PERIGO

Um dia após a perda

Mariah 

Acordo, não sei como vim parar na cama e ainda por cima com outra roupa, custo acreditar no que aconteceu, mas eu sei que aconteceu, porque sinto uma dor tão grande, que é difícil de explicar, é difícil respirar, e percebo que já estou chorando, me levanto, vou até o banheiro, quebro a chilete e no calor do momento eu começo a me cortar, eu não sinto dor física, porque a dor que eu estou sentindo é maior do que qualquer outra dor, e essa dor não passa, não some, não dorme, não me larga, não me deixa, eu não quero viver, eu não posso viver com isso, com essa dor, se eu deixasse os caras do shopping me pegarem talvez meus pais estariam vivos, talvez eu estaria com eles agora, era pra eu está no lugar deles, pego e corto meu pulso, eu quero aliviar essa dor, eu preciso morrer, eu preciso, o sangue começa escorrer e quando vejo o chão está todo manchado de sangue, todo momento que eu passei ontem vem na cabeça, entro em desespero, começo a bater, quebrar as coisas, nem eu cortando meu pulso essa dor não some, não diminui, tento cortar mais uma vez, mas dessa vez  sinto alguém me segurar.

-Se acalma! "Conheço a voz"

-Como você quer que eu me acalmo? EU PERDIR MEUS PAIS, VOCÊ SABE COMO É A DOR QUE É PERDER ALGUÉM QUE VOCÊ MAIS AMA NA VIDA? "Grito com ele" -VAI EMBORA, VOCÊ NÃO É BEM VINDO AQUI!

- Você se cortou? Porque? Não faça mais isso, tá me ouvindo! "Ele diz me puxando pra fora do banheiro e logo em seguida pega os primeiros socorros"

-Não precisa Henrique! O que você está fazendo aqui ?

-Você precisa ir no psicólogo.

-Eu preciso dos meus pais. E eles não vão voltar, então sai daqui! AGORA "Falo, sei que ele está aqui só pra investigar alguma coisa, não é por mim, nunca foi por mim"

-Eu preciso cuidar de você, até eles terminarem de resolver tudo pelo menos! "Ele diz vindo até a mim"

Ele limpou o sangue e fez o curativo, ficamos em silêncios, na verdade ele né, porque eu fiquei chorando o tempo todo, não acredito, não acredito, meu Deus eu pedi tanto, será que eu não tenho fé ? Será que eu não tenho fé? Porque o senhor permitiu? Porque não me leva? Eu não vou aguentar, eu vou surtar, eu sei que vou, eu não tenho ninguém. Enquanto eu converso com Deus em silêncio o Celular do Henrique toca e ele sai pra atender, ao voltar ele me olha fixo.

-Está tudo pronto, vamos que já está chegando gente.

Me levanto pego um vestido preto que tampa meus ferimentos e meu tênis preto, vou no banheiro e me troco, ele me leva pro velório, eu quis vim com o carro dos meus pais, ao chegar no velório já tinha várias pessoas e uma mulher recepcionando, mas sei que terei que fazer isso, vou até os meus pais, eu achei que não tivesse mais lágrimas, mas eu tenho e muito ainda, o choro já não é mais de dor, é de consolo, eu sei que eles não vão mais voltar, eu sei que eu preciso aceitar. Depois do velório eu vou ter que ir na delegacia, precisam do meu depoimento, eles homenagem meus pais e no final eu pedi para cantar uma música, lei da vida, mas  eles não morreram pela lei da vida, as vidas deles foram tiradas, e o gomes ainda teve coragem de vim no velório, ele deve a audácia de me cumprimentar e dizer meus pêsames, tive vontade de meter uma bala em sua cara, mas ainda consegui me controlar. Depois fui para delegacia e percebo que já está de noite, dou meu depoimento básico, sem acusar ninguém e sei que isso não vai se resolver, sei que eles não vou pegar o culpado ou os culpados, então não tinha nem o porque do meu depoimento, logo depois saio, pego o carro e vou para casa! Ao chegar um filme passa na minha cabeça, parece que meus pais estão ali, ou vão chegar a qualquer momento, eu não estou aguentando ficar aqui, não quero ficar sofrendo, quero meus pais de volta. Subo as escadas, pego minha mochila tiro os meus matérias e coloco um baby doll, dinheiro e minha arma, a gravação, tomo banho, coloco outro vestido colado e preto, pego a mochila e vou pro carro, saio sem rumo, sem destino e sem direção, não sei o que fazer, estou perdida, as lembranças dos meus pais vem e vão, passo pela beira mar e resolvo parar, desço e vou pra areia, fico sentada pensando no que irei fazer, estou acabada, esse barulho do mar acaba me acalmando.

- Sofrimento por amor? "Me assusto com uma mulher"

- Quem dera se fosse! "Falo" - E você?

-Amor mal resolvido ou posso dizer que é amor não correspondido. "Ela fala" - Quer?

Ela me oferece um pó, eu nego com a cabeça.

- Pega, vai relaxar. Você está precisando! "Ela insisti"

- Não, obrigada! 

-Então tá, não sabe o que está perdendo. "Ela pega e coloca o pó em sua língua e alguns momentos ela já está rindo atoa, com as risadas dela, eu acabo rindo também, ficamos nessa até o efeito passar.

- Pelo menos consegui fazer você ri! "Ela fala" - Vou indo.

- Obrigada. Vai pra onde?

- Estou andando pela beira da praia desde da 17hrs, peguei o traste com outra na cama e ele ainda me disse que não tínhamos nada, eu queria matar ele, mas vim esfriar a cabeça e agora vou atravessar a rua e voltar a minha vida de merda! "Ela diz e senti uma tristeza por ela também"

- Quer desabafar? "Pergunto"

- Você, não sei o que passou ou está passando, mas levanta a cabeça e segue em frente. toma! pra relaxar, você vai amar. "Ela diz me dando uma sacolinha com um pó branco"

- O que é isso?

-LOLO. O efeito passa rápido, então não tem perigo, se você tosar pouco. Conselhos a vida está me dando todos os dias. A vida vai te ensinar a lidar com todos os tipos de situações. Eu vou voltar pra minha vida de merda e vou ter que aguentar o traste todos os dias, foi bom te encontrar e te conhecer. UFA, me sinto aliviada. Tchau. "A mulher fala e se vira"

- Como é seu nome? "Pergunto, mas a mulher já está correndo e não me ouve"

Vou pro carro e fico olhando para a sacolinha, não sei se eu deveria, mas não tem ninguém pra me impedir, coloco uma dosagem maior em minha boca, maior do que a mulher colocou, ligo o carro e saio, começo a sentir uma sensação estranha, minha cabeça está girando, como isso parece ser bom? mas, daí eu começo a ve meus pais, vejo eles sorrindo, meu coração está acelerado, eu os abraço, a sensação estranha desaparece, do nada, meus pais estão sumindo, ouço barulho de tiro e vejo meus pais caídos sanguentados  e não sei como aconteceu, mas vejo o carro capotando e meus olhos fechando! Quando abro meu olhos...