Capítulo 11 - Dilemas

34 9 0
                                    

  Ainda amarrados, fomos levados cada um para um quarto. De certa distância, vi Henrique argumentando com o homem que, parecia ser mais velho do que todos nós. Sua presença imponente era notável. Alto e robusto, ele exibia uma expressão séria e cautelosa, seus olhos negros fixos com um misto de preocupação e desconfiança. A pele escura contrastava com o ambiente sombrio ao seu redor, e sua postura indicava uma determinação feroz, como se estivesse determinado a proteger seu território a todo custo.

 Henrique veio então em minha direção, e nos trancaram num quarto. A princípio não entendi o motivo de todos terem ficado sozinhos e eu não.

- Eu disse que você tá doente e não pode ficar sozinho. Então pedi para ficar aqui com você - Ele argumentou.

- Eu não tô doente, não precisava.

- Não quis te deixar sozinho. E a gente ainda tem alguns assuntos pra resolver...

- Ah, então foi por isso... Ótimo! Tô preso até só Deus sabe quando com alguém que só age conforme os próprios interesses - Disparei.

- Eu não preciso - Henrique revirou os olhos, se colocando de costas para mim - Talvez eu nem me importe. Eu não te conheço. Talvez eu só queira saber o que aconteceu, matar a minha curiosidade. Talvez eu queira saber algo para te intimidar ou ameaçar. São possibilidades e você pode considerar todas elas. Eu tô pouco me lixando pra isso. O que você acha ou não sobre as minhas motivações, não me importa. Eu não ligo nem 1%. 

- Ótimo - disse, enquanto me sentava no chão frio. O piso vinílico claro estava impecavelmente limpo, mas úmido ao toque, como se tivesse sido recentemente lavado. Ao meu redor, as paredes de concreto cinza erguiam-se, desprovidas de qualquer decoração, criando uma sensação ainda maior de suspense. O leve som distante de passos ecoava junto ao murmúrio indistinto de vozes, que pareciam se fundir numa cacofonia insuportável.  Encostei-me na parede, sentindo a textura áspera  contra minhas costas, e me silenciei, mergulhando em meus pensamentos. Uma falha tentativa de ignorar o ambiente ao meu redor.

- Eu quero saber o que aconteceu com você - Henrique balançou a cabeça negativamente, e após alguns segundos, se sentou ao meu lado.

- O que será que vão fazer com a gente? Vai demorar? Se eles quiserem me matar agora pra eu não ter que dividir o espaço com você e continuar ouvindo a sua voz eu aceito sorrindo - respirei fundo.

- Eu queria entender qual tipo de problema você tem. Olha como você age.

- Ah por favor, olha você pras suas atitudes. Eu só quero que você me deixe em paz! - Subi o tom, franzindo as sobrancelhas.

  Henrique respirou fundo uma, duas, três vezes. Ele parecia pensar no que dizer, até que enfim abriu a boca novamente.

- Eu sei que aconteceu alguma coisa bem séria com você David. Alguém te machucou. E você, o Nathan, Milena, David... o Martin, são minha família agora. Eu sei que você acha que eu não me importo mas, no fundo eu me importo sim. Eu fui atrás de você por noites, e eu sinto que o que aconteceu com você é culpa minha. Eu acabei sendo idiota demais e fiz você se sentir mal ao ponto de ir embora.

- Que bom que você reconhece.

- Eu vi meu pai... - Henrique começou a contar o que tinha visto quando entrou em uma espécie de transe, parecido a que eu também tive - Tá vendo essa cicatriz no meu pescoço? Foi ele. Ele batia na minha mãe e depois em mim. Minha vida em casa era um inferno até que um dia eu... eu precisei mandar ele embora de casa. Reviver isso foi horrível. Ele tava ali na minha frente, eu senti as mãos dele no meu rosto David.

Devastação - Nenhum detalhe é obra do acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora