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Jimin

Ela não vai se livrar  tão fácil de mim.

Está  na  cara  que Jisele Santos não  conhece muitos  atletas.  Somos  pessoas  obstinadas,  e  a principal  coisa  que  temos  em  comum?  Nunca, jamais desistimos.

Tenho  fé  que  vou  convencer  essa  menina  a  me dar aulas, nem que tenha que morrer tentando.

Mas  agora  que  Jisele  me  passou  para  a  outra garçonete,  vai  demorar  até  ter  outra  oportunidade de advogar a meu favor.

Suporto o flerte descarado e o  interesse  não  dissimulado  da  morena  de  cabelos cacheados que está me servindo, mas, apesar de ser educado com ela, não flerto de volta.

Esta noite só estou interessado em Jisele, e fixo os  olhos  nela  enquanto  circula  pelo  salão.  Não duvido  nada  que  resolva  fugir  enquanto  eu  não estiver de olho.

Para  ser  sincero,  o  uniforme  dela  é  bem  sexy.

Vestido  azul-claro  de  colarinho  branco  e  botões grandes  na  ente,  e  um  avental  curtinho  em  volta da cintura. Parece uma roupa saída de  Grease, o que faz  sentido,  já  que  Della’s  é  uma  lanchonete  de temática  anos  50.  Posso  facilmente  imaginar Jisele Santos  naquela  época.  O  cabelo  escuro  na altura dos ombros

“Por quê?”

“Estamos numa aula juntos. Queria falar com ela sobre um trabalho.”

A  morena  relaxa  o  rosto,  mas  um  lampejo  de suspeita permanece em seus olhos.

“Na verdade, já acabou,  mas  ela  só  pode  ir  embora  quando  a  mesa dela também for.”

Dou uma olhada na única outra mesa ocupada da lanchonete, com um casal de meia-idade. O homem acabou  de  pegar  a  carteira,  enquanto  a  esposa  está examinando  a  conta  através  de  óculos  com  aro  de tartaruga.

Pago  por  minha  comida,  digo  tchau  para  a garçonete  e  saio  para  esperar  por  Jisele.  Cinco minutos  depois,  o  casal  mais  velho  caminha  para fora  da  lanchonete.  Um  minuto  depois,  Jisele aparece,  mas  se  me  viu  rondando  a  porta,  não transparece  nada.  Simplesmente  abotoa  o  casaco  e caminha em direção à lateral do prédio.

Não  perco  tempo  correndo  atrás  dela.  “Santos, espere.”

Ela  olha  por  cima  do  ombro,  anzindo  a  testa profundamente.  “Pelo  amor  de  Deus,  não  vou  dar aulas para você.”

“Vai sim.” Dou de ombros. “Só preciso descobrir o que você quer em troca.”

Jisele gira feito um tornado de cabelo preto.

"O que  eu  quero  é  não  dar  aula  para  você.  É   isso  que quero.”

“Tudo  bem,  então  tá  na  cara  que  você  não  quer dinheiro”,  penso  em  voz  alta,  como  se  ela  não tivesse falado isso antes. “Tem que ter outra coisa.” Reflito por um instante. “Álcool? Baseado?”

“Não e não, cai fora.”

Ela  volta  a  caminhar,  o  tênis  branco  batendo  na calçada  com  força,  à  medida  que  se  aproxima  do cascalho  do  estacionamento  na  lateral  da lanchonete.

Dispara  sem  perder  tempo  na  direção de um Toyota  hatch prateado, parado ao lado do meu Jeep.

“Tudo bem. Acho que você não liga para esse tipo de entretenimento.”

Sigo-a  até  o  assento  do  motorista,  mas  ela  me ignora por completo, abre a porta e joga a bolsa no banco do carona.

“Que tal um encontro?”, sugiro.
Isso parece despertá-la.

Jisele se endireita como se  alguém  tivesse  enfiado  uma  barra  de  metal  ao longo  de  sua  coluna,  então  se  vira  para  mim, incrédula. “O quê?”

“Ah. Consegui sua atenção.”

“Não,  conseguiu  o  meu  desgosto.  Você  acha  que quero sair com você?”

“Todo mundo quer sair comigo.”

Hannah dá uma gargalhada.

Talvez eu devesse me sentir insultado pela reação, mas  gosto  do  som  da  risada  dela.  Tem  certa 1ualidade  musical,  um  tom  rouco  que  tremula  no meu ouvido.

“Só por curiosidade”, sugere, “quando você acorda de  manhã,  se  admira  no  espelho  por  uma  hora  ou duas?”

“Duas”, respondo, animado.

“E dá um  high five no seu próprio reflexo?”

“Claro que não.” Dou uma risadinha. “Beijo cada um dos meus bíceps, aponto para o teto e agradeço ao camarada lá de cima por criar um espécime tão perfeito.”

Ela  solta  o  ar  com  desdém.  “Ah,  tá.  Bom,  sinto muito por quebrar a sua cara, sr. Perfeito, mas não tô interessada em sair com você.”

“Acho que você não entendeu, Santos. Não quero uma ligação amorosa com você. Sei que você não tá a fim. Se isso a deixa feliz, também não tô.”

“Isso  me  deixa  mesmo  muito  feliz.  Tava começando  a  me  preocupar  que  eu  fosse  de  fato  o seu  tipo,  e  é  uma  ideia  aterrorizante  demais  de conceber.”

Quando tenta entrar no carro, agarro a porta para mantê-la aberta. “Tô falando de imagem”, explico.

“Imagem”, repete ela.

“É.  Você  não  seria  a  primeira  menina  a  sair comigo  para  aumentar  a  popularidade.  Acontece  o tempo todo.”

Jisele  ri  de  novo.  “Tô  perfeitamente  satisfeita com  a  minha  posição  na  hierarquia  social,  mas muito  obrigada  por  se  oferecer  para  ‘aumentar minha  popularidade’.  Muito  gentil  da  sua  parte, Jimin. Mesmo.”

A  frustração  dá  um  nó  em  minha  garganta.  “O que você precisa para mudar de ideia?”

“Nada. Você tá perdendo seu tempo.” Ela balança a  cabeça,  parecendo  tão  ustrada  quanto  eu.  “Sabe de uma coisa, se você transferir toda essa dedicação em  me  azucrinar  para  os  estudos,  vai  tirar  dez  na prova.”

Jisele  empurra  minha  mão,  senta  no  banco  e bate  a  porta.  Um  segundo  depois,  o  motor  está rugindo,  e,  se  eu  não  tivesse  dado  um  passo para trás, ela com certeza teria passado por cima do meu pé.
Será que Jisele Santos foi atleta em outra vida?

Que mulher teimosa.

Com  um  suspiro,  fito  as  lanternas  vermelhas  e tento pensar em meu próximo passo.

Nada me vem à cabeça.

pra jisele lerOnde histórias criam vida. Descubra agora