Recentemente Zoe passou a ter problemas na escola, segundo a professora, estava dormindo muito nas aulas, e quando me mostrou o boletim percebi algumas notas ruins, não fazia ideia do que fazer. Acabamos brigando, eu perdi a cabeça e ela me disse que jamais seria a mãe dela e em seguida me definiu com palavras que eu nunca pensei que ela soubesse, foi a nossa primeira briga de verdade.
Quando saí para trabalhar estava quente de raiva, a deixei com Detty, em casa.
Trabalhar foi tão terapêutico quanto sempre, e com isso quero dizer que descontei meu ódio inteiro naquela cozinha. Não, não me arrependo. O restaurante estava muito movimentado hoje então não tive um minuto de descanso. Quando as coisas se acalmaram, era final de tarde; resolvi usar esse tempo para me recompor.
— Você parece irritada, deveria beber algo. — Escuto a voz de Tony no pé do meu ouvido. Eu juro que esse cara aparece do nada. E parecia feliz ainda, o idiota.
— Nunca bebo no trabalho. — Me afasto depressa, se deixar ele puxar assunto os clientes vão ficar em fila de espera. Volto a trabalhar.
Dessa vez não gritei tanto, ou amaldiçoei ninguém, não sei se foi por cansaço, mas meu humor melhorou bastante, e eu não percebi o tempo passar, até que era hora de fechar o restaurante, eu me vi sozinha na cozinha. Suspirei. Me alongo e sinto um alívio imediato nas minhas costas cansadas, tiro o avental, a touca, as luvas; e respiro profundamente, aproveitando o momento sozinha, depois pego minhas coisas e saio da cozinha. A minha felicidade, ela dura tão pouco...
A primeira coisa que vi ao sair, foi Tony, com um sorriso enorme no rosto e uma garrafa de vinho em mãos. Na mesa, estavam taças e pratos com alguns aperitivos. Quase ouvi meu estômago roncar. Ele ia falar algo mas eu o interrompi:
— Nem tenta explicar não, a sua cara já conta tudo.
— Eu não faço ideia se isso foi um insulto ou um elogio, Potts. — Ele arqueia uma das sobrancelhas e indica a cadeira para eu me sentar.
Sorrio de lado e olho pela janela a rua lá fora, estava chovendo muito, pelo menos não ventava. O barulho é relaxante. Me viro de novo a ele e em silêncio me sento ao seu lado, provando alguns aperitivos; até então eu não sabia que estava com fome.
— Me diz uma coisa, só para confirmar. — Ele começa enquanto servia o vinho, com uma voz travessa; reviro os olhos. — Você nunca fica com caras que cantam ópera?
— Como assim?
— É que você nunca come sobremesa, nunca bebe no trabalho, tô esperando você me dizer que não sai com caras que cantam ópera.
— Eu nunca saio com caras que cantam ópera. - Ele apenas ri e eu me sirvo de mais alguns aperitivos. — Você é uma péssima influência, sabia? — Digo aceitando o vinho que me entregou, ele volta a rir. Riso frouxo. Me responde quando se recompõe.
— Existem tantas coisas em que eu poderia ser uma péssima influência para você. — Ele se serve também, e passeia o dedo pela boca da taça de vinho.
— Ah, sim! Como o que? — Já consigo sentir um efeito leve do vinho, sou fraca demais para bebida.
Ele começa a rir de novo e fica vermelho, eu arqueio minha sobrancelha e o vejo mordendo o lábio. É melhor não questionar.
Por muito tempo ainda nós dois ficamos conversando. Eu me garanti de não chegar ao ponto de ficar bêbada, mas ri muito, gargalhei hoje a noite. No fim da noite ficamos trocando as piores cantadas que tínhamos em mente, e não me surpreende nada saber que ele é o tipo que pergunta se alguém caiu do céu. Foi um jantar muito divertido, eu tenho que admitir.
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No reservations.
RomanceA vida de Pepper, uma chef controladora e meticulosa, sofre uma reviravolta quando sua irmã morre em um acidente de carro e sua sobrinha vai morar com ela.