Prologue

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Histórias.

Por definição, um conjunto de fatos que narram acontecimentos em uma linha do tempo que precisamente segue o fluxo de Passado para Futuro. Podem ser longas como as distâncias entre as estrelas ou curtas como um simples suspirar de prazer, mas elas sempre contarão coisas, já que foram criadas para este fim.

Muitas delas são parecidas umas com as outras, e muitas mais são completamente diferentes. Jamais tem apenas um lado, uma única versão, o que as faz se misturarem e se sobressaírem e separá-las outra vez pode ser uma tarefa tão impossível quanto determinar se são verdadeiras ou não.

Porque oh, sim, histórias podem ser falsas. Elas podem ser uma mentira muito bem construída e desenvolvida, repetida tantas vezes e durante tanto tempo que se tornou um fato incontestável, mas que ainda está longe de ser realmente verdade.

Elas são mutáveis, mesmo as mais reais.

Mas o ponto chave, no final, é a maneira como são contadas, e existem infinitas formas de se fazer isso.

Pode ser pela língua falada ou escrita, por sinais e gestos ou até mesmo pelo mero toque das pontas dos dedos numa pele quente. Há como contar coisas através de arte usando músicas e poemas, atuações teatrais e pinturas numa tela. Há, também, como fazer isso pela invasão da mente, distorcendo fatos antes irrefutáveis, manipulando memórias e percepções da realidade.

Histórias são como uma complexa e gigantesca teia de rios turbulentos, onde cada um deles é dependente e independente ao mesmo tempo e tudo está em um equilíbrio delicado, sempre correndo e crescendo para desaguar em verdade no fim; e a verdade, descobre-se, também é mutável, mesmo que exista uma que dificilmente se transmutará: aquela que diz que a parte mais importante de quando se está contando uma história são os detalhes presentes nela, porque eles são seu coração, alma e vida.

Se grande ou pequeno, se omitido ou revelado, se banalizado ou exagerado... Um detalhe pode mudar tudo, causando impressões completamente diferentes em quem está ouvindo ou alterando todo o curso dos acontecimentos, deixando para trás lacunas escuras cheias de reticências.

E lacunas, especialmente aquelas que são importantes, deixam espaço para imaginação, para especulação e, então, para escolhas e decisões diferentes. Às vezes para acertos, mas também para equívocos. Erros.

Porque entender o Passado é entender o Futuro.

Mas, então, se o Passado for um livro cujas muitas páginas foram arrancadas, então o Futuro será um livro escrito até a metade e a outra parte deixada à deriva de incertezas.




Luca, desde que se entendia por gente, sempre pensou que sua história jamais se alteraria. Como o Príncipe da Coroa da Itália, toda sua vida desde o nascimento até o momento de sua morte já havia sido cuidadosamente planejada e arquitetada por seus pais, o Rei Lorenzo e a Rainha Daniela.

E, mesmo que muitas pessoas pudessem pensar que isso era algo absurdo, ele sabia que deveria ser grato. Grato por ter nascido na Família Real dos Paguro, ser o Príncipe e viver em um Castelo majestoso no topo do monte de uma das terras mais lindas do Reino, cercado por todo o luxo e poder e tudo o que havia para se ter de melhor. E, até certo ponto, ele realmente era grato – mesmo pequeno, sabia reconhecer seus privilégios.

Mas Luca também era um sonhador. Sempre havia sido.

Desde muito jovem sonhava em fugir das paredes altas e carregadas de tapeçarias e quadros do Castelo, deixando que seus pés corressem livremente pela grama verdejante do lado de fora, levando-o para os Reinos e paisagens longínquas das quais ele lia e aprendia em suas aulas de história e geografia. Luca queria correr os olhos por elas, apreciá-las até que pudesse vê-las mesmo de olhos fechados, e então derramá-las sobre telas em forma de tinta.

Ouro dos TolosOnde histórias criam vida. Descubra agora