Capítulo 2 - Nós nunca ficaremos sozinhos

172 33 42
                                    

  Minhas mãos estavam trêmulas e o silêncio me irritava. Eu ouvia lentamente cada batida do meu coração e, parecia ouvir até mesmo o som do meu sangue percorrendo as artérias. Analisei cada centímetro daquela fria e cinzenta caverna tentando provar a mim mesmo o contrário do que eu já sabia: Não havia ninguém ali. Era tolice achar que teria alguém. Olhando ao redor do ambiente, meu coração se estremeceu, olhei para baixo e senti minha pressão baixar. Me sentei no chão molhado e asqueroso e fechei meus olhos. Burro! - pensei - Do que adianta vir pra cá? Em pleno fim do mundo? Eu não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Olhei então para o cão de pelúcia rasgado no chão. Na parede a minha frente uma escrita feita por Nate a alguns anos com tinta verde: "Friends forever. We'll never be alone". Nunca estaremos sozinhos... sorri ironicamente. Olhei cada elemento presente ali, me lembrando de como e quando eles haviam parado lá, surpreso por estar tudo em seu lugar. Como passara rápido minha infância. Com tudo aquilo acontecendo, minha cabeça estava a mil. Percebia que não tinha dado devido valor às pessoas e aos bons momentos. Me deitei no chão e, com os olhos já cheios de lágrimas adormeci. 

  Acordei debaixo de uma forte ventania. Abri meus olhos e vi que já estava escurecendo. Eu realmente precisava ir embora, afinal, enfrentar animais (se é que eles também não haviam sumido) à noite não era uma boa ideia.  Antes mesmo de sair da caverna, vi algo se mexendo nos arbustos em volta do lago. Observei atentamente para ver se identificava o que era. Bom, poderia ser apenas o vento balançando as folhas das árvores e arbustos, então com esse pensamento segui meu caminho.  

 Ao chegar perto do lago ouvi um barulho de galho se quebrando. Me virei repentinamente e vi de relance a figura de um homem, mascarado, apenas um vulto que logo desapareceu. Eu podia já estar ficando louco, ou realmente tinha alguém ali, e eu estava disposto a pagar pra ver. Corri então em direção as árvores na esperança de alcançar o que nem eu mesmo sabia o que era. Os galhos pontudos arranhavam meus braços, e a cada três passos eu tropicava. Minha visão já estava turva e eu estava ficando tonto. Me recusei a parar de correr. Vi algo se aproximar de mim, mas não conseguia ver o quê. Incapaz de frear, trombei com seja lá o que fosse aquilo. Senti o toque humano no braço tentando me segurar, o que afirmou minha teoria: havia alguém ali. Mesmo segurando meu braço, pela velocidade que estava acabei batendo de cara  com uma das árvores. Desmaiei.

- Você gosta mesmo de dormir, ein? - Ouvi enquanto tentava firmar as vistas e ver quem falava comigo - É muito bom saber que não estou sozinho

  Eu conhecia aquela voz. Quando abri bem os olhos, estava a minha frente ninguém menos que Nathan! Comecei a pensar que podia estar delirando, e que na verdade tudo não se passava de um sonho ou imaginação. Era muito improvável pra ser real, mas todo mundo ter sumido também era improvável. Me levantei e o apertei com todas as minhas forças, enquanto chorava silenciosamente. Naquele momento eu não conseguia dizer absolutamente nada.

- Vou te levar pra casa pra você descansar e pra gente conversar melhor.

  Ainda em silêncio e com uma dor imensa na cabeça, saímos do parque até a casa de Nate. Ele estava com o carro de seus pais, então não demorou muito até chegarmos. Eu não sabia o que pensar naquele momento, nem o que dizer. Apesar de tudo, eu estava muito feliz e aliviado de não estar sozinho, e havia muita coisa para conversarmos, sobre o que havia acontecido e sobre o que íamos fazer dali pra frente. Chegamos então na casa dele. Era uma casa não muito grande com dois quartos, piso de madeira escura e as paredes pintadas de branco gelo. Passamos pela sala e viramos a direita em direção ao corredor. Entramos na porta ao fim do corredor, onde se encontrava o quarto do Nathan. Era um quarto médio com duas camas; uma dele e uma de seu irmão de 10 anos. Na parede, quadros de carros e fotos de família. Me apossei da cama de seu irmão, que se chamava Aaron. Nate foi até a cozinha e pegou algo para comermos (biscoitos). Era por volta de oito da noite e o silêncio ainda pairava sobre o ambiente, então Nate perguntou:

Devastação - Nenhum detalhe é obra do acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora