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Jisele

Estou funcionando com quatro horas de sono. Por favor, alguém me mate. O lado bom é que ninguém viu Jimin me deixar na porta do alojamento hoje cedo,  então  pelo  menos  minha  honra  ainda  está intacta.

As aulas da manhã não acabam nunca. Tenho uma de teoria seguida de um seminário sobre história da música — e ambas exigem minha atenção, o que é difícil, quando mal consigo manter os olhos abertos.

Já bebi três cafés, mas, em vez de me dar energia, a cafeína  só  está  drenando  os  resquícios  da  que  eu tinha.

Vou  almoçar  tarde,  num  dos  refeitórios  do campus,  escolho  uma  mesa  bem  no  fundo  e  fico enviando vibrações de “Me deixem em paz”, porque estou  cansada  demais  para  jogar  conversa  fora.  A comida  me  acorda  um  pouco,  e  passo  pelas  portas de  carvalho  do  edifício  de  filosofia  com  tempo sobrando para a aula seguinte.

Aproximo-me  do  auditório  de  ética  e  paro,  num sobressalto.  Ninguém  menos  que  Justin  está caminhando  pelo  corredor  largo,  as  sobrancelhas escuras  anzidas, enquanto digita no celular.

Mesmo  tendo  tomado  banho  e  trocado  de  roupa no alojamento, me sinto uma completa idiota. Estou de calças de ginástica, um moletom verde e botas de borracha vermelhas. A previsão do tempo tinha dito que ia chover, o que não aconteceu, então agora me sinto ridícula por ter escolhido esse sapato.

Taehyung,  por  outro  lado,  é  pura  perfeição.  A  calça jeans  escura  abraça  suas  pernas  compridas  e musculosas,  e  o  suéter  preto  se  estica  sobre  os ombros  largos  de  um  jeito  que  me  faz  tremer  nas bases.
Meu  coração  bate  mais  rápido  à  medida  que  me aproximo.  Estou  tentando  decidir  se  deveria  dizer “oi”  ou  só  cumprimentar  com  um  aceno,  mas  ele resolve o dilema, falando primeiro.

“Oi.”  Seus  lábios  se  curvam  num  meio-sorriso.  “Belas galochas.”

Suspiro. “Ia chover.”

“Não  foi  sarcasmo.  Gosto  de  galochas.  Me  fazem lembrar  de  casa.”  Ele  percebe  meu olhar interrogativo e explica depressa: “Sou de Seattle”.

“Ah. Foi de lá que você pediu transferência?”

“Foi. E, vai por mim, se  não estiver chovendo em Seattle, é porque tem alguma coisa errada. Botas de chuva são um item de sobrevivência quando se vive em  Seattle.”  Ele  enfia  o  smartphone  no  bolso, adotando  um  tom  casual.  “Então,  o  que  aconteceu com você na quarta-feira?”

Franzo o cenho. “Como assim?”

“A festa. Procurei por você depois da sinuca, mas já tinha ido.”

Ai, meu Deus. Ele me  procurou?

“É,  saí  cedo”,  respondo,  torcendo  para  parecer casual  também.  “Tinha  aula  às  nove  no  dia seguinte.”

Taehyung deita a cabeça de lado. “Ouvi dizer que foi embora com Park Jimin.”

Isso me pega desprevenida. Não achei que alguém nos  tivesse  visto  saindo  juntos,  mas  é  claro  que  estava enganada.

Aparentemente, os boatos circulam mais rápido que a velocidade da luz, na Briar.

“Ele  me  deu  uma  carona  para  casa”,  respondo, dando de ombros.

“Ah. Não sabia que eram amigos.”

Abro  um  sorriso  travesso.  “Tem  muita  coisa  ao meu respeito que você não sabe.”

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