Capítulo 6 - O fim do mundo não deveria parecer o fim do mundo?

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 Ainda sem fôlego, caminhei assustado. De longe eu via uma fumaça branca. Acelerei o passo em direção ao galpão. Quando cheguei, com as mãos já suadas, encontrei com Milena na porta.

- O que aconteceu? - Perguntei ofegante.

- Pegou fogo lá atrás - Ela respondeu com os olhos vagos e com sua voz doce - Os meninos já apagaram...

  Rodeei o galpão e logo o cheiro de queimado invadiu minhas vias respiratórias. Henrique estava sentado no chão, com as mãos na cabeça. Assim que me viu, ele se levantou e veio em minha direção. Sua artéria temporal pulsava de raiva e sua testa estava vermelha. Ele tentava segurar sua irritação, embora visivelmente não estava conseguindo.

- Onde você estava Hall? 

- Eu não me lembro de ter que te dar satisfação. Por que a raiva por causa de um quartinho velho num galpão que não é seu.

- Deixa eu te explicar, seu idiota. As minhas coisas estavam naquele maldito cômodo, no qual misteriosamente pegou fogo. Tem um machado aqui, a tranca que EU coloquei está quebrada, e eu encontrei velas aqui perto. O Nathan e o David estavam comigo, e a Milena tenho certeza que não faria nada disso. Sobra quem? - Seus olhos negros olhavam fundo nos meus, quase os empurrando para dentro. No fundo de toda aquela escuridão de seus olhos, eu via tristeza. 

- Só existe nós no mundo? Não poderia ter outra pessoa vindo aqui e feito isso? E outra, pra quê trancar suas coisas aí? E-eu - Gaguejei - Foi culpa minha, mas não foi de propósito. Eu estava lá, com a vela, e ouvi alguém, então saí correndo para ver quem era e acho que a vela acabou caindo e incendiando tudo..

  Henrique respirou uma, duas, três vezes bem fundo. Se recusou a olhar novamente para mim, e então saiu para só Deus sabe onde. Também saí e me sentei a beira da estrada. De lá, vi Henrique se enfiar em meio a densa e escura floresta que havia ali. Nate se aproximou de mim, e se sentou. Antes mesmo que ele falasse algo, disparei:

- O que foi? Se tiver vindo me dar sermão, nem começa. Eu já disse que não fiz por querer - Revirei os olhos.

- Eu só quero entender o que aconteceu - Nate franziu as sobrancelhas, apertando levemente os olhos. Enquanto olhava para a rua, ele balançava a cabeça negativamente.

- Eu já disse. Aquele maldito cara de máscara apareceu de novo, eu até tentei ir atrás dele mas ele montou no cavalo e fugiu - Suspirei, analisando minhas próprias palavras.

- Quero acreditar em você, mas cara... um homem mascarado, que só você vê, que te persegue e foge montado num cavalo? E você também não teve o menor cuidado, e se ele te matasse?

- Pois é Nate, pois é. Eu não sou criança, eu sei o que eu vejo e o que eu faço, e faço por minha própria conta em risco - Levantei e dei as costas.

- E você pensa só em você, não pensa em como suas ações prejudicam os outros? - Nate refletiu. Neste momento parei, pensei, mas não tive palavras para responder. Apenas saí.

  Aquilo grudou na minha mente. Assim que Henrique chegou, fui falar com ele. Ele estava disperso, e todo aquele ar sombrio de seu rosto desaparecera. Estendendo seu lençol para dormir, ele se sentou, e eu me aproximei:

- Deu pra salvar alguma coisa de lá de dentro? - Indaguei. Minhas mãos suavam, e minhas pernas batiam de nervosismo.

- Não. Virou pó - Ele suspirou - As fotos dos meus pais, parte das minhas roupas... Tudo que eu tinha de lembrança lá.

- Eu sinto muito por causar isso - Meu coração naquele momento se estremeceu.

- David, eu não ligo pra como você se sente - Seus olhos obscuros fincaram os meus. O tom de tristeza logo deu lugar ao de raiva - Eu não quero que você nem chegue perto de mim. E outra, se você começar a colocar a vida de todos aqui em risco com essas suas loucuras, eu vou dar um fim em você. E não pense que eu estou exagerando.

Devastação - Nenhum detalhe é obra do acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora