1. O Caminho Vermelho

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Arredores de Londres, 1888:

A angústia queimava, quase sentia bater seu coração morto com cada segundo na estrada lhe revelando algo diferente:

Raiva,

Expectativa,

Medo,

Vontade de correr para fora da carruagem...

... Vontade de alcançar seu destino de uma vez.

Isso tudo, essas terríveis sensações pulsantes como agulhas, por causa dele. Ele cuja voz sentia descer gélida por sua espinha. Era ele o responsável por tudo.

Como dedos longos e ossudos os galhos das árvores nuas sem suas copas se lançavam sobre a imagem rosada da lua contra um rubro fundo de céu que um passo restava na corrida para o anoitecer. Não era bem o que esperava dele.

Lucius espiou para fora da abertura da carruagem e um desânimo o tomou aos poucos. Tinha certeza de que ainda não estavam nem na metade do caminho. Lançou as costas com força contra o estofado negro. A espera era pior do que finalmente já estar lá. Que chegasse de uma vez, porque adiar o inevitável? Podia tentar dormir, mas isso era impossível, os nervos só faziam seus olhos se arregalarem o quanto mais perto sentia que estava do seu destino. Quanto mais se aproximava de Black Marriage.

Parecia maluquice estar indo para lá agora. Depois de tanto insistir à Boa Margaret que ela o abrigasse consigo. No começo é claro que ela aceitou, apertando suas bochechas com a força de um beliscão.

"Nada me deixa mais feliz que cuidar do meu lindo netinho predileto!".

Mas com o passar do tempo, comparecendo de bom grado a todos os chás da tarde que ela organizava, marcando presença nos jantares para a alta classe e ajudando na supervisão dos planos finais de seu zoológico particular, Lucius percebeu que a vida "badalada" dos ricos de Londres estava sugando sua vontade de viver... Ou o que quer que isso se traduzisse para ele.

Nunca podendo sair da mansão quando o sol era minimamente visível no céu, seu único horizonte sendo a chuva torrencial e ininterrupta além das janelas nos salões. E mantendo-se nublado, cinzento e tempestuoso, o lugar era como uma rara criança tímida que vivia se machucando, a dor saindo pelos olhos em total silêncio.

Além disso, sabia que Killian estava apenas brincando com ele, cedendo um capricho. Mais cedo ou mais tarde exigiria que viesse.

Lucius o xingou em seus pensamentos. É claro que permitiu que passasse um tempo com Margaret. Seria muito melhor para ele que o garoto viesse por vontade própria. Ainda mais após ter lhe dado uma escolha, com todas as aspas que isso envolvia. Ele sabia que uma hora ou outra Lucius iria acabar se cansando das companhias e rotinas recorrentes, requentadas, e da própria Margaret.

Mas não queria pensar assim. Margaret, a Boa Margaret era ótima. Gostava dela, claro que gostava. E nos intervalos de seu emprego de Grande Dama, sabia também que ela gostava muito dele. Era sua única avó afinal.

E agora seguia para Black Marriage, escondida, quase bucólica. Os centros finalmente ficando para trás.

Ao menos iria rever Vladimir, algo que tanto esperou enquanto se via preso nas conversas de mulheres espalhafatosas, rindo como ratinhos e falando como se ele não estivesse ali. Mas por vezes algumas o fitavam, olhando para ele como olhavam um caro boneco de porcelana na vitrine de uma loja.

Queria contar essas coisas a ele. Imaginou sua risada franca e ressonante que ecoaria por todo o canto onde estivessem, atraindo a atenção para a figura alta e de sorriso largo que fazia todos desejarem se aproximar.

After AlgeaOnde histórias criam vida. Descubra agora