Acertando algumas coisas

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Mãe e filha estavam sentadas na sala de estar, já estava de noite, as duas passaram a tarde conversando quando o celular da mais nova passou a chamar.
- Você lembra, quando pediu para que eu ligasse pra minha tutora??
- Sim...
- Então, ligar é assim algo meio relativo...
- Como assim ligar é algo relativo Alex?? Você não falou com a sua tutora? Ela deve estar desesperada...
- Eu avisei que estava em Campinas com você, mas foi por WhatsApp.
A mais velha esfregava as têmporas enquanto respirava pesadamente – Atende esse telefone de uma vez garota.
Alex levantou e se afastou enquanto falava no telefone, ela andava de um lado pro outro o que com certeza indicava nervosismo, era gritante o quanto os maneirismos de Adora estavam presentes na filha, se ela fosse pesquisadora iria fazer uma tese sobre a filha...
Em seguida a mais nova voltou se jogando no sofá dando um muxoxo – Ela tá muito brava comigo, disse que está vindo aqui amanhã de manhã me buscar.
- Tudo bem, amanhã eu converso com ela. Eu já entrei em contato com meu advogado pra saber como eu faço pra conseguir a sua guarda.
A mais nova deu pulo do sofá ficando agachada na frente da mãe apoiando as mãos em seus joelhos. – É SÉRIO?? VOCÊ QUER QUE EU FIQUE!?!?
- Sim, eu gostaria muito que você ficasse, dessa vez eu vou escolher ficar contigo... Isso é claro, se você quiser ficar comigo...
- Eu quero, eu quero sim, quero muito... Minha mãe sempre me deu do melhor, mas faltava algo, em apenas um dia parece que eu já tive mais disso do que no resto da minha vida...
As duas se abraçaram, Catra trouxe a mais nova para o seu colo enquanto afagava seu cabelo, ficaram assim por um bom tempo. Depois jantaram alguma coisa e foram se recolher.
- Vamos dormir pequena She-Ra, pelo jeito amanhã vamos ter um dia cheio.
- Eu posso dormir com você, mãe?
Catra já estava quase entrando em seu quarto quando ouviu esta frase, sorriu amplamente se escorando na porta e abrindo a porta por completo – Pega um travesseiro no seu quarto que eu só tenho um...

(=^.^=)

As duas já estavam acordadas de banho e café tomados esperando a chegada de Castaspella, a tutora legal da Alex. A campainha tocou, Catra foi abrir a porta, lá se encontrava uma mulher não muito mais velha que ela mesma, de cabelos bem negros e vestida com um terninho feminino, aparentemente bem polida e formal.
- Bom dia, meu nome é Catra Melog, por favor entre e fique a vontade.
- Certo, Dra Melog, eu devo imaginar que a Alex já lhe deixou a parte da situação, correto?
- Sim, mas...
- Então, eu nem preciso perder meu tempo lhe explicando as complicações em que a senhora iria entrar por abrigar uma menor fugitiva, sem a autorização de sua tutora legal??
- Não, mas...
- Ótimo, Alex vai pegar as suas coisas, estamos de saída...
- Hey, hey, hey, hey... Será que dá pra parar de me interromper!! Vamos conversar...
- Não temos o que conversar, a doutora há quase 15 anos abriu mãos da guarda da Alex, a mãe dela pode ter falecido, mas ela me nomeou tutora e até a maioridade dela sou eu quem decide o melhor para ela...
- Olha, eu não quero brigar, sério mesmo, a Alex veio atrás de mim porque ela está doente, eu sou médica e já me adiantei para dar prosseguimento no melhor tratamento que ela pode ter.
- Ela já está em tratamento lá em Santos.
- Certo, mas aqui nos temos hospitais melhores e profissionais os quais eu confiaria minha vida sem pestanejar, você pode dizer o mesmo de lá??
A outra ficou uns segundos em silêncio – Mas é claro que eu posso confiar minha vida nos médicos de lá...
- Castaspella, eu de verdade não quero iniciar um briga judicial pela Alex, mas se eu precisar eu gasto todo dinheiro que eu ganhei na vida toda pra ter ela aqui comigo.
A mais velha fez a pior cara do mundo e já estava pronta para iniciar uma discussão, quando telefone de Catra toca.
Era a recepcionista do consultório da Spinnerella, a médica havia pedido para que elas fosse lá o mais rápido possível. Catra pediu que a mais velha fosse junto com ela porque desconfiava que as notícias não era muito boas.

(=^.^=)

As três chegaram no consultório e já foram encaminhadas direto a sala em que a nefrologista se encontrava.
- Bom dia... Bom eu vou direto ao assunto: Catra infelizmente você não é compatível o suficiente para doar um rim para a Alex e para piorar tudo sua função renal está bem ruim. Eu sei que você não queria a hemodiálise, mas eu acredito que seria o melhor a se fazer no momento, nem que seja somente uma sessão. Se eu estivesse no seu lugar, se uma das minhas meninas estivesse precisando eu faria, sem sombra de dúvidas...
- E como seria isso?? Onde ela faria o procedimento?? Eu sou a tutora dela, se você disser que é o melhor eu autorizo.
- O procedimento seria aqui mesmo, eu já desmarquei minha agenda do dia e eu mesma acompanharia tudo. Como estamos na torcida que seja somente uma única sessão puncionamos uma veia calibrosa de cada lado do corpo, o sangue vai passar pela máquina e voltar para o corpo dela. Infelizmente é um procedimento demorado, ela vai ficar de três a quatro horas ligada a máquina, mas depois o sangue dela fica limpo de todas as impurezas que o rim não está dando conta de filtrar, depois de uns dois dias nós repetimos o exame de sangue para ver como o corpo dela está reagindo.
- De qualquer forma ela vai precisar do transplante??
- Eu diria que sim...
- Pode colocar o nome dela na lista de transplante Spinne, nós não sabemos se a Adora será compatível ou mesmo se ela vai querer doar.
A garota já estava sentada fazendo o procedimento há quase uma hora, estavam as quatro em uma sala, o único som era da máquina que apitava ocasionalmente, Catra observava a filha recostada em uma poltrona de olhos fechados, estava pálida, sem o seu costumeiro sorriso... Era de partir o coração. De repente sentiu um mão em seu ombro direito. Olhou pra trás e viu duas de suas melhores amigas.
Foi amassada pela mais velha que a levantou da cadeira em um abraço de quebrar todos os ossos ela chorava muito...
- Scooooooorpia, eu não tô conseguindo respirar direito...
- Desculpa, desculpa... Eu só fiquei muito emotiva com tudo o que está acontecendo
Nesse momento a morena notou que a filha olhava curiosa toda a cena se desenrolando.
- Hey Alex, essas são Scorpia e Netossa, elas vieram te conhecer.
- Olá...
- Olá minha querida, a Spinne passou metade de noite passada falando de você, tenho certeza que vai dar tudo certo – Netossa, uma negra de cabelos platinados sorria – Você está nas mãos da nefro mais reconhecida do estado.
Scorpia, uma mulher grande e forte, de cabelos também platinados, choramingava – É muito bom poder ver seu rostinho finalmente, você sempre foi muito amada pequena...
A garota mais nova sorriu para todas presentes – Obrigada por todas vocês estarem comigo, apesar de tudo eu estou muito feliz de tê-las aqui... Minha mãe me contou Um pouco sobre vocês na noite passada.
Ficaram mais um tempo conversando enquanto Alex permanecia ligada a  máquina, que trabalhava sem parar.
- Dra Melog, podemos conversar lá fora? – Castaspella já foi se encaminhando em direção da sala de espera.
- Olha, é sério, eu só quero o melhor para aquela garota – Catra falava com a voz completamente sufocada, os olhos cheios – Você tem razão em dizer que eu abri mão da guarda dela naquela época. Eu juro que me arrependi no segundo seguinte, mas eu não tive coragem de correr atrás da SW e pegar meu bebê de volta – Nesse momento as lágrimas corriam pelo seu rosto – Me deixa cuidar dela, eu prometo que vou fazer das tripas coração pra que ela tenha a melhor vida possível daqui por diante.
A morena deu um passo em frente e entregou um cartão com seu nome – Peça para seu advogado entrar em contato comigo mais tarde, hoje mesmo, já quero começar a resolver tudo na primeira hora de amanhã. Eu tenho muitas coisas para fazer em Santos ainda hoje, vou me despedir da minha protegida.
Catra caiu sentada na poltrona e chorou, soluçava como nunca soluçou na vida, era uma mistura de sentimentos: a felicidade em ter a filha por perto novamente, a angústia pela enfermidade e o medo do que pode acontecer daqui por diante, não tinha como não sentir o peito apertado. Depois de muitos minutos, passou no lavabo para lavar o rosto e poder voltar a sala.

(=^.^=)

Depois de um dia agitado tudo que Catra precisava era de um banho quente, uma comida leve e cama, mas não seria nesse dia que ela teria essas coisas. Já estava no final da tarde, ela estava em pé, apoiada no corrimão da varanda olhando algumas vacas sendo recolhidas para um distante celeiro.
Já havia passado o número de Castaspella a seu advogado e solicitado a ele que desse andamento com esse processo de guarda, assim pelo menos uma dor de cabeça sumiria de sua vida. Depois entrou em contato com o RH para solicitar um afastamento para tratamento de saúde..
No momento olhava fixamente a tela de seu celular, nele havia um nome gravado, Adora Grayskull, estava criando coragem para ligar.
Apertou o botão e verde e aguardou alguns instantes, o telefone chamou algumas vezes, já estava para desistir quando ouviu uma voz falar:
- Alô.
Catra gelou, chegou a colocar o dedo encima da tecla para desligar a chamada, mas nesse momento a filha deu uma gemida na cama, estava dormindo desde que chegara em casa, nem almoçou.
- Heeeeey, Adora...
Silêncio...
- Catra?? E você mesmo??
- Bom, da última vez que eu chequei ainda não era um holograma.
- Continua de bom humor pelo visto...
- Me desculpe, acho que é uma espécie de mecanismo de autodefesa. Eu estou de passagem por Barretos, será que podemos nos encontrar amanhã?
Mais um silêncio...
- Tá certo, esse número é WhatsApp??
- É sim.
- Então até amanhã, eu te passo uma localização daqui a pouco.
- Certo, até amanhã...

Uma segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora