Chifre trocado não dói

1.7K 110 45
                                    

Boa leitura ♡


- Não aceito! - gritou em plenos pulmões, a igreja começou um burburinho, enquanto eu estava no chão. 

Mas que porra.. Esse caralho só pode ser doido. 

Encarei o homem do meu lado, meu grande amigo de adolescência, um porto seguro, namorado por longo tempo, e quase futuro marido. Esse babaca, que me fez juras de amor,  um belíssimo pedido de noivado na frente de toda minha família e amigos, investimos numa puta festa de casamento com  toda pompa e circunstância, temos passagens compradas para uma viagem fora do país, depois de muito poupar para a lua de mel, também não posso esquecer as alianças de ouro que praticamente custaram meu fígado e o do meu pai, pois o Zé mané do meu noivo havia ficado endividado na compra de um carro que amassou bêbado, além disso, eu fiz o favor de ter aceitado para não o constranger e ele teve a ousadia de fazer isso comigo? Gritou 'Não' para todos ouvirem, por que? Não poderia ter esperado a cerimônia acabar como uma peça de teatro? ou falado antes de tudo começar? E qual seria o motivo específico?

Fiquei pálida no que veio a minha mente, ele poderia ter descoberto tudo! Vai contar para todos, na frente dos meus pais e sogros, me expor. Droga, preciso sair daqui urgentemente. Já não basta ter sido recusada no altar, agora corro risco de receber os piores rótulos. Sei bem que esse povo não tem nada a ver com a minha vida, ainda assim seria desagradável, minha estima poderia cair alguns degraus.

- Sinto muito S/N,- disse incapaz de me olhar - mas não é você quem eu amo! - pisquei diversas vezes ao ouvir a confissão, abrindo e fechando a boca sem ter o que dizer especificamente. Foi contra as minhas expectativas. Que alívio! - E-eu me apaixonei por outra pessoa.. E não me imagino vivendo preso a você... Sem poder ter a chance de amar e viver com ela... Me perdoa.. Eu a amo. - falou entregando o microfone nas minhas mãos, toda a Igreja havia ficado em silêncio, vi meu noivo caminhar até as madrinhas e puxar minha prima, o estômago revirou vendo os dois juntos, justo ela? Minha mãe praticamente me obrigou a convidar ela pra ser madrinha, desde a infância não nos damos bem, ele sabe disso e escolheu ela? Mas hein? Alguém explica por favor? 

Percebi aquele famoso brilho no olhar dos dois, um sorriso tímido pintou a face de ambos, ali percebi sentimento mútuo entre os dois, ao menos era o que parecia. Mesmo assim me senti mal, fui trocada por ela, que sempre arranjou brigas comigo, quando não estava me culpando por suas merdas, só por eu ser um ano mais velha que a diaba, era sempre quem a influenciava. Mordi a bochecha internamente vendo a garota sorrir maldosa para mim, de alguma maneira tive a impressão de ainda sermos crianças e ela tomar minhas coisas pra si. Peraí! Ela realmente gosta dele? A quanto tempo eles estão juntos? Qual foi a daquele olhar?

Os dois se beijaram, na minha frente, o coração colapsou, fiquei atônita, ódio me consumiu, apesar de também ser errada, pois também tenho meu telhado de vidro, é como dizem 'Chifre trocado não dói!'... Não dói é o caralho. Todo mundo, nossos amigos, familiares, a orquestra, o padre... absolutamente todos encararam a cena alternando o olhar entre mim e os dois pombinhos, e agora? Como vou sair dessa desgraça sem esmurrar alguém? Ou falar horrores? Sem pagar uma de doida?

Instintivamente olhei para a entrada da igreja sentindo um olhar especial direcionado a minha pessoa, fiquei espantada com a figura que ali estava, naquele habitual terno que lhe caía muito bem, fumando tranquilamente um cigarro sem se importar de estar em um templo sagrado, enquanto assistia a cena escorado na batente de uma das grandes portas. Seus olhos divertidos e um sorriso maldoso na minha direção, ninguém ainda o tinha percebido, ficou invisível diante do espetáculo. Sorri grandemente sentindo a alma mais leve por sua, não estaria presa a alguém como Zayn, conhecendo seus atributos e defeitos, provavelmente nosso casamento seria um desperdício de tempo e paciência., destinado ao fracasso. Por que mesmo estou casando? Aliás, por que ainda estou parada feito uma idiota aqui? 

- Hunhum, - pigarreio tomando as rédeas da situação parecendo alguém sensata, é aquela velha frase 'Rir pra não chorar', vamos dar início ao show - Meus queridos familiares e amigos, - falei chamando a atenção deles pra mim - lamento termos tomado o tempo de vocês, pois como vêem nós não teremos um casamento, contudo, todavia, no entanto, entretanto... Se o casal presente quiser aproveitar a cerimônia e se casar ainda hoje, darei com prazer  o vestido para minha querida prima usar, afinal uma festa dessa não pode ser desperdiçada. Maaaas, se não quiserem, eu gostaria de convidar a todos para irem aproveitar o bufet* no jardim da minha família, o senhor também está convidado. - digo olhando o padre espantado, talvez estivesse esperando uma reação escândalosa da minha parte. Volto a atenção aos convidados e ao ex noivo, provavelmente futuro primo e minha amada prima - Então, o que me dizem?-  Zayn não contém o sorriso de felicidade, meus pais e sogros parecem perdidos em Marte, a minha prima, ah! A cara dela é impagável, seus olhos arregalados mostram muito mais que surpresa, parecem assustados e frustrados, o seu novo parceiro a chama para si, perguntando se quer ou não, sua euforia é notável. Pobre homem apaixonado! Esperamos por longo tempo, vejo ele ainda parado admirando o espetáculo proporcionado por mim e minha família, encaro novamente o casal, eles não tomam uma posição, minha prima parece querer chorar. - E então? Decidiram? - pergunto impaciente. Nada respondem, cansei de esperar, quero partir para os finalmentes, sair daqui com o meu cavaleiro e seu cavalo branco, melhor dizendo, meu gangster e sua moto.

Caminho na direção dos meus pais, entrego o microfone para minha mãe que me olha com pena, tento lhe confortar com um sorriso, dizendo sem palavras que não estou sofrendo. Viro de costas para o meu paidrasto.

- Pode abrir por favor? - peço me referindo ao feixo do vestido. Em segundos essa vestimenta tão bonita ficou pesada e sufocante no meu corpo.

- Mas querida? - mamãe deixa a pergunta no ar sem entender. 

- Não se preocupe mãe, eu sei o que estou fazendo. - digo certa da ação - Por favor abra esse troço. 

- Como quiser filha. - logo ele abriu, senti ar entrar em contato com a pele, deslizei o vestido pelo corpo, logo até o padre me encarava se benzendo, é muita tentação para uma pessoa só. Retiro a roupa com cuidado, tal qual o véu, pego ambas peças e desfilo até meu noivo vestida na lingerie branca que usaria em nossa primeira noite de casados, composta pelo sutiã meia taça, espartilho, cinta liga, calcinha rendada e meia branca, ah... e o salto que não vou dar pra ela nem morta. A igreja está num silêncio ensurdecedor, sem ninguém se atrever dizer absolutamente nada, tem gente gravando essa bagaça e eu sorrindo internamente. 

- Desejo toda a felicidade do mundo para vocês dois! Aproveitem a festa. - digo entregando nos braços dela a roupa. - By by.- continuo meu desfile em direção ao homem de terno - Mãe, pai, não volto hoje para casa. Amo vocês tchau. - grito rápido olhando para os dois por cima do ombro, somente agora perceberam a presença dele aqui. Bem perto vejo o sorriso cafajeste que tanto amo.

- Você está mais bonita agora do que com o vestido! - afirma entregando o blaser.

-Que lisonjeiro da sua parte!- sorrio o observando detalhadamente - Mas ficaria muito melhor sem nenhuma dessas peças, certo? - digo lançando um olhar provocante, ele assopra um pouco da fumaça pra cima formando uma nuvem cinzenta, joga a bagana do fumo no chão.

- Com certeza. Senhorita?  - estende o braço para mim enlaçar, nego com a cabeça aumentando o sorrindo, nunca imaginei tão cortez, é sempre o mais ordinário de todos. Aceito de bom grado, saímos da igreja, muitos convidados saem atrás, inclusive Zayn e minha prima, paramos em frente a moto, atenciosamente ele coloca o capacete na minha cabeça. Sobe no veículo e me espera subir. 

Quando já estava sentada, dou um aceno para todos, e a moto arranca, em alta  velocidade, mal pude ver a cara do pessoal, agarrei em sua cintura com força para não cair,  sentindo um frio gostoso na barriga.

- Obrigada Rindou-Kun. - digo esperando ele ouvir, tive a certeza no momento que uma de suas mãos tocou as minhas enlaçadas no tronco masculino, fazendo uma leve carícia, voltando em seguida sua atenção para o trânsito. 


Obrigada por lerem, peço desculpa se houver algum erro.
♡♡♡



Lua de mel (Rindou Haitani)Onde histórias criam vida. Descubra agora