Eu costumava ouvir uma música simples
Isso foi até você chegar
Agora em seu lugar está algo novo
Eu ouço quando olho para você
𝓘 𝓗𝓮𝓪𝓻 𝓪 𝓢𝔂𝓶𝓹𝓱𝓸𝓷𝔂 - 𝓒𝓸𝓭𝔂 𝓕𝓻𝔂
Theodore é realmente um bom artista. Ele desenha meu avô parado assistindo a projeção das estrelas.
A cada traço, cada detalhe, Theodore parece se expressar, mesmo que silenciosamente. A cada linha é um sentimento diferente.
- A quanto tempo desenha? - Pergunto me apoiando no braço da cadeira.
- Comecei em 2016. - Theodore fala sem tirar a atenção da folha.
- Como descobriu que gostava de desenhar?
- Foi por conta de um trabalho da escola. Minha professora falou que eu desenhava bem e me incentivou a continuar. - Theodore anota no canto da folha o nome de algumas cores.
- Seus pais devem achar seus desenhos muito bonitos.
Theodore parece dar de ombros quando menciono seus pais, mas o vejo pressionar o lápis na folha por alguns segundos.
- Fiquem aqui, vou buscar um café ali na máquina. - Meu avô diz, se retirando da sala.
- Você tem algum hobby? - Theodore pergunta ainda atento ao seu desenho.
- Fotografia. - Me lembro da câmera pendurada em meu pescoço.
- Por isso a câmera... Não vai usá-la? - Ele se vira para mim.
- Vou. - Tiro uma foto desprevenida de Theodore e começo a rir da cara engraçada que ele ficou.
Ele se vira novamente e volta a rabiscar em seu caderno.
Fotografia. Faz um tempo que não tiro fotos de nada.
Me levanto e começo a andar pelo planetário, lá tem muitas coisas interessantes que nunca tinha reparado antes.
Como a trilha de formigas indo em direção a uma bala abandonada na mesa.
Ou a folha dos horários que fica voando toda vez que o vento a acerta.
A impaciência do meu avô em esperar o café ficar pronto. As duas colheres de açúcar que ele sempre põe em sua xícara.
De repente comecei a reparar nos pequenos detalhes. É impressionante o tanto de coisas que deixei de ver por não perceber as pequenas coisas.
A câmera faz um barulho que ecoa pelo ambiente. Me deixo levar pelas fotos e percebo Theodore me olhando pelo reflexo do vidro.
- Perdeu alguma coisa? - Me falo virando para ele.
- Que? - Theodore vira o rosto no mesmo segundo e se faz de desentendido. Essa foi boa.
- Nada. - Falo entre uma risada.
- Acho melhor voltarmos. Está ficando tarde. - Meu avô anda em direção ao tablet e procura o botão de desligar. Isso levou pelo menos dois minutos.
- Deveríamos vir aqui mais vezes. - Comento desligando a câmera.
- Claro, podemos vir aqui novamente.
- O senhor pode me deixar em casa no caminho? - Theodore se aproxima enquanto guarda seu caderninho dentro da bolsa.
- Nada disso, vamos ter um jantar lá em casa e você irá participar. - Acho que preciso lembrar ao vovô que ele não manda em Theodore.
- Não sei, acho que vou para casa. - Theodore lança um olhar diferente para o vovô. Quase assustado, como se fosse um aviso.
- Ah, tudo bem então. Podemos fazer o jantar amanhã, tudo bem? - O vovô tenta manter o humor no seu tom, mas não parece funcionar.
O que esses dois estão escondendo.
Assim que saímos do planetário, vovô muda o caminho de casa e vai até a de Theo. Ele não mora longe, mas deve ser uma caminhada de no mínimo quinze minutos.
A casa de Theo é bem simples, diferente da nossa.
- Até mais senhor. Te vejo amanhã. - Theo desce da caçamba da caminhonete e acena para o meu avô.
- Até mais menino! Se cuida.
- Até mais Stella. - Ele sorri gentilmente e espera que meu avô ligue o carro outra vez.
Theo se vira e é possível ver o grande suspiro que ele dá antes de entrar em casa. Sua postura descontraída muda para uma mais firme.
Um homem muito semelhante a ele abre a porta, deve ser o pai de Theo. O homem grita algumas coisas, mesmo já estando longe, sinto que posso ouvir sua voz.
A última coisa que vejo, é Theodore sendo puxado pelo braço com agressividade.
Sempre repare nos pequenos detalhes.
Meu avô passa por algumas ruas e estamos em casa novamente.
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Eclíptica
Roman d'amourTheodore, um garoto uberlandense, ia todos os dias visitar seu amigo, Rubens, um astrônomo aposentado. Mal sabia ele, que por conta dessas visitas, Theo iria conhecer seu primeiro amor. Uma menina ruiva chamada Stella, neta de Rubens que curtia ouv...