Capítulo 2.

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Acordando, percebo pequenos olhos que me observavam, Zoe já está acordada. Ela com certeza já imagina o que aconteceu.

— Onde está minha mãe, tia Pepper? – Me pergunta com o olhar apreensivo, brilhante, e a voz quebrada. Senti algo quebrando em mim também. — Ela morreu, não foi? – Quando Zoe começou a chorar, fiquei tão perdida nos sentimentos penosos que me invadiram, que não percebi que estava chorando também.

— Infelizmente sim minha pequena, de agora em diante seremos só nós duas... – Digo quase num sussurro, ao me recuperar, então seguro sua mão tentando de algum modo confortá-la.

Zoe me olhou parecendo tão indefesa quando confirmei o que pensava, que não pude evitar abraçá-la, tentando de algum modo absorver sua dor. Acariciei seu rosto, repeti que tudo ficaria bem até que ela cansasse de chorar; não sei quantos minutos se passaram mas eles não pareceram longos. Quando as coisas se acalmaram, ficamos num silêncio empático, no fundo ainda processando tudo isso. Um médico apareceu na porta do quarto não muito depois, com uma normalidade de rotina que eu, com tristeza, estranhei. Ele veio para dar alta a Zoe, e também para me entregar alguns papéis de adoção deixados pelo serviço social; logo que chegasse em casa revisaria tudo, para assinar.

O caminho de volta para casa foi no mínimo delicado, Zoe estava com medo de entrar no carro, medo de algo acontecer novamente, eu tive que lhe prometer que nada aconteceria mesmo que eu, internamente, tivesse esse mesmo medo. Ainda assim ela quase não entrou no carro, tê-la que convencer a isso me esgotou mais do que esperava.

Chegando em casa eu mostrei todo o apartamento para ela, ficou um pouco acanhada, se nota de longe que não está nem um pouco confortável com a ideia de morar comigo. Pelo contexto, é claro que entendo muito bem ela.

— Querida, o que você quer comer?

— Eu posso só ir para o meu quarto? - Me pergunta com uma voz baixa e calma. Arqueio uma das minhas sobrancelhas e suspiro fracamente, assentindo em seguida.

— Pode sim. – Ela corre para o quarto.

Sozinha, relaxo minha postura e arfo indo para a geladeira tomar um copo d'água, depois de tudo que aconteceu, agora que me lembro do restaurante, preciso ir até lá. Vou até o sofá e com meu notebook, procuro o contato de alguma babá para Zoe, mas para a minha surpresa, ninguém viria atender assim tão tarde. A verdade é que não percebi o tempo passar... tenho que falar com a menina. Me dou mais uns dois minutos antes de levantar para encontrá-la.

Bato na porta duas vezes.

— Zoe, vou precisar ir para o restaurante, tudo bem por você, se ficar sozinha por algumas horas?

Demora a responder...

— Acho que sim.

A mesma voz quebrada de antes... não consigo de novo, não agora. Me afasto da porta agradecendo pela compreensão, e esfrego meus olhos antes de ir me arrumar, que ao menos o trabalho me ocupe para que não pense mais só nisso. Quando saio de casa peço para Killian, que tem dois filhos, para olhar ela quando puder, expliquei a ele a situação e pareceu entender imediatamente, disse que me ajudaria. Não preciso citar o alívio que senti com isso.

Chegando ao restaurante e vendo que ele está movimentado, imagino o caos em que a cozinha deve estar. Tudo isso parecendo outro mundo para mim, tão de repente, tão inesperada a estranheza que senti pelo calor do trabalho. Que me distraia, que me distraia! Vejo Maya enquanto caminho em direção a cozinha, e ela me segue.

Eu estava esperando uma rotina atarefada sim, mas de um modo produtivo e que me ocupasse; no lugar disso, quando entro lá vejo tudo o que não desejo, escuto uma música alta, e um cara completamente maluco cantando, dançando e comandando a minha cozinha! Sinceramente não faço ideia de quem ele é, não sei se é confiável ou até mesmo se cozinha bem, os cozinheiros parecem se divertir ao lado dele, mas pouco me importa. Quando o tal percebe minha presença vai com pressa parar a música.

— Você é Pepper Potts, estou correto? É um prazer enorme te conhecer, sou Tony Stark. – Ele vem até minha direção estendendo a mão para apertar a minha. Inocente.

— Está correto sim, mas posso saber o que está fazendo em minha cozinha?

Todos que antes estavam rindo e dançando estão agora estáticos, acho que ninguém imaginava que eu que fosse aparecer ali, estavam felizes sem mim.

— Querida Pepper, você irá dividir sua cozinha comigo. – O cretino me responde com um sorriso enorme, cheio de audácia, meu instinto é olhar incrédula para Maya, não é possível que depois de seis anos ela possa fazer isso comigo... foi o que acreditei quando me virei a ela esperando consolo, ela que acabara de sair da cozinha me deixando só. Como um ruído irritante em meu ouvido, escuto uma risada fraca do tal Stark, mas o ignoro completamente e vou atrás de Maya, já me preparando para com toda certeza ter uma discussão com ela.

— Como assim Maya!? Eu saio por um dia e você já contrata um maluco como esse? Já estava planejando isso? Está tão desesperada assim para me demitir?

— Não Pepper, claro que não, só não imaginei que você já fosse voltar hoje, você precisa se adaptar a sua nova vida, agora tem uma criança para cuidar. – Ela abre a porta da própria sala, me dando espaço para passar.

— Não coloque Zoe no meio disso, posso deixá-la com uma babá e vir trabalhar, ou posso simplesmente trazer ela.

— Você precisa dar uma chance, ele só tem uma metodologia diferente da sua, todos o adoram e com ele aqui você iria reduzir seu horário de trabalho, para ter mais tempo para sua sobrinha. – Ela revira os olhos e se senta na cadeira.

— Tudo bem Maya, mas se ele me irritar, está fora. — Saio da sala pisando forte, e sigo para a cozinha, mas paro antes de entrar.

Respiro fundo, controlo minha temperatura, é tudo uma questão de autocontrole, se eu não o ver, ele não existe. Entro com o pé direito na cozinha, o senhor, assim que me vê, dá um pequeno sorriso, de propósito, eu sei. Mas vou ignorá-lo por enquanto, até eu teria pena do coitado se resolvesse descontar tudo nele; novato. Começo a trabalhar.

Nunca prestei tanta atenção nos detalhes da cozinha quanto hoje, parece que quando se ignora a própria mente e também as pessoas ao redor, é fácil se atentar às marcas de uma frigideira. Enfim, não posso dizer que não foi um dia produtivo, apenas que me senti sozinha, talvez. Quando anoiteceu, o novato tentou puxar conversa comigo, de um modo curioso senti um prazer sádico ao ignorar, porém o clima na cozinha ficou um pouco tenso, tenho que admitir... bom, se não se acostumar, pelo menos vai embora logo.

Quando entrei no carro para voltar para casa eu estava nada menos que exausta, não posso dizer que a ideia do trabalho me desviar do luto não funcionou, mas me questiono se valeu a pena, ainda mais pensando no novo martírio que Maya me arrumou... Droga. Quando chego ao apartamento, ao meu quarto, Zoe está dormindo na minha cama, com a TV ligada e com um álbum de fotografias da família perto dela. Desligo a TV e guardo o álbum depois de dar uma olhadinha nele; cubro a menina e me deito, sem energia sequer para me trocar ou algo mais, esperei desmaiar de sono num instante, mas isso não aconteceu. Tudo voltou como um tornado de memórias assim que cogitei baixar a guarda. Não queria martelar no acidente na minha cabeça de novo e de novo, nem as responsabilidades e muito menos minhas perspectivas para o futuro. O que me restou para martelar então, fora o trabalho, como se estivesse melhor que os outros aspectos. Já imagino que lidar com aquele cara na minha cozinha não vai ser nenhum pouco fácil, se pelo menos fosse silencioso, ou só se não fosse piadista... e o pior de tudo é que o desgraçado ainda é bonito.

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Ooi gente! Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, comentem o que acharam.
Beijos❤️

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