2. Príncipe Precoce

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Ele ficou imóvel, parado a poucos metros deles no terreno de grama macia soprada por uma peculiar brisa morna e suave, como se estivesse apenas sussurrando à relva o que acontecia. Sentiu a curiosidade deles tomando caminho para seus pés e chegando até o seu rosto.

Lucius nunca se considerou alguém arrogante ou narcisista, apesar de seu sobrenome abrir tantas portas para que fosse. Recordava Killian vivendo a dizer que o sangue de um Vangel era doce feito o de um mortal realmente bondoso e imaculado. Um cálice raro em qualquer tempo.

Mas ele não era mortal, e com certeza não era imaculado. E tudo que Killian dizia não passava de bobagem vaidosa.

Contudo gostou de ver suas expressões, de sentir a veracidade nelas com o fato de sua presença ser tão desejada ali. Durante o tempo com Margaret, rodeado de humanos que no máximo lhe dirigiam sorrisos surpresos e educados ao se depararem com seu rosto, foi estranho não ter criaturas a cerca-lo. Pedindo com olhares de súplica que deixassem beijar sua mão, tocar-lhe o rosto com os dedos frios e até tomar uma só gotinha de seu sangue. O sangue que para eles era inestimável.

Sem dúvida foi bom sentir-se livre com o anonimato durante certo tempo, como um fantasma de sombras que o mundo não conhece e não pode atingir. Existir sem que saibam. A única maneira de ser plenamente livre. A fama tão valorizada quanto o poder era o raio de luz que incendiava esse fantasma voador, o arcanjo que o matava com a lâmina de sua espada.

Mas ao vê-los Lucius conseguiu enxergar o amor infundado que sentiam, com a esperança aliada ao desejo e ao inconsciente desespero em seus olhares quando viam aquele que com a devoção de um espectador á uma obra de arte soberana em sua silenciosa grandeza, chamavam de Príncipe do milênio.

Não era vaidade, mas admiração por essa capacidade cega e verdadeira de outrem. Cega como os que acreditam amar algo que não conhecem, verdadeira ao ponto de fazê-lo esquecer todas as mentiras que já havia escutado.

Apenas uma pequena parte do primeiro portal se abriu rápida e inaudível, revelando uma mulher alta e de sorriso gracioso que abriu caminho entre a multidão parada em frente ao hall de Black Marriage. Ela foi até ele e encostou a mão em seu ombro.

- Você finalmente chegou - Sussurrou Simone, tranquila.

Lucius deu um sorriso, mas engoliu em seco quando a viu sair para fora. Se ela estava ali então... Não. Estava imaginando coisas demais.

- Lucius, - Ela voltou-se para os outros á frente, aumentando o volume da voz - Faz ideia do quanto esperamos por você?

Assim como via acontecer com a maioria dos que já o conheceram, ou com os que simplesmente só o viam uma única vez, mortais ou vampiros a visão de seu rosto era o suficiente para fazê-los virem até os dedos de suas mãos, menores que um pratinho de xícara.

Gostavam de olhar para ele. Aquele menino imortal cheio de poder ainda adormecido, gentil e adorável demais para alguém que tinha o que tinha, era o que era.

Mas isso não devia ser surpresa alguma, devia? Todos os Vangel eram assim, encantadores. O ouro do Conselho Escaleno. Não era o poder, a pudica dádiva que transformaria eles em tiranos. Certo?

Como se ele fosse mesmo uma espécie de Cristo ou santo, as criaturas de idades variadas mas todas com os mesmos semblantes confusos e impressionados se aproximaram dele e beijaram suas mãos como Simone o fizera. Talvez Killian estivesse certo sobre seu sangue.

Não deixou de pensar sobre o quão curioso e aterrador era aquilo. Seus abraços calorosos e até então castos poderiam facilmente se tornar outra coisa, caso eles pudessem fazer algo mais. Imaginou que se tivessem a permissão para fazê-lo, ou a oportunidade não iriam hesitar em furar sua pele com as presas recém nascidas. Tamanha era a pressão de seus lábios.

After AlgeaOnde histórias criam vida. Descubra agora