Mentira

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Narrador Onisciente

          Kerline abriu a porta da sala de aula e no mesmo instante viu Sarah e Juliette interrompendo um beijo que compartilhavam. As duas ainda estavam próximas demais e com os corações acelerados quando desviaram o olhar para a mulher que acabara de chegar.

          - O que vocês estavam fazendo? – Kerline decidiu se fazer de desentendida. Ela queria escutar a desculpa que as duas dariam para a cena que tinha acabado de assistir. 

          Como a Sarah não sabia se a sua colega de curso tinha visto elas se beijando ou apenas próximas demais, ela resolveu arriscar com a primeira mentira que lhe veio na cabeça:

          - Eu estava com um cisco no olho e pedi para a Juliette me ajudar a tirar ele. Estava incomodando demais e eu não conseguia tirar sozinha.

         Juliette encarou a sua loira com a expressão brava. A brasiliense foi capaz de ler o pensamento da morena. A professora estava furiosa com a desculpa esfarrapada que ela tinha escolhido para dar, nem a pessoa mais besta do mundo acreditaria.

         - Entendi. – Kerline segurou ao máximo para não rir. Sarah era patética mentindo. – E conseguiu?

          - O quê? – A mais alta abriu um sorriso desconfortável.

         - O cisco, Sarah. Deu certo? Não tem mais nada incomodando? – Juliette resolveu entrar na mentira esfarrapada, para não deixar tudo ainda mais desconfortável.

          A paraibana se martirizava mentalmente. Ela não deveria ter cedido ao desejo e ter ficado com a sua aluna dentro da sala de aula. Pelo menos a Kerline não chegou minutos atrás, quando a morena tinha seus dedos dentro da Sarah.

          - Sim. O cisco saiu. – Sarah coçou e piscou os olhos repetidamente, fingindo confirmar se o suposto cisco tinha realmente saído. – Não tem mais nada incomodando.

          - Que bom. – Kerline disse e abriu um sorriso falso para as duas, porém, o sentimento que era expressado pelos seus olhos era uma mistura de tristeza e raiva.

         Depois de retomar a razão e ser capaz de pensar um pouco, Juliette percebeu o porquê desse sentimento expressado nos olhos da sua aluna que entrou na sala por último. Kerline deveria ser uma das últimas pessoas a ter encontrado as duas daquele jeito, já que ela tinha avisado para a morena quais eram seus sentimentos perante a Sarah. Mas a merda já estava feita e não tinha mais o que fazer para desfazê-la. Então, quebrando o silêncio constrangedor que abraçava a sala, a paraibana resolveu se pronunciar:

          - Já que eu já te ajudei com o seu problema – Juliette disse essa parte para a brasiliense. – Eu vou aproveitar os minutinhos que restam, antes do restante dos alunos chegarem, para voltar aos trabalhos que eu estava corrigindo antes. – Sua atenção intercalava entre as duas loiras antes de se sentar novamente na mesa e voltar a analisar os papéis.

          Kerline se sentou em sua carteira e tentou respirar fundo, a fim de controlar a tempestade de sentimentos que preenchia seu peito. Ela estava com uma vontade, quase incontrolável, de chorar. Chorar de tristeza por ter visto a mulher que ela era apaixonada por mais de três anos beijando a boca de outra. Entretanto, não era apenas a tristeza que inundava o seu peito e sim a raiva. Raiva da sua professora que era uma das únicas pessoas que a Kerline tinha confessado seus sentimentos pela Sarah, e, mesmo assim, tinha beijado ela.

          “A Juliette teve a cara de pau de beijar o amor da minha vida tendo consciência dos meus sentimentos pela Sarah. Além de não ser nada profissional, a senhorita Freire também não sabia o significado de sororidade.” Com os pensamentos turbulentos, Kerline acabou chegando a uma conclusão: não passaria de hoje. Hoje ela correria atrás de todo o tempo perdido por conta do medo que a aprisionava.

Desire - Sariette Onde histórias criam vida. Descubra agora