Três meses depois

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POV Juliette

           Eu e todo o elenco do teatro estávamos em cima do palco, de mãos dadas enquanto esperávamos a plateia terminar de nos aplaudir. A peça havia acabado e com isso, meu emprego na universidade também. Tentando não pensar na parte triste da situação, decidi avaliar o meu último trabalho.

            A apresentação foi quase impecável. Quase, pois alguns alunos esqueceram as falas em algumas cenas e tivemos que recorrer ao improviso. Fora isso, tudo ocorreu conforme o planejado. Acredito que os improvisos passaram despercebidos pela plateia e, consequentemente, pelos olheiros que eu sei que estavam assistindo à peça.

             Descemos do palco e fomos recebidos por espectadores que queriam nos parabenizar pessoalmente pela peça. Após agradecer e abraçar incontáveis pessoas, percebo Tiago Leifert se aproximando de mim. Seria agora que ele me despediria? Não iria esperar nem um dia para eu poder digerir que essa peça tinha sido o meu último projeto na universidade?

           - Oi, senhorita Freire. – Ele está a um passo de distância de mim. Seu rosto estava iluminado por um sorriso de satisfação. – Preciso te parabenizar por esse trabalho incrível que você realizou hoje. A peça foi um sucesso. Fui parado por inúmeras pessoas. Todas elas me falando o quanto amaram a apresentação.

          - Obrigada. O mérito também é deles. – Digo e aponto com os olhos para meus alunos que ainda estavam conversando com o público. – A última semana de ensaios foi pesada e todos conseguiram passar por ela tranquilamente. Se não fosse por eles, essa peça não seria absolutamente nada.

           - Sim. Com certeza. – Tiago abre um sorriso que revela seus dentes. – Mas eu não vim aqui apenas para te parabenizar.

          - Não? – Pergunto tentando transparecer calma. Porém, a verdade é que meu coração estava começando a tropeçar nas batidas só de pensar que eu seria dispensada agora.

           - Não. – Parecendo perceber meu nervosismo crescente, Tiago abre um sorriso sereno e apoia uma mão sobre meu ombro. – Juliette, você é muito boa. Uma profissional excelente. Definitivamente uma das melhores que conheço. Então, eu estive pensando bastante ultimamente e decidi que vou arriscar.

          - Como assim? – A minha confusão pareceu ser o motivo de fazer o sorriso de Tiago se alargar mais.

           - Eu não poderia deixar você escapar assim das minhas mãos. Eu prefiro arriscar manter você na nossa equipe do que deixar você ir embora. Você concorda em continuar trabalhando conosco, senhorita Freire?

          - Sim! – Digo animadamente, atraindo alguns olhares para mim. – Sim. Óbvio que concordo.

          - Vamos, meu amor. – Sarah aparece de repente ao meu lado, porém sua voz continuava distante. Ela se aproxima e deixa um beijo sobre minha bochecha.

          Ela repete a ação. Entretanto, esse beijo parece mais real que o anterior. E ao me dar conta, eu abro os olhos e me encontro sobre a cama, no meu quarto com Sarah ao meu lado, me acordando. Tudo não passou de um sonho. Ainda não apresentamos o teatro e eu definitivamente ainda estou com os dias contados.

           - Vamos, amor. Temos um longo dia pela frente. – Sarah fala me despertando de vez. – Hoje é o último dia de ensaio.

           - Sim. Eu sei. – Respondo sem conseguir evitar a tristeza de abraçar o tom da minha voz. Me sento na cama e minha namorada faz o mesmo, se sentando ao meu lado.

          - Você está bem? – Sarah questiona levando uma mão até minha bochecha, me fazendo olhar nos seus olhos esverdeados que demonstravam preocupação.

          - Não. Eu tive um sonho. Eu sonhei que tínhamos apresentado a peça e o Tiago tinha desistido de me demitir. – Respondi sentindo meu coração se apertar ainda mais. – Eu queria tanto que esse sonho fosse realidade, Sarah.

          - Meu amor. – Ela inicia e se aproxima, me puxando para um abraço. – Eu sinto muito. Se eu pudesse fazer qualquer coisa para mudar isso, eu faria. Pode ter certeza.

           - Eu sei. – Respondo cabisbaixa e me afasto do abraço para retornar minha atenção ao seu mar esverdeado. – Obrigada por sempre estar aqui do meu lado.

          - Para todo o sempre. – Sarah abre um sorriso acolhedor e deixa um selinho sobre meus lábios. – Te amo, minha rebelde sem causa.

          - Te amo, minha galega do pão doce. – Me aproximo e roubo um selinho da minha loira, deixando-a com um sorriso abobado no rosto e as bochechas levemente ruborizadas. – Agora vamos levantar que o dia vai ser corrido.

Narrador

          Três meses se passaram desde a reunião de Juliette com o reitor da faculdade. Em todo esse tempo, Juliette fez de tudo para aproveitar o máximo possível dos seus últimos meses como professora na faculdade. Ela aproveitou todos os dias dando aula como se fosse o seu último. Entretanto, não foi muito fácil para Juliette se concentrar apenas nos momentos bons, pois sempre que ela lembrava que seu ciclo na faculdade estava, de fato, chegando cada vez mais próximo do fim, a professora sentia seu coração se apertar e as lágrimas rolarem pelo seu rosto. Ela tinha perdido a conta de quantas vezes havia chorado no colo de Sarah.

          Nesses três meses, Juliette ensaiou a peça com seus alunos sempre que podiam, fazendo o máximo para deixar cada cena impecável. Cada vez mais próximos da perfeição. Já que esse seria seu último projeto, a professora queria que fosse perfeito para que jamais esquecessem de seu trabalho. Ensaiaram tanto que todos os alunos já haviam decorado as falas e conseguiam fazer as marcações das cenas de olhos fechados.

          Nesses noventa dias que se passaram, Sarah e Juliette se apaixonaram ainda mais uma pela outra. Cada vez mais a relação de amor, cumplicidade e companheirismo se fortaleceu. Juliette finalmente conseguiu se ver feliz e segura ao lado de Sarah. Ela percebeu que podia sim ser merecedora de um relacionamento saudável, diferente de seu último com Fiuk.

          Ambas descobriram o porto seguro uma na outra. Compartilhavam um dos sentimentos mais genuínos e bonitos que há no mundo.

          Nesse tempo, os planos com sua mãe tinham dado certo. Fazia um mês que Fátima estava morando com sua filha. Após diversas conversas, ela finalmente concordou em se mudar para a casa de Juliette enquanto procuram um apartamento para que ela possa morar. Como dona Fátima queria alguma renda para ajudar nas despesas da casa de sua filha, Boninho insistiu em oferecer um emprego para ela na Projac, sua empresa.

          Nesse um mês, a família desenvolveu o hábito de, três vezes por semana, Juliette, Fátima, Sarah e Boninho se unirem para uma noite de jantar. Nesses jantares, eles se tornavam cada vez mais próximos e sempre aproveitavam ao máximo a presença um do outro. O quarteto sempre está confortável junto, o que ajuda todos os jantares a serem sempre acompanhados por diversão.

          E nesses três meses, o esperado aconteceu. Anitta finalmente pediu Pocah em namoro. O pedido ocorreu na festa de aniversário de Arthur, onde o grupo de amigos de Juliette e o grupo de amigos de Sarah, que estão cada vez mais próximos, estavam. Após o pedido, o novo casal oficial não conseguiu escapar das brincadeiras dos amigos que duraram até algumas semanas depois do ocorrido.

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Desire - Sariette Onde histórias criam vida. Descubra agora