5. Uma ideia do valor

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Como podia repudiar e desejar aquilo ao mesmo tempo? Queria ter sabido o preço, ainda que suas escolhas fossem as mesmas.

Dentre as milhares, infindáveis vantagens de ser um Vangel - que era como todos pensavam ser sua existência - Sempre os melhores quartos estavam incluídos. Não foi nada surpreendente chegar ao aposento, supostamente seu, e encontrar um lugar parecido a uma miniatura palaciana de um comodo barroco e escuro. Perfeitamente vitoriano.

Nunca negou que amava o luxo, aquele encantamento inebriante e familiar, ele não conseguiria fazer isso nem se quisesse. Seus olhos o trairiam no mesmo instante. Porém sabia que aquilo só estivera presente por ser quem era. Por ter nascido ali. Se tivesse tido a opção de escolher entre a beleza segura que o agarrava toda vez ou ser apenas mais um bebedor de sangue entre todos eles, sem o peso de seu nome, teria preferido tirar essa parte de sua vida? Essa parte de si?

Não era justo pagar tão alto por um presente que não havia pedido, em especial quando a noção era tão limitada. Somente o escuro. Não devia então ser chamado de presente.

O quarto em Black Marriage era um interior coberto de sombras, as paredes repletas de pinturas e caracteres barrocos de anjos dourados e desbotados, arabescos floridos com mais espinhos cor de carvalho do que flores de fato. Parecendo mais com as portas de um armário do que realmente paredes sólidas.

Uma imensa cama que cobria toda a parede direita estava forrada com veludo verde-sade, e abaixo dela, sobre o chão de madeira escura como toda a mansão se encontrava um caixão negro e fechado.

Um momento...Qual era a necessidade de esconder um caixão em Black Marriage? Apesar de não saber com certeza a extensão da presença do sol nas manhãs dali, achava que não seria tamanho a ponto de incendia-lo.

"Você gosta de sentir dor, não é?"

A voz grave não combinando em nada com o tom intrépido era inconfundível. Lucius olhou para uma poltrona verde escura de estofado duro a uma pouca distância da cama. Não a havia notado antes pelo contraste da parte inferior do quarto, semelhando ser forrado com o mesmo estofado.

E lá estava Morela, derramada como uma rainha.

Ignorou a pontada na cabeça.

- Ele já teve a chance de me queimar. - Caiu na beirada da cama com um suspiro - Você sabia disso? Sabia onde eu estava me metendo quando concordou em vir pra cá?

"Para os braços amorosos de seu pai?" Não soube se ela estava segurando um riso, sendo irônica ou apenas neutra "Se soubesse eu teria dito, não sou tão cruel quanto você imagina".

Vládimir sabia, e escondera isso dele. Deixando que fizesse seus planos em vão. Que fosse pego de surpresa pelo próprio Killian.

Entretanto, por mais que estivesse com raiva viu que em seu lugar provavelmente teria feito o mesmo. Não era algo que ele pudesse ter controlado. Na verdade estava ainda mais decepcionado era consigo mesmo. Como não previu que Killian Vangel faria algo assim?

- O que é que eu faço? - Ouviu a aflição escapar em forma de fala, olhando para as próprias mãos cruzadas.

"Bem, nós podemos matá-lo"

- É mesmo? - Apoiou o rosto em um punho, a voz saindo desinteressada. - Da última vez não deu muito certo.

"É claro que não deu certo, por acaso procurou a minha ajuda?".

- Não mesmo - Deixou as costas escorregarem sobre a cama - Eu não confiava em você na época, lembra?

As fisgadas insistentes, como agulhas martelando quais já começavam a deixá-lo zonzo lembravam-no de que talvez ainda não fosse a melhor das ideias confiar em Morela.

After AlgeaOnde histórias criam vida. Descubra agora