Capítulo 18 - Um jantar improvisado

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Era 20 de Julho, já haviam se passado pouco mais de 3 meses desde que tudo começou. O tempo parecia passar tão rápido quanto o vento. Uma viagem que não duraria nem uma semana, já completava três. Parávamos em todos os lugares possíveis para "saquear" e conhecer. Claro, sempre com cautela máxima e sem chamar atenção do que sequer poderia aparecer. Havia sinais de vandalismo, abandono, tudo isso em tão pouco tempo. Uma prova da podridão da sociedade em que vivíamos, onde aparentemente as pessoas só estavam esperando uma oportunidade para mostrar o seu pior lado. 

Estávamos hospedados em Atlanta. Já fazia quase um mês que havíamos saído de Washington, e imprevistos como estradas fechadas, mudanças abruptas de tempo, e falta de planejamento (nos perdemos algumas vezes) atrasava cada vez mais nossa viajem. Martin já estava agoniado, ele parecia mais aflito que todos para chegar á cidade mexicana. Talvez ele sentisse falta da velha sociedade. Só sei que, a ansiedade e o nervosismo em seus olhos era claro.

Esse tempo todo pelo menos foi ótimo para nos aproximarmos cada vez mais. Nate e Henrique pareciam se tornar bons amigos, confiando mais um no outro. Chris e eu nos aproximamos e comecei a passar bastante tempo com ele, mais até do que com Nate. Martin ainda era muito frio e, apesar de conversar e rir com todos, ele não se abria. Aquilo me preocupava, certamente algo dentro dele o afligia e nós não conseguíamos ajudar. Sobre eu e Milla? Bom... passamos bastante tempo juntos também, até que comecei cada vez mais a reparar cada um de seus perfeitos traços.

- Milla, aqui em Atlanta tem um restaurante perfeito. O que acha de, essa noite, eu cozinhar e jantarmos lá? - Sorri de canto

- Uma ótima ideia, mas vamos levar uns salgadinhos caso não dê certo - Ela sorriu de volta - Me desculpe, mas cozinhar é por muito o seu ponto fraco.

Concordei - Não custa tentar né. Vou te dizer onde é, me encontre lá as 19:00.

- Combinado.

Depois que ela concordou em se encontrar comigo naquela noite, meu coração palpitou. Eu sabia que não seria apenas um jantar comum. Talvez fosse o momento certo para contar o que eu estava começando a sentir. Tudo parecia tão caótico lá fora, mas cada momento que passávamos juntos me trazia paz. Havia algo no seu sorriso, algo na maneira como ela me olhava, que fazia todo o resto desaparecer, nem que fosse por alguns instantes.

Passei a tarde planejando cada detalhe. O restaurante abandonado que mencionei estava quase intacto, exceto pela poeira acumulada. Era pequeno, mas charmoso. A luz suave do entardecer que entrava pelas janelas refletia em velhas garrafas de vinho, dando ao lugar uma aura nostálgica. As mesas estavam organizadas, ainda com guardanapos dobrados em porta-guardanapos prateados, e as cadeiras, todas no lugar, davam a impressão de que, a qualquer momento, um grupo de amigos poderia entrar pela porta para desfrutar de um jantar agradável. O chão de mármore, levemente empoeirado, refletia a luz suave das velas que eu havia espalhado pelo ambiente, criando sombras dançantes nas paredes revestidas de madeira escura. Quadros antigos, com fotos de pratos gourmet e sorrisos de clientes felizes, ainda pendiam das paredes como testemunhas silenciosas de um tempo mais simples.

Quanto ao jantar, eu sabia que precisaria me esforçar, mesmo com os poucos recursos disponíveis. Procurei por ali perto, um pequeno supermercado, e havia conseguido alguns itens essenciais. De início, improvisei uma entrada simples: pão levemente tostado na frigideira com azeite, acompanhado de uma conserva de azeitonas e alguns tomates desidratados. O prato principal era mais ousado. Com algumas latas de carne em conserva, e com o que tínhamos, criei algo parecido com um estrogonofe — molho cremoso com creme de leite, temperos básicos e pedaços de carne desfiada. Para acompanhar, fiz um arroz simples. Consegui gelar um suco de laranja e botei tudo na mesa.

Devastação - Nenhum detalhe é obra do acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora