As crianças ainda ficam deprimidas quando você as veste
O xarope ainda é xarope em um copo com canudinho
𝓢𝓲𝓹𝓹𝔂 𝓒𝓾𝓹 - 𝓜𝓮𝓵𝓪𝓷𝓲𝓮 𝓜𝓪𝓻𝓽𝓲𝓷𝓮𝔃
Chuva.
O cheiro da grama molhada entra no meu nariz e me traz um sentimento de paz, mesmo que esteja tudo desmoronando e se corroendo lentamente.
Não vejo Theodore desde ontem, quando aquele homem o puxou pelo braço e meu avô virou na esquina, será que ele está bem?
Aquela imagem se repetiu na minha cabeça durante vários momentos na noite e agora pela manhã.
Estou sentada na varanda com minha câmera indispensável e meu copo com suco, já que não gosto de café. Meu avô estava tocando uma música simples no seu piano e eu apreciava a melodia junto do barulho da chuva, que rega as plantas e molha a grama.
Senti o toque de uma mão gelada no meu ombro e estranhei, não pode ser meu avô, pois ele ainda está tocando piano e meus pais não estão em casa. Virei a cabeça para ver quem era e vi Theo com um sorriso pequeno se formando e logo foi até a sala cumprimentar meu avô.
Ele continuou a tocar o piano após cumprimentar Theo e ouvi os passos do garoto se aproximando de mim, até o mesmo se sentar ao meu lado. Analisei o rosto de Theo e tudo parecia bem.
"Parecia"
Se não fosse pelos olhos vermelhos e inchados e a marca roxa que se formava em volta do braço dele, eu diria que ele está bem. Pelo menos por fora. Não sei o tipo de guerra interna que Theodore trava consigo mesmo.
- Está tudo bem? - Ele me pergunta olhando no meu rosto, assim como estou olhando no dele.
- Claro... Espera aqui, vou te mostrar umas coisas.
Entreguei meu copo com suco para ele e fui até a cozinha pegar meu computador que estava em cima da mesa. Vovô deu um soco leve nas teclas do piano por ter errado uma nota.
- Vai com calma velhote, assim quebra.
Levei o computador até o lado de fora e ouvi a música começar outra vez, me sentei ao lado de Theo e entreguei o computador para ele, pegando meu suco de volta.
- Lembra que ontem te falei sobre as fotos? Aqui estão elas.
Theo começou a olhar as fotos e fiquei estudando suas reações. O brilho em seus olhos era imperceptível, mas ainda sim estava lá.
- Pode me mandar essas fotos? Quero pintar elas...- Theo tirou sua atenção do computador e olhou no meu rosto dando um pequeno sorriso.
- Não tenho seu número...- Peguei meu celular em cima da mesinha baixa ali e entreguei para ele colocar o número para podermos conversar.
Theo pegou meu celular e começou a digitar seu número e quando acabou, me entregou logo em seguida. Dei um sorriso e mandei um "oi"para ele me adicionar e enviei todas as fotos para ele.
- Fotos enviadas com sucesso.
Dei uma pequena piscada para ele e coloquei o computador na mesa ali perto enquanto Theo tirava seus materiais de pintura de dentro da bolsa.
- Quer pintar? - Ele me ofereceu uma folha e eu peguei.
- Não sei desenhar. - Peguei um dos lápis que ele me ofereceu e fiz uma careta tentando pensar em algo para fazer.
- Não precisa saber desenhar para fazer arte.
Ele começou a fazer alguns rabiscos sem sentido no caderno enquanto olhava uma das fotos que lhe enviei. Eram dois pássaros em um fio assistindo ao pôr do sol. Imitei seus rabiscos e fui desenhando sem me importar se estava bonito ou não.
- E por que acha isso? A maioria dos artistas sabem desenhar.
- Por que arte não é apenas para ser bonito ou perfeito. Pensa comigo. - Theo pegou um copinho e encheu com água da chuva.
- Tudo à nossa volta é arte. A arte não precisa ser perfeita, ela não foi feita para isso. Arte é muito mais um sentimento do que perfeição.
Ele começou a misturar alguns tons de azul no papel e fui imitando suas pinceladas, mesmo não fazendo ideia do que estou fazendo.
- Literalmente qualquer um pode fazer arte e tudo é válido como arte. Por isso não me limito a padrões de desenhos perfeitos e que agradem a todos. Sempre tente coisas novas, mesmo que seja estranho e fora da sua zona de conforto.
Dei um sorriso com suas palavras e continuei a pintar junto dele. As duas horas que ficamos ali conversando e conectados pela arte, pareceram apenas dois minutos. Em algum momento meu avô se juntou e trouxe dois pedaços de sanduíche para nós.
Em outro momento, meu avô começou a reclamar da corrupção do Brasil e passou a mão pelo braço do Theo onde tinha a marca recente. Sei que ele sabe a origem dessa marca, mas parece querer evitar entrar em detalhes a todo custo.
E se eu me meter?
Será que vale a pena?
- Amanhã podemos ir no campo de flores, levar Stella.- Ele falou e olhou para mim e deu um sorriso ao notar que já estava olhando para ele anteriormente.
Balancei a cabeça em concordância e ouvi meu avô começar a falar sobre tulipas, mas não dei importância, estava perdida nos olhos castanhos que me encaravam de volta.
Malditos olhos castanhos que roubaram minha atenção do mundo à minha volta
Oi gente!! Espero que estejam gostando...
Queria agradecer a todos que estão lendo até aqui e queria me desculpar pela demora para postar mais capítulos. Agora devo dar mais atenção para Eclíptica.
Um beijo e um queijo!!
- Zalui
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Eclíptica
RomanceTheodore, um garoto uberlandense, ia todos os dias visitar seu amigo, Rubens, um astrônomo aposentado. Mal sabia ele, que por conta dessas visitas, Theo iria conhecer seu primeiro amor. Uma menina ruiva chamada Stella, neta de Rubens que curtia ouv...