Eu tinha treze anos
Com um coração de ouro
Tentei fazer alguns amigos
Quase me matei em vez
𝓔𝓶𝓹𝓽𝔂 𝓑𝓮𝓭 - 𝓒𝓪𝓿𝓮𝓽𝓸𝔀𝓷
Alerta de Gatilho; Agressão.
Se você é sensível a esse tipo de coisa, peço que pule!
Dei uma última olhada para Stella e para o senhor Rubens antes de entrar em casa.
Hoje é o dia em que meu pai nos visita, esse dia é sempre o pior. Preferia que ele continuasse na cadeia, sei que é falta de respeito falar assim do próprio pai, mas eu realmente preferia.
Sou recebido com um puxão extremamente forte no braço, espero que não fique uma marca.
- Isso é hora de chegar em casa? - Meu pai aperta sua mão em meu braço.
- Sinto muito, tentei chegar mais cedo, mas não consegui.
- É um imprestável mesmo. Se chegar atrasado mais uma vez, vai se ver comigo.
Minha mãe me dá um pequeno aceno, é perceptível o cansaço em seu olhar. Meu pai não é uma pessoa fácil de se lidar.
Meu pai se joga no sofá e começa a assistir TV esses dois dias vão ser torturantes, talvez nem consiga visitar o Senhor Rubens.
- O que fez hoje, querido? - A voz doce da mamãe me acalma de certa forma.
- Fui ao planetário com o Senhor Rubens. - Ajudo ela a servir a mesa, o homem que se intitula seu marido nunca a ajuda.
- Aquele velho? Já disse para parar de andar com ele Theodore. - Meu pai se intromete na conversa, em todas as visitas é sempre o mesmo assunto.
- E quem era a menina no carro? - Mamãe entregou mais uma garrafa de cerveja para meu pai.
- Ah, ela é a neta do Rubens. Se chama Stella.
- Ela parece ser uma boa menina. - Mamãe fala por cima do bufo que meu pai solta, qual a implicância que ele tem com a família Bianchi?
- Deve ser uma putinha. - Meu pai diz tomando um gole de sua cerveja.
No mesmo momento sinto meu sangue ferver, ele nem a conhece para falar coisas repugnantes desse tipo.
Se controla Theo, você não é como ele.
Decido ignorar o comentário sem noção, mas minha mãe não faz o mesmo e acaba respondendo.
- Deixe a menina em paz Ronald, ela é uma criança, não seja nojento.
Papai não gostou nada do jeito como ela o respondeu. Ele se levantou do sofá e foi até a mamãe dando um tapa em seu rosto.
- Nunca mais me responda, quantas vezes já te avisei? - Ele berra, ele tenta a agredir. Às vezes parece que não conhece a mulher que se casou.
Mamãe não deixou barato dessa vez, talvez esteja cansada de sofrer na mão do papai. Só queria que ela fosse até a polícia e não me proibisse de contar tudo o que acontece sobre o teto dessa casa.
Uma discussão se inicia outra vez, é sempre assim. Toda visita eles discutem.
A melhor coisa que faço é arrumar meu prato e subir. Ainda bem que Luana não está em casa, sei muito bem que ela se envolveria na briga e isso só pioraria as coisas.
Ela não concorda com as atitudes da mamãe, acha que ela deveria ter o denunciado para a polícia logo na primeira agressão.
Mas acho que algo dentro da mamãe ainda acha que ele pode mudar, mesmo depois desses vinte anos de casados. Mesmo depois de todas as agressões, todas as brigas, todos os ataques. Talvez, alguma chama dentro dela se mantém acesa na esperança de que ele mude.
Mas isso é algo que não vai acontecer.
E mais uma vez, me tranco no quarto e coloco uma música no último volume no fone, o que não adianta muita coisa, ainda consigo ouvir os gritos dos dois.
Queria deixar de existir.
Queria ter uma família normal.
Queria que as pessoas gostassem de mim.
Mas querer não é poder, não é assim aquele ditado?
Se tivesse algo que me distraísse de tudo isso, se tivesse algo que mudasse isso. Ou até mesmo alguém.
Meu pai não sabe o quanto suas ações danificam todos a sua volta. Não sabe como sua idiotice de dez anos atrás atrapalhou a vida dessa família.
Fico feliz por Luana, que conseguiu apagar sua família da existência, e mesmo convivendo conosco, é como se não tivesse nenhuma ligação. Nem mesmo compartilha mais do mesmo sobrenome.
Fico feliz que ela não sofra com as consequências, que ela tem amigos. Fico feliz de ela ter tido uma boa experiência na escola e não ter tido que se mudar de escola várias e várias vezes.
Pelo menos alguém nessa casa é feliz.
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Eclíptica
RomansaTheodore, um garoto uberlandense, ia todos os dias visitar seu amigo, Rubens, um astrônomo aposentado. Mal sabia ele, que por conta dessas visitas, Theo iria conhecer seu primeiro amor. Uma menina ruiva chamada Stella, neta de Rubens que curtia ouv...