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Jimin

Estou trabalhando na bancada da cozinha esta noite, super ustrado à medida que leio a redação que Jisele “corrigiu” hoje cedo. Ela saiu da minha casa com ordens para refazer o texto, mas é tão difícil. A resposta é simples, droga! Se alguém te manda assassinar milhões de pessoas, você diz “Não, obrigado, vou deixar passar”. Só que, pelos critérios estabelecidos nessa porcaria de teoria, há prós e contras em ambos os lados, e não consigo dar conta disso. Acho que sou péssimo em me colocar no lugar de outra pessoa, e isso é um tanto desanimador.

“Pergunta”, anuncio, enquanto Yoon caminha até a cozinha.

“Resposta”, devolve ele, na mesma hora.

“Não fiz a pergunta ainda, idiota.”

Sorrindo, ele lava as mãos na pia e amarra um avental rosa-choque na cintura. A aberração cheia de babados foi um presente de aniversário que Hobi, Jin e eu demos a ele de brincadeira, dizendo que se ia ser a mãe da casa, deveria se vestir para o papel. Yoon rebateu insistindo que ele é macho o suficiente para dar conta de qualquer peça de roupa que colocarmos na ente dele e agora usa o maldito avental como um distintivo de honra masculina.

“Tudo bem, vou responder”, diz, a caminho da geladeira. “Qual é a pergunta?”

“Certo, você é um nazista…”

“Nazista o caralho”, exclama ele.

“Deixa eu terminar, tá legal? Você é um nazista, e Hitler acabou de mandar você fazer uma coisa que vai contra tudo o que acredita. Você diz ‘Legal, chefe, vou matar todas essas pessoas para você’ ou diz ‘Vá se ferrar’, correndo risco de morrer?”

“Mando ele se ferrar.” Yoongi faz uma pausa. “Na verdade, não. Meto uma bala na cabeça dele. Problema resolvido.”

Solto um gemido. “Exatamente, né? Mas  esse  babaca aqui…”, aponto para o livro na bancada, “acredita que o governo existe por uma razão, e os cidadãos precisam confiar em seu líder e obedecer às suas ordens para o bem da sociedade. Portanto, em teoria, existe um argumento a favor do genocídio.”

Yoongi tira uma bandeja de coxas de ango do congelador. “Besteira.”

“Não estou dizendo que concordo com essa linha de raciocínio, mas tenho que argumentar segundo o ponto de vista desse cara.” Frustrado, corro a mão pelo couro cabeludo. “Odeio essa aula, cara.”

Yoongi desembrulha a bandeja e a coloca no micro-ondas. “A segunda chamada é sexta-feira, né?”

“É”, respondo, com tristeza.

Ele hesita. “Você vai jogar contra o Eastwood?”

Eu me alegro por um instante, porque hoje de manhã recebi a confirmação oficial do treinador de que definitivamente estarei no rinque na sexta-feira. Aparentemente, as notas só vão ser computadas na próxima segunda-feira, por isso, no momento, minha média ainda é o que precisa ser. Na segunda-feira, se minha nota em ética for cinco ou menos, vou ficar no banco até contornar as coisas. No banco. Puta merda.

Só de pensar fico enjoado. Tudo o que quero é ganhar o Frozen Four para o meu time de novo e virar profissional. Melhor, quero  estourar  como profissional. Quero provar a todos que cheguei lá por mérito próprio e não porque por acaso sou filho de um jogador de hóquei famoso. É  tudo  o que sempre quis, e fico doente de saber que meus objetivos, para os quais me dediquei tanto,  estão  em  perigo  por  causa  de  uma  matéria idiota.

“O  treinador  disse  sim”,  digo  a  Guinho,  que comemora  batendo  na  palma  da  minha  mão  com tanta força que chega a arder.

“Assim que eu gosto!”, exclama.
Hobi  entra  na  cozinha,  um  cigarro  apagado pendurado no canto da boca.

“Melhor não fumar aqui dentro”, adverte Guinho

“Linda vai acabar com a sua raça.”

“Estou  indo  lá  para  os  fundos”,  promete  Hoseok, porque sabe que é melhor não criar problemas com a proprietária da casa. “Só queria avisar a vocês que, hoje à noite, Birdie e os caras vão vir assistir ao jogo do Bruins aqui em casa.”

Estreito os olhos. “Que caras?”

Hoseok  pisca  com  inocência.  “Você  sabe,  Birdie, Pierre,  Hollis,  Niko  —  se  parar  de  escura  e  sair daquele  alojamento.  Hmm…  Rogers  e  Danny. Connor. Ah, e Kenny também, e…”

“O  time  inteiro,  você  quer  dizer”,  eu  o interrompo,  secamente,  antes  que  liste  todos  os outros jogadores.

“E as namoradas, os que têm.” Ele olha para Yoon  e  para  mim.  “Tudo  bem,  né?  Não  vamos  virar  a noite nem nada assim.”

“Contanto  que  cada  um  traga  a  própria  bebida, por  mim  tudo  bem”,  responde  Yoon.  “E  se  Danny vier, melhor trancar o armário de bebidas.”

“A  gente  pode  colocar  no  quarto  do  J.”,  diz Hoseok,  com  um  riso  de  escárnio.  “Aposto  que  não vai beber uma gota.”

Yoongi me olha com um sorriso. “Tadinho. Quando vai aprender a beber que nem homem?”

“Ei,  sei  beber  muito  bem.  O  problema  é  o  dia seguinte.” Sorrio para meus colegas de time. “Além do mais, sou o capitão. Alguém tem que ficar sóbrio para manter esse bando de loucos na linha.”

“Valeu,  mãe.”  Hoseok  faz  uma  pausa,  depois balança  a  cabeça.  “Na  verdade,  não,  você  é  a  mãe”, diz para Yoongi, sorrindo para o avental dele, antes de se voltar para mim. “Acho que isso faz de você o pai. Vocês dois são mesmo bem ‘família’.” Ambos mostramos o dedo do meio para ele. “Ah, mamãe e papai tão bravos comigo?” Ele solta um suspiro fingido. “Vocês vão se separar?”

“Não enche”, diz Yoongi, mas está rindo.
O forno apita, e Yoongi  tira o  frango descongelado e  começa  a  preparar  nosso  jantar  enquanto  faço meu dever de casa na bancada. E não é que a cena toda é família pra caramba?

pra jisele lerOnde histórias criam vida. Descubra agora