Chapter III

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Luca marchava pelos corredores do Castelo com passos pesados e apressados, acelerando um pouco mais a cada curva e bifurcação que ainda o separavam de seu quarto.

Ele havia acabado de fazer uma saída intempestiva de seu treino de equitação, e as botas de couro preto que envolviam suas pernas até a metade das coxas ressoavam no piso polido em um ritmo rápido, assim como os calçados metálicos de seu guarda pessoal, que lutava para acompanhá-lo em sua quase corrida.

Os cabelos encaracolados e desalinhados pelo vento e pelos galopes de sua égua dançavam ao redor do rosto suado e corado – muito mais corado do que deveria estar – do Príncipe, retorcido em uma mistura engraçada de impaciência, frustração e profunda vergonha.

Ele percebeu que aqueles sentimentos estavam aumentando de frequência e constância no último mês e não gostou daquela percepção, nem dos diversos motivos que se ocultavam por trás dela.

Quando chegou no início da escadaria em espiral de sua torre, começou a correr. Pulava de dois em dois degraus, querendo chegar ao seu quarto e se trancar nele de uma vez, ansioso para fugir de tudo e todos por pelo menos algumas horas daquele dia. Se não fizesse isso, muito provavelmente acabaria entrando em colapso, e ele duvidava de que fosse ser uma cena bonita.

Abriu a porta do quarto com brutalidade, agradecendo aos céus que suas criadas não estivessem ali. Bateu a madeira às suas costas produzindo um baque alto e caminhou com passos duros até o centro do cômodo, o peito inquieto com a respiração ofegante. Retirou as luvas grossas e jogou-as em qualquer lugar pelo chão, retirando também as botas pesadas de montaria para deixar que o mármore gelado entrasse em contato com as solas quentes de seus pés, esperando que o choque térmico o ajudasse a acalmar os nervos à flor da pele.

Então suspirou tremulamente, enterrando o rosto nas mãos.

Aquela madrugada foi apenas mais uma em que ele acordou abruptamente de seu sono.

Mas, desta vez, o sonho que teve foi diferente de todos os outros que teve até então.

Porque quando não tinha pesadelos com o ataque ao navio e a morte do irmão, sonhava com o garoto que o salvou de morrer para o mar e com os lindos olhos verdes que ele tinha. Luca nunca conseguia se lembrar de seu rosto, suas feições, porque quando esteve diante delas a inconsciência o estava chamando, deixando sua visão nublada, impedindo que gravasse seus traços na memória. Então era comum que apenas imaginasse reluzentes olhos de esmeralda em um rosto borrado de pele morena.

Quando Luca tinha esses sonhos, em qualquer um dos cenários imaginários para onde era transportado, ele sempre voltava a ser criança. Brincava por entre as paredes do Castelo com o garoto e Marco, às vezes somente os dois. Luca o levava para nadar no lago e o outro sempre o segurava junto de si quando estavam na água, como se estivesse com medo de que se afogasse outra vez. Ou então eles apenas corriam descalços pela grama selvagem que cercava o Castelo, brincando de perseguir borboletas e coelhos, as mãos unidas para que jamais se perdessem um do outro.

E as mãos dele eram sempre gentis e aquecidas.

Mas talvez, apenas talvez, Luca não devesse ter deitado em sua cama para dormir na noite anterior ainda refletindo sobre as palavras de Angellina no passeio que tiveram, sobre os homens franceses e em como eram parceiros românticos, charmosos e selvagens.

“Você parece gostar desse tipo”, Angie havia falado, muito segura de si, deixando-o completamente envergonhado e confuso.

Porque Luca nunca tinha realmente parado para pensar em coisas como aquela. Ele sabia com toda certeza de que não se sentia atraído por mulheres, mas nunca antes percebeu que também jamais se sentiu atraído por nenhum homem, fossem os soldados da guarda ou outros Príncipes e nobres de outros Reinos.

Ouro dos TolosOnde histórias criam vida. Descubra agora