua recusa, Cecília. Todo mundo ali é bem ruim, então você ficará bem à vontade.

— Qual seu nome? — Zoe perguntou.

— Cecília.

Sem ter muita opção, Cecília aceitou, mesmo acreditando que teria que passar a noite com uma compressa de gelo em alguma parte do corpo. Pensando bem, não seria tão ruim assim socializar um pouco, então, com a ajuda de Zoe, Cecília pegou suas coisas e as duas caminharam em direção ao outros. Com cuidado deixou as coisas em um canto.

— Galera, essa daqui é a Cecília.  Eu a chamei para jogar com a gente.
Envergonhada ela sibilou um oi, abrindo um sorriso tímido para as duas meninas e os outros dois meninos, parando os olhos em um. Ele esticou a mão para cumprimenta-la.

— Sou o Fernando, muito prazer! —Um dos garotos disse, se aproximando dela com a mão estendida em um cumprimento que ela retribuiu. Ele era alto e magro. Em seu rosto se destacavam um sorriso marcado por uns aparelhos odontológicos e pequenas sardas que, diga-se de passagem, era um charme.

— Vamos começar, Cecília fica no meu time!

Todos se posicionaram em seus lugares para começar a partida de vôlei.  Cecília percebeu que ninguém sabia jogar, assim como ela. Eles mesmos inventaram as próprias regras. As risadas e zombarias surgiram ao longo de cada partida, ela se sentiu tranquila, tirando a sensação de que alguém a observava. Às vezes olhava para os lados e não via ninguém a olhando, provavelmente era a paranoia desenvolvida por conta do Marcos.

— Sua vez de sacar Fernando!

Cecília observou o rapaz pegar a bola e ir até a linha feita com chinelos, apesar de magro, ele tinha uma boa definição muscular, a pele bronzeada e os cabelos aparados. Cecília se perdeu nos braços se erguendo, descendo o olhar pela barriga lisa e voltando para o rosto corado por conta do esforço.

— Ai!

A visão embaçou e Cecília perdeu o controle das pernas, caindo no chão , sentindo dor na cabeça. A bola a acertou em cheio.

— Tudo bem? — Fernando ajoelhou-se ao seu lado dela, preocupado. — consegue levantar?

Ela balançou a cabeça, afirmando.

—Não foi nada— Ela respondeu limpando a areia que grudou no corpo. Uma bolada na cabeça não era nada.

— Deveria ter revidado com menos forças, João!

Zoe retrucou indo ajudar a garota a ficar em pé.

—Vamos tirar um tempo para descansar, Zoe. Cecília jogou demais e muito bem. – Cecília gradeceu internamente pela sugestão da pausa, estava cansada e o calor não ajudava. – quer descansar um pouco?

Fernando perguntou em tom baixo apenas para ela ouvir, rapidamente ela balançou a cabeça confirmando, retribuindo o olhar que ele lançou a ela.

— Não foi culpa minha, ela estava viajando no Fernando e não viu a bola chegando. —Gritou João.

O rubor subiu pelo rosto de Cecília, constrangida, se afastou de Fernando, indo para sombra das árvores que cercavam o quiosque para beber um pouco de água.

— Também estou cansado, Zoe. Estamos jogando desde quando chegamos.

João disse se jogando na areia, vermelho e suado, assim como todos. Cecília observou a garota chutar levemente as pernas do rapaz jogado ao chão e o chamar de frouxo enquanto as outras duas meninas riam. Perdeu o foco com Fernando caminhando em sua direção.

— Vou cair na água, vamos Cecília?
Zoe ergue a voz para que ela ouvisse de onde estava. Foi Fernando quem respondeu no lugar, sentando-se ao lado dela na sombra.

— É melhor não Zoe, ela acabou de levar uma bolada na cabeça. Vou ficar com ela, depois iremos.

Os dois permanecerem em silencio, observando os outros quatros colegas brincando na água. Em seus dezoitos anos de vida nunca teve essa socialização toda, nem quando o irmão se reunia com alguns amigos da pesada e a levava junto. Nem na escola teve isso, pela fama que tinha por conta do pai, as pessoas ficavam longe e cochichavam pelos quatros cantos da escola.

– Ainda está doendo? — Apontou para a cabeça dela.

O cérebro dela demorou alguns segundos para entender o que ele falava, pois estava ocupada demais o observando.

—Ah? A cabeça?

— A bola, Cecília. – Fernando ergue as sobrancelhas se divertindo com a falta de atenção dela.

— Ah,sim! Não está doendo mais.

Ela respondeu e uma risada tímida saiu dos lábios do garoto, Cecília o acompanhou.

— É verdade que estava viajando em mim quando levou a bolada?

Cecília não se sentiu constrangida, ao contrário, ajeitou um fio de cabelo atrás da orelha e balançou a cabeça confirmando, sem perder o contato visual.

—Quer saber de uma coisa?— Fernando chegou perto o suficiente para seus braços se tocarem. – Quando estava chegando a praia quase tropecei em uma mulher tomando sol, porque estava distraído olhando para você enquanto ignorava o mundo lendo seu livro. 

As palavras a pegou desprevenidamente, o rosto pegou fogo. Não soube como reagir, apenas se perdeu nos olhos castanhos, tão escuros quanto o cabelo. Fernando era lindo. Mas, antes que pudesse dizer algo, respingos de água fria os tiraram do transe.
A turma voltou e, João balançava os cabelos úmidos jogando água salgada por todos os lados.

— Ei, Cecília! Aceita uma água?

Uma Zoe toda molhada e cheia de areia se dirigiu a uma bolsa térmica pequena. Educadamente Cecília recusou, mostrando que tinha trago a própria garrafa. Eles estavam sentados na areia, um perto do outro, admirando a praia e as pessoas que passavam.
Uma garota normal, como ela se sentia. Quem a olhasse pensaria que era mais uma adolescente se divertindo, que discutia com os pais para sair com os amigos, dormia até tarde nos finais de semanas. Mas, se olhasse bem de perto, enxergariam as rachaduras.

— Ei, Cecília, bem que você poderia sair com a gente mais tarde.

Fernando esbarrou seu ombro no dela, chamando sua atenção. Cecília sorriu para ele, estavam tão perto um do outro.

— Milagre que seu irmão não veio encher o saco para irmos embora. — Uma das garotas resmungou.

— Diogo deve estar ocupado com alguma garota, assim como o amigo dele, não é Zoe?

Fernando tocou novamente o ombro de Cecília, apontando a cabeça para Zoe quanto falava.
Zoe conseguiu ficar mais vermelha do que estava, as duas outras que estavam ao seu lado começaram a rir.

— Ah, não enche Fernando! — Zoe exclamou jogando a garrafa plástica de volta na bolsa.

— Não ligue Cecília. Ela tem uma queda pelo amigo do irmão dela, mas ele não está nem ai para Zoe. —Uma risadinha escapou de Cecília com a piscadela do menino para ela.

—Cala a boca Fernando!
Ele deu de ombros e se voltou para Cecília novamente.

— Você vai?

Cecília deixou a perna de ele tocar a sua, o braço de Fernando passou por trás de suas costas, apoiando a mão na areia ao lado do seu corpo.

— Ai Fernando, se preocupa em perder seu bv, talvez você pare de encher meu saco e comece a encher o da Cecília!

Zoe passou por eles de cabeça erguida, claramente chateada com a provocação.

Todos riram. Foi a vez de Fernando ficar vermelho igual um pimentão, assim como Cecília.

— Me deixe, Zoe.

Ele resmungou no exato momento que uma voz no píer do quiosque, acima de onde estavam sentados.

— Vamos embora cambada! Meu turno de babá acabou!

— Falando no diabo – João resmungou baixo, secando os cabelos com uma toalha macia.

Cecília sentiu a mão de Fernando cobrir a sua, um sorriso tímido surgiu no rosto. Era assim que paquerava alguém? Parecia um dos seus livros de romance e, por mais que estava na realidade, iria aproveitar.

—Vocês são surdos?- Exclamou quem quer que fosse.

— Que cara chato, fala sério.
Enquanto levantavam, Cecília ouviu os murmúrios de lamentações. O que não daria para ter seu irmão ali, brigando para que ela fosse embora.
Cecília segurou a mão que Fernando estendeu para ajuda-la. 

— Você não me respondeu...
O sorriso de aparelho era convincente. Por um momento ela pensou como seria beija-lo. Mas, rapidamente reprimiu o desejo.

—Tudo bem. Onde posso encontrar com vocês?

Os dois foram interrompidos por um m coçar de garganta, alto e autoritário e o irmão de Zoe.

— Pelo amor, Fernando. Depois você da uma de pegador! Esses adolescentes parecem chicletes na sola do sapato quando estão no período fértil. —Diogo resmungou a última parte alto o suficiente para todos ouvirem.
Cecília olhou para o píer acima dela. Os braços dele estavam apoiados na borda do píer e, os olhos verdes fixos nela a fez olhar para frente novamente, sem acreditar. Ao lado do irmão de Zoe estava Alex.
Sentiu-se tensa, fechou os olhos rapidamente e contou até cinco, aceitando a mão que Fernando estendeu para ajuda-la a levantar.

— Você vem ou não, Cecília? Vamos para a casa do Alex. Depois podemos sair para tomar um sorvete.

Zoe já estava perto de Alex, esperando uma resposta. Cecília começou a negar, mas parou assim que Alex abriu a boca, frio e seco, falando diretamente com ela.

— Vamos Cecília. Seria ótimo ter vocês em minha casa. — Frisou.

Ela engoliu em seco, sentindo que tinha feito algo errado. Sem mais, deixou ser guiada por Fernando. Parando apenas para devolver a sombrinha que era alugada e vestir o short.

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⏰ Última atualização: Nov 06, 2023 ⏰

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