traitor

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Brown guilty eyes and

Little white lies


Estou quase pegando no sono quando minha barriga começa a vibrar descontroladamente. A primeira coisa que penso é que o barulho vem do reality show que estou assistindo, porém conforme acordo de vez, sei que é impossível meu notebook fazer isso. E então a preocupação toma conta de cada célula minha.

Mais uma vibração e percebo que é o celular, pego o aparelho o mais rápido possível e a claridade faz com que eu demore a desbloqueá-lo ou a enxergar algo durante um tempo. Pisco até a visão voltar ao normal, mas a tela não para de apitar as várias notificações e mordo o lábio, já com as mãos suando frio.

Eu nunca recebi tantas mensagens assim, só quando minha família sofreu um acidente e relembrar disso só torna as coisas piores. Tento enviar mensagens pra algum dos meus amigos, mas a tela continua travada e logo percebo que estou em um grupo com muitas pessoas, consigo clicar nas informações e vou passando pelos nomes e fotos, são todos da minha escola.

Volto ao grupo, ainda sem conseguir ler tudo com calma, mas a maioria das mensagens vem com a marcação do meu nome. Começo a tentar ler o ritmo frenético e mais notificações de pessoas me chamando no privado começam a pipocar, a maioria sempre igual: como vc está? Deve ser horrível ver algo assim. Vc vai pra aula amanhã?

Puxo o ar e coço os olhos, deixando o celular de lado um pouco. O que eles querem dizer com "como estou?", a maioria ali nem sabia que eu existo. Minha cabeça lateja e o celular volta a vibrar, mas antes que eu xingue a imagem de Taylor sorrindo ocupa a tela. Encaro a foto da garota pálida e loira, antes de atender.

— Você já viu? — a voz dela é alta, tentando passar por cima da música pop no fundo.

— Vi o que?

— Então você não viu — Resmunga e depois pragueja alguma coisa.

Fecho os olhos, a claridade e as várias notificações me dão náuseas, junto a ansiedade. Limpo a garganta e tento me acalmar, quando o silêncio já está insuportável eu resolvo perguntar:

— Taylor, você pode me contar o que diabos está acontecendo? Você bem? E o Luke?

— Olha... Ei, eu ia entrar aí! — o som fica abafado — Droga! Eu vou te mandar mensagem, não consigo falar direito agora.

Antes que eu possa protestar, a ligação termina junto com a música pop. Aproveito para desligar as notificações de todos os aplicativos, ativo o não perturbe do celular e deixo o brilho no mínimo possível. Já na conversa de Taylor o aplicativo mostra que ela está digitando...digitando...digitando...

Quando o texto finalmente chega, ele é carregado com xingamentos direcionados a Max, meu namorado e um pedido de desculpas por ela não ter conseguido impedir que vazassem meu número. Ainda estou confusa, mas meu estômago dói e as lágrimas começam a arder meus olhos, e em seguida vejo as três imagens.

De início só consigo balançar a cabeça de um lado para o outro, negando mesmo com as provas bem ali, na minha cara.

Não pode ser, não pode ser, não pode ser.

Max está com a roupa de sempre; calça jeans preta e uma camiseta da mesma cor, com uma branca de mangas longas por baixo, o cabelo castanho cacheado carregado de gel cai na sua testa e seus olhos, da mesma cor, acompanham o enorme sorriso enquanto ele abraça e acaricia o rosto de outro garota. Na próxima foto, os dois estão se beijando e a menina aponta para a câmera como se estivesse com vergonha e a última é ele comemorando algo a abraçando pelos ombros.

AzedoOnde histórias criam vida. Descubra agora