vinte e cinco

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CAPÍTULO VINTE E CINCO

 

Tento ler e concentrar-me nas palavras e, de seguida, no significado delas. Tento entender o enredo e os nomes das personagens e como se parecem. Tento, mas não faço nada para esconder o facto de que no momento odeio Harry, no entanto, ele é a única coisa na minha mente.

É inevitável, eu amo-o e no entanto ele vai embora e age como se não notasse ou fala comigo. Quero dizer, Alfie coloca isso em palavras, eu sou ignorante e obviamente ingénua se acho que Harry vai amar-me de volta.

Deveria estar a ouvir as músicas de The 1975 porque Deus sabe todas elas têm algum significado triste, doente, que provavelmente vai relacionar-se a qualquer coisa que Matty Healy gema no microfone.

Tudo está calmo e tranquilo até que a voz de Harry diz, "Violet?" e é quase reconfortante ouvi-lo passado horas a chorar e passando as mesmas palavras na cabeça uma e outra vez. Parece que eu não ouvi aquela voz faz tempo, porém, também é uma coisa reconfortante.

Mas, sendo calmante como ela é, também é muito lamentável, porque agora vou ter de lidar com ele. Não respondo, apenas ando para trás no armário até não puder mais e espero pela voz de Harry ou dos passos dele.

A sua voz é a única que eu ouço primeiro. "V-Violet?" É triste e doloroso, mas isso é exatamente como me sinto agora, então de certa forma, isso meio que fica como tudo o que aconteceu. "Violet, por favor responde." Eu quase não o ouço dizer isso, mas meio que desejo que não tivesse.

Um gemido ou soluço, não sei, vem em seguida e eu fecho os olhos, trazendo os joelhos até ao meu peito com os braços em volta dos pés. Fujo de volta mais para dentro do armário e espero que os casacos pendurados em volta de mim me escondam o suficiente.

Mas quando os passos de Harry se aproximam do armário e o meu cérebro realmente funciona, por uma vez, decido que ser um fantasma tem as suas vantagens e estalo os dedos antes mesmo de perceber como horrível isto é.

É horrível, porque eu amo e confio em Harry e ainda assim estou a esconder-me no armário do nosso—meu—apartamento, à espera que ele não me encontre. Eu deveria querer vê-lo, porque sinto falta dele e amo-o, mas desde que cheguei à conclusão disso, parece que não quero vê-lo. Parece que o odeio mais.

Logo atrás da porta soa a sua voz, "Violet, por favor diz-me que não estás a esconder-te de mim." A sua voz falha no final num soluço e eu enterro a minha cabeça nos braços enquanto Harry abre a porta e entra, um fôlego trémulo assume a sua voz.

Ergo a cabeça o tempo suficiente para ver o seu rosto confuso, ainda assim com o coração partido. Ele ainda consegue parecer bonito como sempre, mesmo com as bochechas avermelhadas e lágrimas a cobrir os olhos.

Ele olha em volta confuso. Deve ter olhado outros lugares antes de vir para cá.

"Violet, onde estás!" Ele diz em voz alta, quase gritando. Eu recuo, estando muito longe dos seus gemidos suaves que ele estava a produzir poucos minutos atrás.

Ele afunda no chão; a cabeça a colidir contra a parede, com as mãos a formar punhos enquanto bate no chão.

Balanço a cabeça e olho para os meus dedos dos pés, tentando abafar o facto de Harry estar a ter um colapso ao meu lado por minha causa.

Eu odeio isto, e eu odeio a pequena satisfação que tenho disto. Parcialmente, porque ele está a sentir um pouco a dor e a ansiedade que eu senti, e em parte porque ele está realmente a dar-me atenção pela primeira vez em bastante tempo, pelo que parece.

Harry olha para todo o armário até que os seus olhos caem sobre o livro no meio do chão e a sua respiração fica presa na garganta.

"Eu—" Ele começa, olhando ao redor do armário, procurando. "Violet, e-eu sei que estás aqui." A voz vacila e ele enxuga as lágrimas que se formam nos olhos.

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