Capitulo 3: Sophie

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Aviso: o conteúdo pode ser sensível para certos tipos de pessoas.
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Sempre odiei manhãs. Elas sempre eram as mesmas, o momento do dia em que eu mais me sentia solitária. Todos acham um privilégio morar em uma casa tão grande como a de meus pais, com um corredor extenso, uma garagem grande, duas piscinas e uma cozinha com tamanho de três quartos. Mas eu não acho. Compartilhar tudo isso com absolutamente ninguém, nem sua própria família. Eu sempre acordava com uma dor de cabeça imensa. Não tenho enxaqueca como Jenny, mas sempre que posso tomo os mais diversos remédios para conseguir dormir sem ter surtos contínuos no meio da madrugada. Quando acordo tenho que tomar um copo bem cheio de água antes de qualquer coisa.

Por mais que precise, eu não consigo, os vejo ali pedindo para que eu mesma me ajude.
Já ouviu os boatos que antidepressivos engordam? Bom, eu sim e essa informação consumia toda minha cabeça com pensamentos contínuos: "você não pode, tem que ser perfeita, ter o corpo perfeito". E em minha mente eu estava longe de ter isso, então simplesmente os pegava e os jogava no lixo todo dia continuamente, dando a impressão aos meus pais estar tomando para não se preocuparem. Não que isso importava para eles pois sua empresa de imóveis era mais importante que sua própria filha. Então todas as manhãs eram assim, acordava pálida dos remédios fortes da prateleira proibida da mamãe, tomava um copo de água e tentava relaxar o máximo que conseguisse para me manter tranquila.

Eu tinha consciência de que meus amigos sabiam de meus problemas. Mas a verdade é que isto é uma mentira. Não gostam de falar sobre isso pois pensam que eu não vou querer falar sobre isso, mas não sabem, os conheço a tanto tempo e ainda não confio totalmente, para falar a verdade, não confio em ninguém. Meu apoio é resumidamente e literalmente: sexo e drogas. Diria que isso é um apoio a todos os adolescentes, o que realmente é. Mas para mim é uma realidade diferente. É algo que me deixa sã, um vicio vergonhoso que não tenho coragem de admiti-lo.
Tenho uma terapeuta. Que vejo diariamente. Dizem que é o lugar mais seguro para se abrir e ser você mesmo. Mas para mim era o lugar em que eu menos me sinto eu mesma. O local em que por minha experiência penso em me focar na carreira de atriz. Minha terapeuta diz aos meus pais que meu tratamento está melhorando cada vez mais enquanto na realidade eu sei que está piorando cada vez mais.

A mais bonita, fico repetindo para mim mesma no espelho enquanto encharco meu rosto de maquiagem para esconder as olheiras e o olho inchado da sequência de choros e soluços da noite passada.
Segunda feira, meu dia preferido da semana. Muitos diriam que não é, mas para mim, qualquer coisa que me faça sair de casa depois de um longo e solitário final de semana (o que não foi nada para meus melhores amigos) é o mínimo que posso receber. Me despertei de meus devaneios quando ouvi a buzina em frente de casa. Era Matt. Que pelo menos depois de sua declaração bem sucedida tirou sua aparência um pouco cansada e preocupada. O que sabia ainda estar ali em algum lugar, por algum motivo ao qual ele não nos permite saber.
- bom dia comprometido- brinquei enquanto trancava a porta e escondia a chave nas plantas para que Julie achasse quando fosse arrumar nossa casa.
- bom dia, parece que acordou bem hoje, está radiante
- até parece. É a sua visão que mudou por conta do amor
- o mundo é lindo não?
- se você pensa isso- respondi já colocando o cinto no banco a trás de Matt.
É bom ver como as coisas mudam em apenas dois dias. Jenny entrou logo dando selinhos em Matt me fazendo tossir para que eles lembrassem que não estavam sozinhos em uma lua de mel em Cancún.
Com estes últimos acontecimentos eu fiquei pensando melhor sobre o que realmente queria no meu futuro. Vou tentar entrar para algum musical do colégio, era algo que Jenny estava pensando sobre, mas ela me ajudou a descobrir também. E não só com isso, trabalhar com teatro, mas algo parecia estar faltando, e quando vi Matt e Jenny se beijando aquela noite eu percebi o que faltava. Um amor. Era a única coisa que eu queria. Mas nenhum dos caras que eu fiquei eu me apaixonei. Eram só amassos e as vezes noitadas, mas tirando isso, acho que nunca me apaixonei de verdade. Comecei com isso muito cedo, acho que quando beijei Elliot Carter na festa de 13 anos da Hanna Miller e eu deixei ele pegar nos meus recém crescidos seios. Algo não parecia certo, mas eu só tinha 13 anos e não estava me importando para o que meus pais pensariam por uma vez na minha vida então cedi à tentação. Voltando para casa abri a prateleira proibida de remédios de minha mãe e usei tudo o que poderia encontrar de analgésicos desde morfina, tramadol, codeína e anfetamina. Além de tomar café puro todo dia pela manhã e à noite, antes de minha mãe descobrir, fumava cigarros que continham o nível mais elevado de nicotina, foi assim que entrei na terapia. E era assim que eu me mantinha sã: mentindo para minha terapeuta, usando os mais tipos diferenciados de drogas e sempre usando as receitas da mãe para repor a prateleira (não que ela se importasse pois raramente abria aquela prateleira, apenas quando brigava feio com meu pai), e não vamos esquecer do sexo óbvio.
Meus pais sempre acordavam de madrugada com pressa e nem se davam o trabalho de dar bom dia para a filha ou pelo menos ver se ela estava bem. Por isso trazia dos mais diferentes parceiros para noites de prazer. E quanto mais noites destas eu tinha, mais ia perdendo minha alma por dentro. Chega uma hora em que só remédios proibidos pela mamãe não bastam. Comecei a ir atrás de bebidas pela casa. Vinhos antigos, champanhe, cervejas escondidas na geladeira, vodca e por sorte não só achei bebidas como um novíssimo maço de charuto do papai no escritório.
Quando não faziam mais o efeito esperado, comecei a pensar que o problema poderia estar em minha aparência, talvez se fosse mais bonita ou mais magra seria mais aceita e adorada não só por todos como por meus pais também. Mas acabei atraindo atenção de mais garotos para minha vida. Ainda não de meus pais. Então decidi trocar minhas refeições por outro tipo de refeição na cama. Porém minha terapeuta descobriu quando em uma das sessões eu desmaiei por desnutrição então só comia quando todos estivessem olhando e no banheiro quando ninguém o tivesse, colocava os dedos no mais profundo que conseguia chegar de minha garganta e me libertava de toda caloria consumida nas refeições. Não poderia esconder isso por tanto tempo de todos então Jenny e Matt sempre desconfiavam. Mas pareciam terem medo de perguntar e tocar em alguma ferida. O que não os culpo, eu tenho de ser sincera que não falaria a verdade e os faria acreditar que está tudo bem.
E esta semana estava sendo a pior. Terça troquei as refeições por bebidas e as vomitei no quintal de casa por tantas golfadas que eu dava a mim mesma. Tive que limpar.
Mais tarde precisei ir no Matt ajudar na construção com mãos extras mas parecia que ele não precisava. Os mais diferentes homens fortes que já vi estavam na sala fazendo todo o trabalho por ele. Enquanto o mesmo parecia preocupado e quando nos viu pediu para sairmos rapidamente pois seria perigoso. Disse que já havia arrumado ajuda o suficiente o que era de se perceber mas não entendemos para que tanto estresse quanto a ficarmos ao menos assistindo o trabalho.
A noite quando nos resolvemos, Matt e Jenny foram para um de seus encontros e eu conheci apenas de olhada um dos homens do projeto de Matt, Jace Lopez. Um borrão, como todas as noites com todos os caras. E era aquele borrão que eu gostava. O que me fazia sair de uma vez por todas dessa rotina infinita ainda sim estando nesta rotina infinita. Bruce, Thiago, Scott, Adam, Alex, Bailey, Noah. Todos nomes que eu se quer lembro do rosto. Noites rápidas. Como eu disse: borrões, borrões com nomes.

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