E quem poderia imaginar?

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Catra arrumou uma mala com uma muda de roupa pra si mesma e algumas peças para Alex, não sabia ao certo o que ela iria usar então seria melhor levar algumas opções. Ela não tinha trazido muitas coisas quando veio atrás de si, então pensou que precisava comprar roupas pra ela, ou buscar suas coisas em Santos. Carregou esta mala no porta malas e colocou no banco de trás um travesseiro e um edredom pra filha poder descansar durante a viagem. E voltou pra buscar a filha.
- Alex, meu amor, acorda.
- Me deixa dormir mais, tô cansada.
- Você só precisa levantar e vir andando até o carro, já levei as coisas pra você continuar dormindo lá.
- Onde a gente vai??
- Barretos.
- Você tem certeza?
- Sim...
- Eu não quero que você tenha que encarar ela só por minha causa.
- Tá tudo bem, não vai ser o fim do mundo encarar a Adora.
- Mas você não faria isso se não fosse por mim...
- Talvez não, mas de qualquer forma está tudo bem, de verdade...
A garota resolveu sentar na frente e durante a viagem pularia pra trás se tivesse sono.
- Vamos parar em uma lanchonete, e depois pegamos a estrada, tudo bem??
- Tá certo...
Depois de comer as duas partiram, a garota de cabelos coloridos insistiu em ir no banco da frente pra fazer companhia para a outra, mas depois de um pouco mais de uma hora ela começou a cochilar e a mãe insistiu que ela pulasse pro banco de trás.
A viagem seguiu sem nenhum contratempo, chegaram ao seu destino próximo a meia noite. Catra jogou no maps a localização que Adora tinha enviado para se entrarem no dia seguinte e procurou um hotel nas proximidades. Pegou as suas coisas e acordou a filha para que pudessem descansar até o encontro futuro.
- E como vai ser isso??
- Adora me enviou a localização de uma padaria pra gente se encontrar amanhã de manhã.
- Nossa, padaria??
- Essas padarias bacanas que mais parecem um restaurante.
- Legal, que horas você marcou??
- Oito e meia.
- Nossa é sério que tinha que ser tão cedo?
- Eu disse que estava de passagem pela cidade e ela perguntou se eu poderia encontrar com ela assim que ela saísse do plantão... Então eu concordei.
- Você não falou de mim?
- Não saberia abordar esse assunto pelo telefone, e, apesar de tudo, eu gostaria de ter essa conversa frente a frente.
As duas deitaram na cama e apagaram a luz para poder dormir.
- De qualquer forma, eu te trouxe aqui pra você não ficar sozinha em Campinas enquanto eu vinha falar com ela. Você pode optar em não ir e ficar no hotel se preferir.
- Eu vou sim, boa noite...
A mais nova não queria estender muito o assunto, estava um pouco nervosa com todas as possibilidades do dia seguinte, encontrar Catra foi mais um impulso do que qualquer outra coisa, quando ela percebeu já estava em um ônibus no meio do caminho e não fazia mais sentido voltar atrás. Agora, ela não sabia o que esperar, se sentia muito cansada e fraca ainda. Encarar sua outra mãe estando debilitada a deixava apreensiva demais.
- Mãe?
- Oi.
- Eu tô com medo.
- Fica calma, eu vou estar com você o tempo todo. Vem aqui...
A mais nova deitou no ombro da outra e começou a receber um cafuné gostoso, isto a deixava mais calma.
- Ninguém vai fazer mal pro meu bebê.
- Eu sei... – As duas permaneceram em silêncio por um bom tempo – Mãe? É muito cedo pra eu dizer que amo você??
A mais velha soltou uma risadinha pelo nariz – Não meu amorzinho, não é não... Eu também amo você.
E assim, com essa sensação de amor e conforto, as duas acabaram dormindo. Levantaram um pouco antes das oito, se aprontaram e foram andando a pé para o ponto de encontro. Catra deu uma olhada em volta e como não viu Adora, se sentou em uma mesa ficando de frente para a porta, a mais nova ficou de frente pra mãe.
- Você quer pedir alguma coisa ou vai esperar??
- Eu vou pegar uns pães de queijo e um suco de laranja, e você??
- Um café por enquanto.
As duas permaneceram em silêncio por um tempo até que Catra viu a loira entrando pela porta. Adora viu a morena logo de cara, notou que ela estava sentada com alguém. Respirou fundo três vezes e foi se encaminhando em direção a mesa, quanto mais perto ela chegava, mais ela sentia seu peito explodir, como era possível ainda se sentir assim perto da morena? Por algum tempo esqueceu que havia mais alguém na mesa, naquele momento somente Catra existia no mundo pra ela.
- Hey Adora.
- Oi Catra, bom te ver.
- É muito bom te ver também A... Essa aqui é a Alex.
Pela primeira vez Adora olhou em direção da mais nova. Foi como se tivesse tomado um choque, ela demorou alguns segundos pra conseguir processar o que estava acontecendo. Em algum momento em que nem se deu conta acabou sentando na cadeira que ficava do seu lado da mesa. A garota era a cópia da Catra, e ela era bem alta, aparentava já ter mais de 15 anos, mas não era possível...
- Eu não tô entendendo – Ela até então não tinha desgrudado os olhos da mais nova, mas nesse momento virou com tudo para encarar a morena – Ela é nossa??
Catra não estava entendendo o porquê da confusão – Adora, eu te contei que eu estava grávida...
- Mas você tirou o nosso bebê.
- O que? Como assim?? Eu não tirei bebê nenhum
- Mas, mas, mas... Você... Ela me disse, você... Catra??
A morena esticou a mão pegando o copo de suco e entregou para Adora.
- Toma esse suco, respira... Tá difícil de te entender.
A loira virou o restante do líquido garganta abaixo, colocou as mãos no rosto e respirou algumas vezes para se recompor.
- Eu recebi uma proposta do Boldrini, era tão boa como a daqui de Barretos, eu já tinha me decidido, iria ficar em Campinas com você e com o nosso filho... Droga – Ela começou a chorar – Eu tinha me decidido, como eu posso ter sido tão burra??
As outras duas na mesa só observavam, essa história estava muito estranha...
- Eu fui falar com ela, SW, pra comunicar minha decisão... Ela era minha orientadora, tinha intermediado a bolsa de residência aqui. Mas ela simplesmente me disse que você tinha feito um aborto e estava já acertando uma residência longe. Eu, eu, eu, eu fiquei enlouquecida... Simplesmente aceitei vir pra cá, peguei minhas coisas e sumi.
- Adora, isso é sério?? A SW disse pra você que eu tinha abortado nosso bebê??
- Foi...
Catra massageou as têmporas por alguns segundos – Ela me procurou pra contar que você tinha ido procurar ela dizendo que você não desistiria dos seus sonhos por ninguém nesse mundo... Ela disse que não apoiava a sua decisão, então faria de tudo pra me ajudar. Depois ela foi plantando a semente que eu não seria uma boa mãe, que eu deveria investir somente na minha carreira e dar meu bebê pra adoção...
- O que??
- Eu não tô acreditando nisso, vocês duas estão me dizendo que a pessoa que me criou, a mulher que eu chamava de mãe até pouco tempo foi capaz de bolar um plano ardiloso desses?? Eu cresci longe da minha família de verdade, eu fui privada de uma vida com muito amor por... Capricho de uma louca?? – A garota nesse momento começou a suar muito e respirar muito rápido – Isso é coisa de novela...
Catra ficou em pé, dando a volta na mesa – Alex, você tá hiperventilando, eu preciso que você se acalme – Tocou o pescoço na filha pra sentir o pulso, que estava muito acelerado, a respiração ficando cada vez mais rápida – Adora, a gente precisa levar ela pra um hospital agora... Isso deve ser uma crise de Pânico, mas sem um Eletro fica difícil de dizer.
Nesse momento para o desespero das mais velhas a garota desfalece em sua cadeira. Adora imediatamente pega a filha no colo e saí desembalada porta a fora.
- Catra, pega aqui a chave no meu bolso, é esse carro azul – A morena pegou a chave destravando o alarme e foi sentando no banco traseiro, a loira colocou a filha juntamente a morena, e rapidamente saiu com o carro. Ela acionou o Bluetooth fazendo uma ligação.
- Glimmer... Você tá no hospital?? Preciso de você na emergência.
- Eu tô subindo pro quarto andar pra fazer a ronda.
- Desce agora, eu tô a cinco minutos do hospital... Tô levando uma pessoa desmaiada.
- Tá bom, eu já vou indo pra lá, vou acionar a equipe pra te encontrar na porta.
A loira desligou a ligação e se voltou pra pessoa atrás de si – Como ela está??
- Desacordada ainda, a respiração deu uma melhorada, mas o pulso ainda está bem acelerado.
Mais algumas curvas elas encostaram o carro do lado de uma porta, onde saíram duas pessoas empurrando uma maca, pegaram a garota e já foram entrando.
- Catra, vai por essa porta pra fazer a ficha dela, eu vou só tirar o carro daqui e já te encontro na recepção.
Terminou de fazer o cadastro da filha com a recepcionista e ficou sem saber o que eu fazer. Se sentiu uma leiga, com um aperto gigantesco em sua garganta e uma vontade enorme de chorar.
- Catra, vem aqui comigo.
Deu de cara com uma Adora vestindo um jaleco, a seguiu sem dar nenhum pio. Seguiram por um corredor com algumas macas encostadas nas paredes, passaram por uma porta de emergência e no meio da sala estava a garota de cabelos coloridos, ligada a uma máquina de monitoramento cardíaco, um soro correndo e uma máscara de oxigênio, algumas pessoas andavam em volta da paciente, uma enfermeira foi lendo a ficha em sua mão:
- Adolescente, 14 anos, sofreu um mal súbito por volta das 8h45, apresentando taquicardia, taquipnéia, sudorese e desmaio. Paciente não tem histórico conhecido.
Adora se aproximou da maca – Como ela está?
- A, quem é essa garota? Eu por um minuto achei que você estava trazendo o Tom pelo seu desespero.
- Glimmer essa é a Alex, você se lembra da Catra não é??
A médica que fazia uma ausculta com o estetoscópio no peito da paciente levantou os olhos para a loira com uma cara de quem não estava entendendo nada. Quando seguiu o olhar de sua melhor amiga quase caiu das pernas.
- CATRA? MAS QUE... – Nesse momento olhou novamente para a paciente e novamente para as outras duas – Mas que porra Adora?? O que está acontecendo aqui??
A morena deu um passo em frente e já foi disparando – É minha filha, ela tem 14 anos e está entrando em falência renal, melhor diminuir o gotejamento desse soro.
- Falência renal??
- Sim, ontem mesmo ela passou por uma hemodiálise.
- Certo, mais alguma coisa que eu deveria saber?? Alguma alergia, intolerância??
- Não tem nada relacionado a isso no histórico médico dela.
- Certo, Adora vai com a Catra aguardar na saleta. Ela está estável, estou só aguardando resultado de exames laboratoriais, eletrocardiograma e o raio x – Nenhuma das duas se mexeu – Vão logo...

(=^.^=)

As duas permaneceram sentadas na saleta por quase meia hora em silêncio, o único som no ambiente era o tique-taque de um relógio pendurado sobre a porta, aquilo era angustiante.
Catra está a ponto de explodir. E se a sobrecarga renal tivesse afetado o coração?? Não era justo ter conseguido recuperar a filha para a perder logo em seguida.
- Então, falência renal... Há quanto tempo isso??
- Eu não sei ao certo, é difícil saber... Ela começou a passar mal há alguns meses. Só me encontrou não faz nem uma semana. Infelizmente eu não sou compatível pra doar um rim pra ela.
- Você não é compatível? Então foi por isso que me procuraram??
- Até uma hora atrás eu achava que você tinha me abandonado quando descobriu que eu estava grávida. Você realmente pode me culpar??
Silêncio, a loira pegou o celular e mexeu por alguns segundos.
- Na verdade não... Eu não consigo acreditar em tudo isso que aconteceu. De verdade, eu poderia matar a SW com as minhas próprias mãos.
- Bom, você perdeu a chance.
- Eu sei, ela morreu dois meses atrás... Sabe o que é o mais doido?? Eu quase fui no enterro.
- Você ainda mantinha contato com ela??
- Não, a tia da Glimmer é ex-mulher da SW.
- A Castaspella é tia da Glimmer?? Caramba, que mundo pequeno.
A loira concordou com a cabeça e mais uma vez pegou o celular.
- Você acha que você reconheceria ela se tivesse ido no enterro?
- Ahn eu acho que não – Ela deixou de mexer no celular – Mesmo ela sendo a sua cara... Eu não fazia ideia que ela existia.
- Eu te entendo, no dia que ela apareceu eu jamais poderia imaginar que era ela, mesmo ela sendo fisicamente parecida comigo e... Adora ela tem os seus olhos e é tão atrapalhada quanto você – As duas sorriram – Ela ama esportes, é super competitiva e arrasa no vídeo game...
Glimmer entrou na saleta em que as duas estavam.
- Alex está bem e estabilizada.
- Certo, vamos pra casa.
- Ela precisa descansar, acho melhor vocês ficarem aqui na cidade pelo menos por hoje, qualquer coisa me avisa ok??
- Muito obrigada Glimmer, vamos pro hotel então.
A loira se adiantou – Eu levo vocês pro hotel. Vou pegar o carro e esperar naquele mesmo lugar da entrada.
Alex realmente parecia melhor, estava até mais corada depois da medicação. Estavam as três no carro em silêncio.
- Eu... Ahn, eu queria saber se vocês topam jantar hoje comigo...
A garota de cabelos coloridos olhou em direção da morena, recebendo um aceno de cabeça como uma resposta silenciosa – Eu gostaria muito de te conhecer melhor.
- Eu também gostaria disso Alex, estou muito feliz em finalmente te conhecer – O carro encostou na porta do hotel e as duas que estavam hospedadas ali começaram a descer – As sete horas eu venho buscar vocês.
- Até mais tarde Adora.
- Até mais Catra

Uma segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora