brutal

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If someone tells me one more time 

Enjoy your youth, I'm gonna cry

Acho que nunca fui para a escola em um estado tão deplorável quanto hoje. Aperto mais o capuz do moletom enorme que peguei de Zac, meu irmão mais velho. Boa parte da minha visão é tampada pela roupa e, por causa disso, preciso andar olhando para o chão e evitar tropeçar. E mesmo tentando ao máximo me mesclar com o ambiente, os murmúrios pelos corredores não param. E cada vez dói mais, xingo baixinho por não poder faltar a aula hoje.

Ontem quando Max saiu do grupo, as pessoas ficaram enlouquecidas e as teorias só aumentaram e, claro, que eu continuei ali, lendo mensagem por mensagem. Remoendo tudo. Também não me ajudei quando liguei o notebook e passei a madrugada inteira revirando as fotos da festa onde me marcaram em quase todas. Outro motivo pelo moletom de hoje: olheiras profundas e quase nada de maquiagem.

Meus dedos ardem quando aperto mais ainda as alças da mochila, as unhas recém roídas e o desconforto no meu estômago não somem de jeito nenhum.

Alguém esbarra em mim e tropeço, batendo nos armários ao meu lado, a pessoa só continua andando depressa e eu reviro os olhos. É patético, eu deveria ter ficado em casa.

Respiro fundo e mais alguns passos estou ao lado do meu armário pintado de azul e cheio de figurinhas temáticas dos anos 2000, a abro e tiro os três livros que vou precisar mordendo o lábio inferior quando Max me encara na foto que eu deixo grudada ali. Alguém bate na porta e ergo a cabeça, é Luke. Ele mudou a cor das tranças dread e agora elas estão roxas, a boca carnuda está brilhando com o gloss e a pele marrom escuro tem um leve iluminador nas bochechas. Taylor está bem ao seu lado com os braços cruzados e o rabo-de-cavalo balançando de um lado para o outro junto com sua cabeça. Ela me olha de cima a baixo com a típica cara de desaprovação: olhos semicerrados e a boca tão apertada que é só uma linha fina no rosto pálido dela.

— O que é isso? — Ela aponta para minha roupa e me encolho mais.

Luke morde o lábio inferior e começa a morder a unha, tirando mais do esmalte preto já descascado. Passo das suas unhas até encarar o colar de pérolas falsas que ele sempre usa, tudo para evitar olhar para sua namora e minha melhor amiga.

— Essa roupa vermelha não combina nada com a cor do seu cabelo, da próxima vez pega um cinza — Taylor diz sorrindo, tentando fazer graça pra que eu sorria.

Funcionaria em outros dias, mas não hoje e quando Luke percebe que estou segurando o choro, ele cutuca Taylor. Mordo o lábio tentando fazê-lo parar de tremer e minha mente só consegue divagar em: O que eu fiz de tão errado? Poxa, ser traída é mesmo motivo pra todos esses comentários repentinos? Minhas vistas estão embaçadas e só consigo ver as formas dos dois se aproximando e em seguida me abraçando apertando.

As lágrimas que estava segurando molham meu rosto, mas as limpo porque quero que sejam as últimas que irão cair por causa de Max. Mesmo que o bolo na minha garganta não suma pelo resto dos dias, fico ali parada quando me soltam e respiro fundo. Alguém passa ao nosso lado e solta mais um comentário maldoso junto com uma risada.

É hora de me recompor. Sorrio e tiro o capuz, Taylor passa as mãos pelos meus cabelos e Luke dá duas apertadinhas nas minhas bochechas pra que elas fiquem coradas. Repito meu mantra de sempre: quem liga pra o que esses desocupados pensam?

— Não se preocupe, semana que vem alguém trai o namorado na sala de projeção em cima do auditório e vão esquecer você e Max — Luke diz me puxando pelos ombros.

— Isso foi específico demais, tá tudo bem? — Taylor fica ao nosso lado.

Nós rimos e estamos quase na escada, ao fim do corredor, quando dou uma olhada nas horas. Já era pro sinal ter tocado, mas nada aconteceu e cada vez mais as pessoas se acumulam em seus grupinhos. Agora que estou com meus amigos e menos dentro de um casulo, é como se os olhares e comentários tivessem diminuído.

AzedoOnde histórias criam vida. Descubra agora